Estive no caos em Congonhas: o que fazer nessa situação e onde o setor precisa melhorar
Estive no caos em Congonhas: o que fazer nessa situação e onde o setor precisa melhorar
No último domingo (9), o Aeroporto de Congonhas, um dos três mais movimentados do Brasil, ficou fechado para pousos e decolagens das 13h35 às 22h18, após um pequeno jato executivo derrapar na pista. O resultado foi o cancelamento ou atraso de centenas de voos, impactando diretamente milhares de passageiros em diferentes partes do Brasil.
Eu estava lá. Eu tinha um voo de São Paulo para o Rio de Janeiro naquela tarde. E o que testemunhei foi muita falta de informação e uma grande dificuldade das empresas aéreas e da administração aeroportuária em lidar com a contingência em função desse evento adverso.
A primeira informação divulgada pela Infraero logo após o incidente foi que a pista seria liberada dentro de uma hora… O resultado? Passageiros foram mantidos dentro de aviões por duas horas, na expectativa da liberação da pista. As companhias aéreas seguiram realizando normalmente o check in e o despacho de bagagem dos passageiros nas horas seguintes ao fechamento da pista e o saguão do aeroporto foi ficando cada vez mais cheio.
O curioso é que, conversando com os passageiros, percebi que a maioria sequer sabia que o aeroporto estava fechado e que tinha acontecido algum problema. Eu mesmo só descobri porque perguntei na entrada da sala VIP se o aeroporto estava fechado por causa da chuva e a atendente me contou que um avião tinha derrapado e estava interditando a pista…
Por volta das 16h, eu ainda via centenas de pessoas perdidas, olhando para as telas do aeroporto comentando “ainda não definiu o portão, vamos aguardar aqui…” Mal sabiam que a espera duraria muitas horas, até o cancelamento dos voos.
Eu já passei por muitos perrengues e fechamentos de Congonhas antes. Do caos aéreo, ao acidente do voo 3054 da Latam, passando por dezenas de situações climáticas. E essa experiência me ajudou a saber o que fazer e o que não fazer em situações de disrupção.
Logo que eu soube o que tinha acontecido, dada a gravidade do evento, agi para mudar meu voo para o Aeroporto Internacional de Guarulhos, relativamente próximo da capital paulista. Consegui vaga um voo de Guarulhos para o Aeroporto Santos Dumont às 20h20. Peguei um voucher de táxi com a companhia aérea e fui embora dali. Se não conseguisse o voucher, iria por conta própria. Ajudei algumas pessoas que encontrei pelo caminho, orientando a não contar com a reabertura rápida da pista.
Chegando a Guarulhos, ainda consegui antecipar meu voo de 20h20 para 18h25. Eu percebi que vários voos começaram a atrasar por falta de tripulação (muitos tripulantes chegam em voos vindos por Congonhas) e queria sair dali o mais rápido possível. E deu certo. Por volta das 19h50 eu pousei no Rio de Janeiro são e salvo.
SUSTO EM CONGONHAS ✈️ • Pneu de avião estoura durante pouso no Aeroporto de Congonhas e deixa pista interditada. O fato ocorreu por volta das 13h deste domingo, 9, na avenida Washington Luís, em Vila Congonhas, na zona sul de São Paulo. pic.twitter.com/CFlsBuZ2FS
— Rádio BandNews FM (@radiobandnewsfm) October 9, 2022
O que podemos melhorar no Brasil em casos de contingências?
Primeiramente, acho que todos esperavam por uma retirada mais rápida da aeronave em Congonhas. Não foi a primeira vez que passamos por uma situação semelhante. Em 2012, um avião cargueiro interditou a única pista de Viracopos, fechando o aeroporto de Campinas por três dias, afetando milhares de passageiros. No mesmo ano, um avião da Latam fez um pouso de emergência em Confins e parou o aeroporto por 21 horas. Em julho de 2022, um táxi aéreo interditou a pista do Aeroporto de Belém e um pneu estourado interditou a pista do Aeroporto de Belo Horizonte.
A grande diferença que vejo no Brasil, quando comparo com situações semelhantes que vivi nos Estados Unidos, país mais acostumado a lidar com eventos de natureza adversa por conta do clima, é a qualidade da informação prestada ao passageiro e postura das companhias aéreas diante da disrupção.
No Brasil, como regra geral, as companhias aéreas tentam manter o passageiro preso no aeroporto. Vão cancelando os voos pouco a pouco, mesmo sabendo que a situação já inviabiliza as operações nas próximas horas.
Tudo bem que ninguém sabia ao certo a hora que o aeroporto iria abrir. Mas, justamente por isso, em situações assim, na minha opinião, seria importante:
- Informar claramente aos passageiros qual é a situação do aeroporto e se há ou não previsão de normalização dos serviços;
- Liberar imediatamente passageiros voluntários que não tenham urgência de embarcar para que remarquem suas viagens para outra data sem custo;
- Facilitar a remarcação das viagens em situações de contingência pelo site, app ou central de atendimento. Sem nos obrigar a ficar em enormes filas no aeroporto;
- Fornecer voucher de alimentação, transporte e hospedagem eletronicamente, quando couber, evitando também filas desnecessárias;
- Concentrar o atendimento no aeroporto para pessoas que precisam viajar com urgência, idosos ou quem está com crianças pequenas.
A Latam até chegou a emitir um comunicado permitindo a alteração de viagens nos dias 9 e 10 de outubro, mas já bem tarde, às 21h. A Gol, então, nem se fala, só se manifestou oficialmente na segunda-feira pela manhã, quando o caos já começava a se dissipar. O resultado? Passageiros aguardando por até 5 horas em filas intermináveis…
Passageiros com voos domésticos com origem, conexão ou destino em Congonhas – São Paulo, dias 09/10 e 10/10, têm flexibilidade de postergar ou cancelar suas viagens sem custo podendo remarcar ou pedir o reembolso integral sem cobrança. pic.twitter.com/wLLRz1jvmk
— LATAM Brasil (@LATAM_BRA) October 10, 2022
Como eu comentei, eu vivi situações nos Estados Unidos onde a companhia aérea me mandou um SMS doze horas antes do voo alertando: “Há uma situação climática adversa na sua região e o seu voo está cancelado! Não venha para o aeroporto! Conseguimos oferecer as seguintes opções de acomodação para você: […] Caso se interesse por alguma delas, basta selecionar e confirmar. Se nenhuma opção lhe atender, entre em contato com o nosso atendimento mais tarde, pois agora o serviço está congestionado”. Com isso, eu desisti de seguir para o aeroporto e fui um passageiro a menos a evitar que o caos se instaurasse.
Eu acredito que existem ferramentas e boas práticas já testadas e com eficácia comprovada para lidar de forma mais eficiente com eventos dessa natureza. E que talvez haja espaço para regular melhor a responsabilidade pela retirada de aeronaves da pista em casos semelhantes, bem como penalidades para atrasos que prejudiquem a operação aeroportuária.
Além disso, os aeroportos e companhias aéreas deveriam ser obrigados a informar nos televisores e alto falantes dos aeroportos se o terminal opera com restrições ou se encontra fechado.
Vale destacar que a operação aérea é um serviço essencial para milhões de pessoas que se deslocam para compromissos pessoais, profissionais, tratamento médico e também em viagens de lazer.
O que fazer em situações de fechamento do aeroporto por longos períodos
- Se puder, adie seu voo – Se for possível adiar a sua viagem, procure logo a companhia aérea e solicite a mudança de data sem custo para o dia seguinte ou outra data de sua preferência (tente pelo site ou ligue para a central de atendimento se o balcão do aeroporto estiver lotado). Também é possível pedir o reembolso integral;
- Busque outro aeroporto – Se tiver urgência em viajar e houver um aeroporto próximo, como existe em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, verifique se a operação está normal no outro aeroporto, se há voos disponíveis, e solicite a mudança sem custo.
- Conheça seus direitos – Se o seu voo tiver cancelado ou com atraso superior a 4 horas você também terá direito a um voucher para o transporte e alimentação. Além disso, nesses casos se aplica também a acomodação em voos de outras empresas ou o reembolso integral;
- Decida rápido! Geralmente há poucas vagas em voos de outros aeroportos ou para o dia seguinte. As vagas para acomodação em hotéis também não são infinitas. Então, quem é atendimento primeiro consegue os melhores voos ou ficar hospedado mais próximo do aeroporto.
- Seja educado com os funcionários das companhias aéreas. Eles não têm culpa pela situação que estão vivendo e ficam muito sobrecarregados em situações de contingência. Brigar só vai piorar a situação de todos.