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Exclusivo: Itapemirim Transportes Aéreos terá 3.000 voos por mês para 17 cidades brasileiras!

João Goldmeier
09/12/2020 às 9:22

Exclusivo: Itapemirim Transportes Aéreos terá 3.000 voos por mês para 17 cidades brasileiras!

Criar uma nova empresa aérea já é um enorme desafio em tempos normais. Agora imagina durante uma pandemia, sendo parte de um grupo empresarial que está em recuperação judicial? Este foi o desafio aceito por Tiago Senna, Presidente da Itapemirim Transportes Aéreos (ITA), do Grupo Itapemirim, que vai começar a voar em 1° de março. A novata garante que chega para ser uma das quatro grandes companhias aéreas do Brasil e que terá 3.000 voos por mês para pelo menos 17 cidades já em 2021. Saiba mais sobre a ITA e seus ambiciosos planos nesta entrevista exclusiva.

Melhores Destinos (MD): O que os brasileiros podem esperar da ITA?

Tiago Senna: Nós vamos entrar no mercado para ser uma das quatro grandes companhias aéreas nacionais. O Brasil tem espaço, precisa só trabalhar bem. 

MD: Como está o trabalho de criação da empresa? O que já foi feito e o que está em andamento?

Senna: Estamos trabalhando duro! Nosso objetivo é começar a voar 1º de março de 2021. Pode haver uma flexibilização, caso tenha algum imprevisto, mas hoje estamos dentro do cronograma para esta data, focados na seleção dos tripulantes, na preparação das aeronaves e nos trâmites burocráticos.

Tiago Senna durante a entrevista, realizada por videoconferência

MD: Logo que a ITA foi anunciada, houve rumores de que haveria classe executiva em voos domésticos e aviões com configurações de baixa densidade. Isso é economicamente viável? Vai se concretizar? 

Senna: Não, não, é bom explicar bem: nós não vamos ter classe executiva em voo doméstico. Sabemos que isso não funciona. Apesar do Brasil ter uma dimensão continental, o passageiro brasileiro não tem o perfil de pagar por esse serviço. Além disso, pra gente não faria sentido diminuir muito a densidade de 180 assentos, que é o padrão de um Airbus A320, pois perderíamos rentabilidade.

O que nós vamos fazer é trabalhar com duas classes, uma Classe Comfort, com 9 fileiras e pitch (distância entre a poltrona e a fileira da frente) de 34″, e uma classe econômica com pitch de 31″. Nós vamos trabalhar com 168 assentos por avião. Obviamente, a comfort vai ser um pouco mais cara, mas hoje todas as empresas já monetizam as poltronas com mais espaço.

MD: Além do espaço maior entre as fileiras, a Classe Comfort terá algum outro diferencial?

Senna: Não, o diferencial é mesmo o conforto (espaço). O dono da empresa, Sidnei Piva, faz questão absoluta que todos os passageiros tenham o mesmo tipo de serviço e que sejam bem atendidos. Então, nosso serviço vai ser diferenciado para todos os passageiros. O que estamos estudando são diferenciais para os passageiros da Classe Comfort nos aeroportos e no embarque.

MD: E na parte de entretenimento, o que podemos esperar? 

Senna: Devido à pandemia, muitas companhias aéreas estão devolvendo aeronaves. Mas, apesar do excedente, está sendo difícil conseguir esses aviões. São aeronaves devolvidas sem plano de manutenção, em vários lugares do mundo, além de muitas exigências. O que conseguimos com os lessores (empresas de leasing de aviões) foram aviões que eram de empresas low-cost, sem nenhum tipo de entretenimento de bordo. Então, estamos trazendo essas aeronaves e vamos utilizá-las com um sistema stand alone, onde ofereceremos streaming com conteúdo em vídeo e músicas que os passageiros poderão acessar através dos seus próprios dispositivos móveis, seja laptop, tablet ou smartphone.

Futuramente vamos avaliar oferecer internet wi-fi, porque não depende só da vontade da empresa. Teremos que negociar com lessores, porque para botar uma antena de internet você tem que furar o avião, fazer modificações que exigem autorização do proprietário da aeronave. Essa negociação vai ocorrer, temos isso planejado, mas não teremos tempo hábil para fazer isso até a nossa estreia.

MD: O que o passageiro pode esperar do serviço de bordo? Vocês vão mesmo servir comida e bebidas alcoólicas? 

Senna: Sairemos com um serviço de bordo diferenciado. Porém, dependemos de autorização da Anvisa, por conta das restrições causadas pela pandemia. Esperamos que a vacina seja eficiente e que em março tenhamos autorização para começar com um serviço de bordo pleno.

Pretendemos servir comida, obviamente não comida quente, mas opções diferenciadas e não apenas snacks. Acho que snack, amendoim, batata e barra de cereal, ninguém aguenta mais. Existem opções melhores e mais saudáveis. Em certos voos, certas rotas, vamos oferecer uma bebidas alcoólicas como cortesia, que antigamente existia sem restrições. A proposta é oferecer uma cortesia para que o passageiro tenha seu final do dia, seu happy hour, mais relaxado. Nós não podemos querer ter receita positiva inventando muito. Mas podemos diminuir um pouco a nossa margem para que o passageiro tenha esse serviço diferenciado.

MD: A empresa vai mesmo começar a operar com 10 aviões Airbus A320? O que você pode falar sobre as primeiras cidades atendidas e o voo inaugural?

Senna: Vocês sabem que malha a gente tem que esconder a sete chaves. Nós vamos trabalhar 3 hubs (centros de distribuição de voos), que são Guarulhos, Confins e Brasília. Outra coisa certa é que vamos operar no Galeão também. Congonhas e Santos Dumont seria estupidez dizer que não temos interesse a médio prazo. Mas num primeiro momento, não, até porque os Airbus A320 que estamos trazendo não podem pousar no Aeroporto Santos Dumont, pois não têm motores LEAP (para esses motores a Airbus tem a opção do pacote SHARP – Short Airfield Package – desenvolvido para permitir pousos e decolagens em pistas curtas). Teríamos que trazer um A319 ou um A320 certificado.

Já temos definidos 17 destinos iniciais para a ITA. Vamos ter uma média de 3.000 voos por mês. E o voo inaugural será de Vitória para Guarulhos. Escolhemos Vitória para começar, pois a sede do grupo Itapemirim fica no Espírito Santo e recebemos um apoio importante do governo de lá. Mais do que isso só iremos divulgar perto do início dos voos. 

MD: Você mencionou dificuldades para conseguir aeronaves. O que aconteceu?

Senna: O que acontece é que o mercado está bem volátil, sem liquidez. Se você parar pra pensar, quando você faz um leasing operacional, o lessor toma um risco. E estamos falando de aeronaves que têm o valor de 30, 40 milhões de dólares. O avião é o ativo da empresa. Então, ela precisa de uma garantia. E os bancos pararam de tomar risco por conta da pandemia. Então, você não tem crédito no mercado, crédito hoje é uma das coisas mais difíceis. É muito difícil conseguir uma carta de crédito. Sem isso, a exigência é um depósito garantia, geralmente de duas ou três locações, o que no universo da aviação é muito dinheiro. Essa foi a principal dificuldade, mas fizemos um bom trabalho, temos um diretor financeiro competente, que junto com o nosso time jurídico estão conseguindo equacionar essas dificuldades.

MD: Então os 10 Airbus A320 iniciais que foram anunciados já estão resolvidos?

Senna: Sim, todos eles já estão negociados.

MD: Em uma live recente você mencionou o interesse em voos internacionais para países próximos, como Argentina e Uruguai. Já o CEO do Grupo, Sidnei Piva, falou numa entrevista em voos para os Estados Unidos e a Europa. A ITA já tem planos de voar para o exterior?

Senna: O Sidnei é o dono da empresa. Então, ele me pede para fazer essas avaliações e obviamente eu tenho por obrigação realizar os cálculos, analisar a demanda e a viabilidade. Ele quer sim, no futuro, ter voos internacionais. Mas hoje todos nós sabemos que os voos internacionais são os que mais sofreram com a Covid-19. Provavelmente essa demanda continuará impactada por um bom tempo.

Eu acredito que no futuro vamos analisar a possibilidade de voos internacionais. Mas isso virá da demanda. No momento, seria muito precipitado. Isso não está no meu plano de negócios atual. Não tenho sequer um estudo de demanda para voos internacionais. Nosso foco será o doméstico e o que eu chamo de internacional doméstico (países próximos como Argentina ou Chile), que os jatos A320, A321 conseguem fazer. A intenção é trazer o NEO (as versões mais modernas e eficientes da família Airbus A320) no futuro. Aí teríamos condição de voos um pouco mais distantes, de explorar um pouco melhor as rotas internacionais. Mas não agora.

MD: Mesmo antes da pandemia, o setor aéreo brasileiro apresentou resultados negativos bilionários nos últimos anos por conta do aumento dos custos e da oferta de voos. A ITA está suficientemente capitalizada para entrar nesse mercado?

Senna: A pandemia nos trouxe uma oportunidade de entrada. As companhias aéreas que estão aí são empresas grandes, com 8, 10 mil funcionários, 150 aeronaves no pátio, custo fixo alto. A maioria das obrigações é em dólar e as receitas em real. Com a queda da demanda, elas começaram a absorver dívidas e o endividamento foi muito grande. A Itapemirim vai entrar no mercado adequada ao tamanho da demanda. Hoje, mesmo no meio da Covid, com a quantidade de voos que as congêneres estão disponibilizando, a ocupação dos voos gira em torno de 85%, 90%. Eu vou entrar enxuto, com uma tarifa competitiva, então se eu tiver 80% de ocupação eu estou no lucro. Para não ter prejuízo eu preciso de uma ocupação de pelo menos 55%. Ou seja, existem oportunidades!

MD: Você comentou em outras entrevistas que a ITA seria uma low-cost (baixo custo), porque todas são, mas não uma low-fare (tarifa baixa). Qual será a política de preços da empresa?

Senna: Todas as empresas são low-cost. Sem isso o cara é um péssimo administrador. Mas minha intenção não é iniciar uma guerra tarifária. Acho isso extremamente prejudicial ao mercado. Quem faz guerra tarifária, quebra. Seja hoje, ou daqui a 10 anos, um dia vai quebrar, porque você vai acumulando dívidas. É melhor voar com a aeronave mais vazia, com um yield (retorno de cada passageiro por milha voada) melhor, do que sair com o avião cheio e um yield baixíssimo, tomando prejuízo.

Eu não enxergo o mercado como uma competição, eu enxergo o seguinte: eu vou colocar um produto com um valor agregado. Não vou brigar no preço. Eu gosto muito de matemática e de estatística. Em qualquer negócio, a matemática supera o feeling, supera qualquer outra coisa. Se você pegar a série histórica de ocupação de todas as companhias aéreas nos últimos cinco anos, vai ver que houve um crescimento gradativo da ocupação dos voos. Em 2019, por exemplo, a empresa que voou com menos passageiros teve ocupação média de 82%, dados da ANAC. Significa que todo mundo está voando cheio. Numa ocupação dessa magnitude, estatisticamente, está havendo overbooking em alguns voos. Ou seja, tem ficando gente no chão. Se a gente entra em ferramentas de origem e destino, têm várias origens e destinos que não estão sendo atendidos, destinos que o passageiro só chega com conexão, onde você literalmente tem demanda. Então, pra crescer de forma organizada e sustentável, basta respeitar os números e oferecer um bom serviço.

Agora, se o concorrente quiser vender a R$ 90 uma passagem de Guarulhos para Brasília, parabéns, que venda! Eu vou vender a um valor justo. E tenho certeza que vou ter o passageiro. Se ele conseguir vender a R$ 90 com uísque, eu mesmo vou no avião dele, não vou nem no meu (risos).

MD: Então quer dizer que a rota Guarulhos-Brasília vai ter uísque?

Senna: Não sei, eu estou dando só um exemplo (risos).

MD: O fato do Grupo Itapemirim, controlador da ITA, estar em recuperação judicial no Brasil, não afeta a ITA Linhas Aéreas? Não torna a sua missão mais difícil?

Senna: O Grupo Itapemirim é uma holding com 14 empresas. Temos algumas em recuperação judicial, mas a ITA Transportes Aéreos não é uma delas. Então, isso não afetou, porque você não traz a recuperação judicial para a companhia aérea. A Itapemirim está rigorosamente em dia com o pagamento das obrigações da recuperação judicial e trabalhando para sair dela. A pandemia adiou alguns planos, mas está tudo sendo equacionado com os credores e com a justiça. Não acredito que teremos problemas.

MD: O Grupo Itapemirim tem uma grande presença no transporte rodoviário. Há um plano de integração entre os modais? Por exemplo, será possível o passageiro pegar um ônibus da Itapemirim em uma cidade combinada com um trecho de avião para chegar ao destino final?

Senna: Esse é o desafio colocado pelo dono da empresa. Tanto o CEO do setor rodoviário, como eu, estamos trabalhando todos os dias para conseguir criar uma malha coerente, onde haja integração e sinergia entre os modais. O grupo possui 65 garagens no Brasil, 700 pontos de venda e 2.700 cidades atendidas. Então, tem muito lugar pra alimentar nossos voos. Sabemos que tem passageiro que sai de uma cidade do interior para uma capital e que poderia passar por um aeroporto que a gente pretende servir. Até o preço da passagens, às vezes, é mais alto de ônibus do que no avião. Então, a intenção é fazer essa integração, não só de passageiros, como também de carga.

MD: Os programas de fidelidade se tornaram negócios rentáveis na aviação, que muitas vezes ajudam a gerar caixa para as companhias aéreas. A ITA vai ter seu programa de fidelidade? Como ele será?

Senna: Estamos construindo o programa de fidelidade agora. Trabalhamos com empresas especialistas no setor. Não tenho os detalhes definidos, não saberia dizer quais seriam as regras, mas vai ter sim. Já tem até nome, inclusive, mas não posso revelar. Quando fizermos a apresentação oficial da empresa, nós vamos trazer todas essas informações.

Eu posso garantir o seguinte: a ITA não vai pro mercado pequena. Ela vai pensando em ser uma grande empresa. Então, vamos ter programa de fidelidade, parceria com várias empresas, clubes de benefício. É uma empresa que entra pra se estruturar, desde o passageiro até a carga, com serviços diferenciados. Posso dizer que nós vamos surpreender. Quando eu aceitei o desafio de montar uma empresa em tempo recorde, no meio de uma pandemia, eu fui chamado de maluco. Antes de aceitar eu sentei com o dono da empresa, que durante uma semana me explicou todos os planos dele. É um cara visionário, enxerga muito longe e eu vi que o plano era factível. Montando uma boa equipe e tendo capital, não tem como dar errado. Óbvio que não temos ingerência a todas as nuances que permeiam o nosso mercado. Mas ninguém tem! Vamos fazer um bom trabalho e tenho certeza que ele será bem sucedido.


Agradecemos o Tiago Senna pela entrevista e desejamos sucesso à ITA Transportes Aéreos.

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