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Exclusivo! Diretor da Air France-KLM aposta na reabertura da Europa para turistas ainda esse ano

Leonardo Cassol
06/10/2020 às 9:33

Exclusivo! Diretor da Air France-KLM aposta na reabertura da Europa para turistas ainda esse ano

A Air France e a KLM foram duas das poucas companhias aéreas internacionais que não interromperam os voos para o Brasil em nenhum momento durante a pandemia. E planejam aumentar a frequência de 20 para 26 voos semanais até o fim do ano. Será que o grupo acredita que estamos próximos da reabertura das fronteiras na Europa? O que acontece com quem tiver viagem marcada com as empresas e não puder embarcar? Será que os turistas brasileiros e europeus tiveram um comportamento diferente após o fim da quarentena? O que esperar para o futuro das empresas, da aviação e do turismo? O diretor comercial do grupo Air France – KLM, Seth Van Straten, respondeu a essas e outras perguntas do Melhores Destinos nesta entrevista exclusiva. Confira:

Seth Van Straten durante a entrevista por videoconferência

Melhores Destinos – A Air France e a KLM foram duas das poucas companhias aéreas internacionais que não interromperam os voos para o Brasil na pandemia. Como isso foi possível?

Seth Van Straten (Air France – KLM) – Não tem segredo! Você tem que ter claro qual é a sua estratégia e seu foco. O Brasil e a América do Sul são dois mercados estratégicos e bem consolidados para o nosso grupo. Temos uma ligação muito forte. E a pandemia não mudou a nossa estratégia. Nossos clientes sabiam e esperavam que nós estivéssemos lá quando eles precisassem. Seja voltar para casa, ou para se reunir com suas famílias neste momento difícil, transportamos milhares de pessoas durante a pandemia. Em março e abril fizemos muitos voos de repatriação para brasileiros e europeus e foi algo muito importante. Fora isso, temos transportado brasileiros com passaporte ou residência europeia e europeus que hoje podem ingressar no Brasil. Além disso, mantemos um papel fundamental além do transporte de pessoas, levando e trazendo suprimentos médicos, alimentos e cargas especiais.

MD – Atualmente as empresas mantêm juntas 20 voos por semana entre o Brasil e a Europa. Mas anunciaram que pretendem chegar a 26 voos até o fim do ano. O que deixou vocês tão confiantes? 

Straten – Sentimos a demanda por viagens de turismo aumentando a cada dia. O transporte de cargas também está em alta. Por exemplo, além dos voos comerciais de Amsterdã e Paris para São Paulo e Rio de Janeiro, e a partir de 16 de outubro entre Paris e Fortaleza, mantivemos 5 voos semanais exclusivos de carga para Viracopos durante toda a pandemia. Somos líderes e continuaremos sendo líderes aqui. Reafirmamos a nossa ambição pelo mercado brasileiro e pela América do Sul.

E eu também acredito que, em algum momento entre o fim de 2020 e os primeiros meses de 2021, nós teremos uma vacina. E isso vai aumentar a confiança das pessoas para viajar e dos governos para reduzirem as restrições às viagens. Gostaria de saber quando isso vai acontecer, mas não depende de nós. De fato, para a demanda se recuperar de verdade, as fronteiras precisam reabrir.

MD – Você acredita que estamos próximos da reabertura da Europa para o turismo de brasileiros?

Straten – Eu acredito fortemente que antes do fim do ano as fronteiras da União Europeia serão reabertas para estrangeiros de fora do bloco. O próximo passo, a meu ver, é os governos permitirem pessoas de qualquer nacionalidade viajarem, desde que comprovem com um exame recente que não estão infectadas com a Covid-19. Ou seja, com um teste negativo de PCR você deveria poder embarcar, não importando a sua nacionalidade. Creio que uma combinação de fatores que envolve a confiança nos testes, a experiência bem sucedida de alguns países e disponibilização de uma vacina irão mudar o cenário de restrição de viagens que vemos atualmente.

Existem vários estudos que demonstram que viajar de avião é muito seguro. Graças a todas as medidas e cuidados implementados pelo setor, como o uso o obrigatório de máscaras, a limpeza dos aviões e, principalmente, aos filtros HEPA, capazes de eliminar 99,9% dos vírus e bactérias e renovar totalmente o ar da cabine a cada 3 minutos, atingimos um patamar bastante elevado de segurança.

MD – Um brasileiro que quiser comprar uma passagem agora para viajar para a Europa nos próximos meses terá alguma flexibilidade caso as restrições de viagem permaneçam? Qual a atual política da Air France-KLM?

Straten – Nós temos oferecido flexibilidade desde o começo da pandemia. Mas estou especialmente feliz de poder dizer que atualmente temos uma das políticas mais flexíveis da aviação mundial. Hoje você pode comprar sua passagem e, se em qualquer momento mudar de planos, por qualquer motivo que seja, oferecemos remarcação sem multa. E, dependendo da data que você quiser remarcar, não cobramos sequer a diferença de tarifa (por exemplo, até dois meses depois do voo original).

Também oferecemos para todos os clientes a opção de um voucher eletrônico com até 15% bônus para quem quiser viajar até junho de 2021, caso a tarifa na nova data seja mais alta do que você pagou. Por fim, qualquer pessoa com qualquer bilhete pode solicitar o reembolso, se desejar. Se você não quiser remarcar, ou mesmo se optou pelo voucher, mas depois mudou de ideia, poderá ter o seu dinheiro de volta em 7 dias. Isso vale inclusive para o Brasil. Resolvemos facilitar a vida dos nossos clientes aqui e passamos a processar os reembolsos de passagens compradas recentemente sem contar com o prazo de 12 meses permitido pela lei.

MD – Você vê alguma diferença no comportamento do turista brasileiro e do europeu em relação à confiança em voar durante a pandemia? 

Straten – Em relação à confiança de voar eu não vejo grande diferença. No verão os europeus realmente voltaram a viajar e a demanda aumentou rapidamente. O que mudou agora é que estamos nos aproximando do inverno e tivemos uma nova onda de restrições de viagens. Com isso, a demanda diminuiu um pouco. No Brasil, os voos nacionais não chegaram a parar totalmente e agora assistimos a uma recuperação consistente e gradual da demanda. Creio que até o fim do ano o Brasil vai ver uma demanda forte por viagens domésticas. E, com a reabertura das fronteiras na Europa nos próximos meses, teremos uma enorme recuperação no mercado de viagens internacionais.

MD – O que você tem a dizer para as pessoas que estão com medo de viajar agora?

Straten – Somos companhias aéreas com, respectivamente, 87 anos (Air France) e 101 anos (KLM). E a segurança sempre foi a nossa prioridade número um. Analisamos estudos de instituições médicas e científicas e seguirmos rigorosamente as recomendações e protocolos para tornar as viagens ainda mais seguras para os nossos clientes e funcionários durante a pandemia.

Outras indústrias foram mais afetadas e tem até um pouco de inveja da aviação porque nós temos os fantásticos filtros HEPA. Essa tecnologia, aliada ao uso obrigatório de máscaras durante os voos, aos novos procedimentos de limpeza e ao distanciamento social nos aeroportos e áreas públicas oferecem um ambiente seguro. Mas, se mesmo assim, por algum motivo, você não se sentir seguro, não tem problema. Remarque sua viagem ou reembolse sua passagem. Nós respeitamos o seu desejo e queremos que se sinta confortável. Por isso, tornamos esse processo o mais fácil e simples possível.

Filtros HEPA de um avião da Air France

MD – O que mudou na jornada dos passageiros da Air France e da KLM no aeroporto, embarque e desembarque? Qual a diferença do serviço de bordo antes e depois da pandemia?

Straten – Muitas coisas. Em quase todas as cidades do mundo você vai precisar usar máscara para chegar até ao aeroporto. Lá, vai encontrar uma sinalização para manter o distanciamento social, álcool gel por todos os lados, além de funcionários protegidos e treinados para garantir proteção adicional. Na segurança, a mesma coisa.

Os restaurantes, lanchonetes do aeroporto, além de nossas salas VIP, também estão com novos protocolos e proteções de segurança. No embarque, temos um novo processo para evitar aglomerações. No avião, limpeza adicional de todas as superfícies que o passageiro possa tocar antes de cada voo, além do uso obrigatório de máscaras.

Nosso serviço de bordo foi adaptado. No início da pandemia ficou muito mais básico, mas agora está muito mais próximo do normal, mas com embalagens seguras e adaptadas e com uma menor interação com os comissários de bordo. Sempre que possível, também espalhamos os passageiros dentro do avião para distanciá-los.

Além disso, dependendo do seu destino, você precisa de um teste PCR para passar pela imigração. Hoje, quem viaja para Paris precisa, mas se for apenas fazer conexão lá, não. (Veja aqui todas as medidas de segurança adotadas pelo grupo em seus voos)

MD – As principais companhias aéreas do mundo estão se endividando fortemente para sobreviver a crise. A Air France, por exemplo, recebeu € 7 bilhões do governo francês. Essa conta não pode ficar alta demais e dificultar a recuperação das empresas nos próximos anos?

Straten – Sim, você está totalmente certo. Deixe me começar dizendo que estamos felizes e orgulhosos por termos recebido 7 bilhões de Euros do governo francês e 3,4 bilhões do governo holandês. Nós precisávamos muito desse dinheiro para atravessar a crise. É importante destacar que isso não foi um presente. São empréstimos, com juros elevados e condições relevantes para as empresas. Teremos que mostrar que estamos reestruturando as empresas para reduzir custos e sermos mais sustentáveis. E, apesar de nós já sermos sustentáveis (quando olhamos o índice de sustentabilidade da bolsa Dow Jones estamos sempre entre as três primeiras posições), temos oportunidade de avançar mais. As companhias aéreas do mundo inteiro precisarão de recursos para se financiar em meio à pandemia. E, para pagar essa conta, a indústria precisará ser mais eficiente e sustentável no futuro. Vamos ter que trabalhar duro para isso!

MD – Enquanto a aviação lida com os estragos causados pela pandemia, o governo francês quer implementar já em 2021 uma taxa ecológica que deve encarecer as viagens de avião. Que efeitos essa medida pode provocar?

Straten – Eu acho que a ideia de uma taxa ecológica faz sentido. A questão é como fazer isso e quem vai utilizar esses recursos. Apenas cobrar uma taxa vai deixar os bilhetes mais caros, porque teremos uma taxa a mais para o governo e não vai resolver a questão. Isso significa o governo cobrando mais impostos de quem voa, o que não vai ajudar as companhias aéreas a se tornarem mais sustentáveis. Nossa sugestão é o dinheiro obtido com essa taxa ser usado de forma mais inteligente, sendo reinvestido pelo próprio setor para se tornar mais sustentável.

Além disso, é bom ver os governos francês e holandês liderando esse processo da taxa ecológica. Mas, na minha visão, é fundamental que isso seja implementado na União Europeia como um todo. E não apenas nesses dois países. Do contrário, teremos uma desigualdade que vai impactar duramente o turismo e as empresas apenas nesses dois países. Por exemplo, o passageiro que atualmente tem a opção de viajar para outros países passando pela França ou pela Holanda, mas também pela Alemanha ou pela Espanha, não pode ser punido simplesmente pelo fato de existir uma taxa ecológica que encarece sua passagem. Novamente, não somos contrários à ideia, mas queremos discutir como implementar isso de uma forma eficiente e gere os resultados esperados.

Desinfeção do check-in no aeroporto de Paris

MD – Quais mudanças você vê no setor e nos passageiros por conta da pandemia?

Straten – Já dá para ver claramente algumas tendências. A primeira delas é a completa digitalização do setor. Com todos evitando tocar coisas, os processos de digitalização avançarão rapidamente. Hoje você não precisa tocar em quase nada para entrar num avião, obtendo seu cartão de embarque pelo celular. Acredito que num futuro próximo o controle de passaporte e a segurança dos aeroportos serão feitos com o auxílio de scanners automáticos. O embarque será feito por biometria facial, sem cartão de embarque, bastando olhar para uma câmera.

A segunda tendência é uma valorização da comunicação direta das companhias aéreas com os clientes. Por conta dos problemas da pandemia, como cancelamento e mudanças de voos, os clientes precisaram de mais suporte das empresas. E esses processos devem melhorar para permitir aos viajantes o controle da sua jornada, do que pagaram e pelo que pagaram. Novos tipos de bilhetes serão criados, onde o cliente vai escolher quanta flexibilidade e que tipos de opções ele quer.

A terceira tendência é a sustentabilidade. No mundo, mas especialmente na Europa, é algo que está crescendo rápido. Estamos felizes de liderar essa discussão na indústria, por uma aviação mais sustentável.

Analisando os passageiros, ainda não podemos afirmar que há mudanças permanentes. De um lado, se fala das reuniões profissionais acontecerem cada vez mais remotamente. Mas de outro, especialmente nos últimos meses, muitos clientes nos falam que não veem a hora de voltar a viajar. Hoje temos menos viajantes a negócio, mas não sei se isso vai se manter após o fim da pandemia. As pessoas gostam de viajar, de ter contato pessoal, de fazer novas descobertas e conhecer novos lugares. A primeira onda é de viagens a turismo, mas eu acredito na retomada das viagens corporativas.

MD – Já dá para ter uma ideia de como será o grupo Air France-KLM após a pandemia?

Straten – Infelizmente, seremos menores do que antes da pandemia. Tivemos que dizer adeus a parte de nossos dedicados funcionários. Graças ao poder do grupo, à enorme conectividade e aos nossos clientes fiéis, pudemos continuar voando e estamos sendo um dos grupos a se recuperar mais rápido. Já retomamos uma boa parte dos nossos destinos. Acredito que até 2023 ou 2024 poderemos ver níveis de demanda próximos ao de antes da pandemia. Mas isso tudo vai nos tornar mais fortes. Com o apoio de todos vamos voltar a crescer.

MD – Temos alguma chance de ver uma parceria do programa de fidelidade Flying Blue com um banco brasileiro?

Straten – Nós temos atualmente uma parceria com a Livelo. De fato, não temos um cartão de crédito co-branded com um banco brasileiro, nem parcerias com outros programas. Mas posso dizer que estávamos trabalhando nisso no começo deste ano e tivemos que interromper por conta da pandemia. Não posso prometer, mas é algo que está nos nossos planos.


Agradecemos ao Seth Van Straten pela entrevista e por compartilhar sua visão da aviação no Brasil e no mundo e os planos desse gigante grupo para o futuro.

Seguimos torcendo pela melhoria da situação da pandemia no Brasil e no mundo, pela reabertura das fronteiras e por boas promoções de passagens aéreas.

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