Doha, Catar: como foi nossa viagem ao país da Copa do Mundo 2022
Doha, Catar: como foi nossa viagem ao país da Copa do Mundo 2022
Estivemos em Doha, no Catar, país sede da Copa do Mundo em 2022, para conferir de perto um pouquinho dos preparativos deste que é um dos maiores eventos esportivos do mundo, além de conhecer mais sobre a cidade que será palco das partidas que podem trazer o hexa ao Brasil. Vem comigo que eu vou te contar tudo!
Sobre o Catar
O Catar é um pequeno país do Oriente Médio que corresponde a um emirado, ou seja, é um território sob o comando de um membro da classe dominante, o Emir. Ele fica na península arábica, na Ásia Continental, compondo uma área de aproximadamente 12 mil km², até o norte do Golfo Pérsico, fazendo fronteira com a Arábia Saudita.
O país funciona em regime de monarquia absolutista constitucional e, depois de uma série de conflitos bem sucedidos contra o império otomano, a família al-Thani ganhou o direito de governá-lo, concedido pelo país que havia conquistado o domínio da região, o Reino Unido. Em 1971, o Catar conseguiu a independência e tornou-se um estado soberano.
Embora seja hoje considerado um dos países mais ricos do mundo, o Catar já viveu tempos de escassez – quando era apenas uma vila que sobrevivia de pesca, garimpo de pérolas em águas rasas e tingimento de tecido. O país só começou a enriquecer depois da economia ser impulsionada pela exploração do petróleo. Hoje, a exportação deste produto e do gás natural correspondem juntos a 50% do PIB nacional. Com menos de 3 milhões de habitantes, apenas 20% da população é nativa e a maioria dos imigrantes é indiana – mas também há um volume grande de nepaleses, filipinos e paquistaneses.
O Islamismo é a religião oficial do estado e as leis são pautadas pelo Corão, o livro Sagrado dos muçulmanos. Com base nessas leis é que o comportamento da população é fiscalizado de maneira rígida, sob diversos aspectos, como em relação ao que vestir, comer e a forma de se relacionar.
Idioma no Catar
O idioma oficial é o árabe, mas como o país é quase todo composto por imigrantes, a maioria das pessoas fala inglês – embora o sotaque seja um pouco difícil de compreender, dá pra se virar bem. Agora, se você for ao Catar, e não tiver noção nenhuma, pelo menos da língua inglesa, é provável que vá sofrer um pouquinho. Por isso, confira o nosso post: Google Tradutor: dicas para aproveitar ao máximo nas viagens! Lembre-se que dá pra baixar as versões off-line dos dicionários caso você fique sem internet.
Falando em internet, eu te aconselho a contratar um pacote de internet internacional pela sua operadora no Brasil ou a comprar um chip online assim que chegar no Catar. No aeroporto é super fácil de encontrar. Embora os shoppings, cafés, restaurantes, museus e estações de metrô possuam internet gratuita, as ruas não – o que foi um baita de um choque para mim porque eu imaginava que para uma cidade como Doha isso seria básico, vai entender, né?
Nossa viagem a Doha
Nossa viagem começou no Aeroporto de Guarulhos, embarcando em um Boeing 777, da Qatar Airways – a única companhia aérea que opera a rota direta entre São Paulo e Doha. O voo direto é bem longo, foram 13h40. Mas, felizmente, o horário era ótimo! Decolamos à noite, saindo às 20h05 do dia 9, no horário de Brasília e chegando às 15h45, do dia 10, no horário de Doha – lá o fuso é de 6 horas a mais do que aqui.
Visto para o Catar
Eu possuía o Hayya Card, que é o visto específico para quem vai viajar ao Catar durante o período da Copa e ele foi pedido apenas no check-in aqui no Brasil. Lá no Hamad, o processo de imigração foi totalmente eletrônico, bastou escanear o passaporte e entrar. A minha credencial era de mídia e foi emitida diretamente pelo site da FIFA. Com sorte, eu não tive grandes problemas para receber a autorização de entrada no país, mas muitas pessoas, inclusive, alguns colegas que viajaram comigo, relataram dificuldades para conseguir o Hayya Card.
No caso dos turistas, até o final da Copa, só poderá emitir o Hayya quem apresentar o ingresso para assistir a algum jogo – mesmo que você esteja indo acompanhar uma pessoa, sem o desejo de ver uma partida, é obrigatória a apresentação do ingresso. O Catar ainda proibiu que passageiros com conexão em Doha saiam do aeroporto para dar uma voltinha na cidade… Ou seja: só entra quem realmente estiver indo para a Copa.
Qual dinheiro levar para o Catar?
A moeda local é o rial catarense. Eu viajei só com dólar físico e em uma conta de débito digital Wise, mas me arrependi de não ter trocado um pouco aqui no Brasil antes de embarcar, porque no centro da cidade poucos estabelecimentos aceitavam dólar e, por incrível que pareça, em lojas mais tradicionais, até cartões de crédito ou débito são pouco aceitos. Se você estiver a fim de explorar o comércio de rua ou lojas mais típicas, é bom ter a moeda. Mas se vai se concentrar nos pontos mais turísticos, cartões de crédito e débito funcionam bem, já o dólar em espécie é mais difícil de ser aceito.
Um dos meus colegas fez a troca no banco Safra aqui no Brasil: 1 rial saiu por 2 reais, já com a taxa de câmbio, na cotação daquele dia. Ou seja, sempre que nós pensávamos na conversão, era o valor da moeda local vezes dois – não tem havido muita variação, então essa é uma boa lógica.
Não é difícil encontrar uma casa de câmbio na cidade, elas estão disponíveis no aeroporto, no porto, em shoppings e até mesmo no mercado principal, o Souq Waquif. Mas não se esqueça: para trocar lá no Catar você precisa levar o dinheiro em dólar, não vai rolar trocar reais por rials.
Um dos problemas dessa moeda é que ela desvaloriza pra caramba quando você reconverte na hora de vir embora, por conta dos impostos de câmbio: primeiro para dólar e depois para real. Então, vai trocando aos poucos, conforme for usando.
Para quem troca no Banco Safra do GRU na ida, há a possibilidade trazer o dinheiro e apresentar a nota da primeira operação de câmbio para conseguir eliminar um dos impostos e até dar uma lucradinha com a conversão direta para real, mas isso precisa ser feito na mesma semana da primeira conversão para rial. Então, a maioria das pessoas não consegue aproveitar, porque é bem difícil que alguém faça uma viagem de ida e volta ao Catar dentro de uma semana. Mas, se esse for o seu caso, fica a dica!
Ahh, os atendentes informaram sobre essa possibilidade quando um dos meus colegas fez a primeira operação, mas esqueceram de dar esse “pequeno” detalhe sobre o prazo, rs. Então, se a sua volta for em outra semana, nem adianta se animar.
Chegada a Doha
Ao pousar no Aeroporto Internacional Hamad, tivemos a nossa primeira impressão e mal sabíamos que essa seria a que realmente nos acompanharia pelo resto da viagem! Luxo e tecnologia são os dois principais pontos por lá. As lojas de grifes caríssimas, as vitrines com joias enormes e toda a arquitetura grandiosa chamam atenção de quem passa pelo Hamad. Além disso, o terminal é bem sinalizado, os funcionários prestativos, além da excelente conexão à internet – o colega Leonardo Cassol já havia nos contado isso e não mentiu.
A minha experiência neste aeroporto só não foi ótima porque na viagem de volta eu estranhei um dos processos adotados por eles no embarque. Assim que o portão foi liberado, nós entramos em uma fila, onde uma funcionária alertava que ao passarmos para dentro da sala de embarque – que parecia um aquário de vidro – não poderíamos mais sair e ela ainda disse que lá dentro não havia banheiro. Dito e feito – eles não deixaram ninguém sair, mesmo com o voo atrasado. Eu achei bem bizarro, mas, enfim.
O calor do Catar
Ao sair do aeroporto, o dourado continuou sendo a principal cor que víamos, mas, desta vez, o que reluzia já não era mais o ouro nas vitrines das joalherias, mas sim, os raios de um sol que eu nunca havia visto e nem sentido em toda a minha vida! Sério, é muito quente! E olha que do meio de novembro ao final de março as temperaturas em Doha são um pouco mais amenas… Mas, não se engane, o que é ameno para eles, é bem quente para nós.
Enquanto eu estive na cidade a temperatura ficou na casa dos 32º, mas a sensação térmica era de 35º. De maio a outubro os termômetros podem bater até 50º por lá, já pensou viver assim? Nesses meses de calor intenso o comércio costuma fechar por volta das 10h e reabrir às 16h, porque caminhar na rua no meio do dia é completamente impossível. Em uma das nossas caminhadas, inclusive, encontramos policiais entregando garrafas de água para quem andava pela rua – se muita água e protetor solar já são importantes no Brasil, no Catar, é questão de sobrevivência.
E falando em quem anda pelas ruas, pedestres penam um pouco em Doha, mas é porque em dias normais eles não são muitos… A cidade é planejada para carros e as entradas das atrações turísticas não são nada acessíveis, a gente precisou dar voltas imensas em diversos lugares para conseguir chegar.
Transporte em Doha
Como você já deve ter escutado, o Catar é um dos países mais ricos do mundo em PIB per capita e isso fica bastante evidente na quantidade de carros de luxo que circulam pelas ruas da capital. Para se locomover sem carro por lá há alguns ônibus circulares gratuitos, que fazem translados partindo do aeroporto, do porto de Doha e do Souq Waqif o mercado principal, com algumas paradas pela cidade. Ah, o Uber também funciona bem e o preço é semelhante ao do Brasil – nós pagamos 25 rials (R$ 50) em uma viagem relativamente longa, cerca de 35 minutos.
Metrô em Doha
Uma das coisas mais curiosas de Doha é que eles construíram um metro só para a Copa do Mundo! São 3 linhas que ligam, principalmente, o aeroporto, o mercado principal, os estádios e os centros de treinamento. As estações são lindas, bem iluminadas e os trens também. Eu embarquei na estação próxima ao Souq e havia um adesivo com uma linha do tempo, mostrando todas as seleções campeãs e olha quem estava por lá!
Ainda há internet gratuita e até salas de oração para que aqueles que seguem o islamismo consigam realizar as preces diárias. Ahh, uma coisa bem legal é que quem tem o Hayya Card consegue andar de metrô de graça, é só passar o QR Code na máquina e embarcar. Quem não possui o Hayya precisa comprar o bilhete, o Single Journey vale para uma viagem, custa 2 rials, e o Day Pass, que vale para um dia inteiro, custa 6 rials.
O que fazer em Doha
A maioria dos restaurantes mais típicos, lojas de tecido e de lembrancinhas ficam no Souq Waqif, o mercado principal de Doha, que é também o ponto turístico mais movimentado. Ele é dividido em alguns setores, como o de restaurantes; lembranças, roupas e tecidos; ouro e pedras preciosas; temperos e especiarias e animais vivos (sim, você leu certo).
Além do Souq Waqif, Doha conta com alguns museus espalhados pela cidade. Nós visitamos dois, mas confesso que acabamos não entrando para observar o acervo interno porque o valor do ingresso era realmente um pouco alto: os dois museus onde fomos, o Museu de Arte Islâmica e o Museu Nacional do Catar vendiam as entradas a 100 rials (R$ 200) cada. No câmbio atual, isso custa cerca de 27 dólares – se pensarmos que a entrada para o Louvre custa 17 euros (U$$ 17,43), tá meio exagerado, não? Rs. Brincadeiras à parte, nós não tínhamos muito tempo para mergulhar nas obras, então optamos por não investir esse valor, mas se você vai com calma, parece valer a pena.
De toda forma, só o passeio pelas áreas externas dos museus já vale a pena. A varanda do Museu de Arte Islâmica, onde é permitida a circulação gratuita, tem uma das vistas mais incríveis do skyline da cidade – como a arquitetura dos prédios é incrível, somada ao azul turquesa do mar, formam uma paisagem de tirar o fôlego!
Já o Museu Nacional do Catar possui uma arquitetura futurista muito bonita. São arcos em tom de areia, que formam os prédios de maneira assimétrica. A entrada em algumas áreas fechadas é gratuita e vale a pena parar para aproveitar o Wi-Fi grátis e o ar condicionado. No fim do passeio, eles ainda possuem alguns carrinhos de golfe que levam os turistas até a saída – porque, embaixo do sol de Doha, qualquer metrinho vira quilômetro, viu? Os dois museus ficam na região do Corniche, uma espécie de calçadão beira-mar muito famoso, que leva até a região do West Bay, onde ficam os prédios da vista. Nós fomos a pé de um museu a outro, mas foi uma caminhada de uns 15 minutos embaixo de um sol escaldante.
Como eu disse, a extração de pérolas era antigamente uma das principais atividades econômicas de Doha. E essa foi a inspiração para a construção da The Pearl – uma ilha artificial de 4 milhões de m², onde fica uma mini cidade planejada, moradia de milionários. A ilha foi construída no formato de um colar de pérolas e tem dez bairros temáticos, um deles, inclusive, faz referência à cidade de Veneza, na Itália e tem até passeio de gôndola. Além dos condomínios residenciais, o The Pearl conta também com centro empresarial, restaurantes, marina e praias públicas.
Uma das atrações mais procuradas pelos turistas é o passeio pelo deserto do Catar. Infelizmente, não conseguimos fazer essa rota, mas a vontade foi grande! Há passeios rápidos de camelo ou veículos 4×4, mas a opção mais desejada é a de passar uma noite inteira, acompanhado de guias e de beduínos (povos que moram no deserto), dormindo em tendas e experimentando cada detalhe do local.
Além dessas opções, Doha ainda conta com alguns luxuosos shoppings, como o Villagio Mall, que simula Veneza (de novo!) e proporciona até passeio de gôndolas por 10 rials por pessoa.
Onde comer em Doha
Dependendo de onde você escolher comer, as refeições podem sair bem caras… Como eu fiquei hospedada em um dos navios da MSC, que está funcionando como hotel flutuante, a maioria das minha refeições estavam inclusas e eu acabei gastando pouco. Porém, em uma das nossas caminhadas pelo mercado, encontramos um restaurante que vendia uma garrafa de água por 9 rials (R$ 18) e um suco de laranja por 15 rials (R$ 30). Já as refeições individuais em restaurantes maiores iam de 40 rials (R$ 80) a 50 rials (R$ 100).
Mas, como bons viajantes exploradores, encontramos um lugar perfeito para comer bem e pagar pouco. Mesmo com o navio onde estávamos hospedados oferecendo opções típicas do Oriente Médio, nós estávamos curiosos e com vontade de experimentar a autêntica culinária local, em um restaurante que aparentasse ser frequentado pelos moradores da cidade. Foi quando passamos pelo Kebab Al Tayab, que também fica dentro do Souq e demos aquela espiada nos pratos alheios…
O mais engraçado foi que parte do grupo não gostou muito do que viu e outra parte – a que essa que vos escreve compunha – ficou com água na boca! Neste dia, estávamos fazendo um city tour guiado, então não rolava se descolar do grupo para comer por lá. Mas combinamos de voltar em um outro dia para almoçar e assim fizemos. Ouso, dizer, caro leitor, que esta foi uma das decisões mais certeiras que já tomei em toda a minha vida! rs
Que comida gostosa!!! E o melhor, super barata. Em Doha, onde tudo custa o olho da cara, achar um lugar assim realmente vale ouro! O Kebab Al Tayab tem mesas internas e externas, nós sentamos em uma externa e fomos prontamente atendidos e – muito bem atendidos, por sinal – por um dos garçons. O cardápio estava em árabe e em inglês e tudo aquilo que nós não sabíamos o que era, ele explicava.
Pedimos, então, uma indicação e ele sugeriu que experimentássemos um pouco de cada coisa. O nosso pedido foi um kebab grande – espetos de cordeiro, kafta e frango, assados e bem temperados, acompanhados de pão sírio e rúcula. Pedimos também o tzatziki (molho de iogurte e pepino) e homus (pasta de grão-de-bico). Os elementos vieram separadinhos e cada um montava o seu lanche.
Nós estávamos em cinco pessoas e foi suficiente para que todos ficassem satisfeitos. Toda essa comida, mais cinco garrafinhas de refrigerante, ficou em 120 rials (R$ 240) ou 24 rials por pessoa (R$ 48), o que foi um preço incrível! Então, se você for a Doha, não deixe de conhecer o Kebab Al Tayab para comer uma ótima comida típica e pagar barato.
Outra opção bem conhecida em Doha é o restaurante Yasmine Palace. Ele é muito famoso pela decoração, digna de uma palácio do Oriente Médio e culinária local. Ahh, e ele ganhou o prêmio Travelers Choice 2021, do Tripadvisor. Os valores por lá, no entanto, são mais salgados: a faixa de preço está entre 75 e 185 rials (R$ 150 e R$ 370).
Compras em Doha
As lojas de lembrancinhas no Souq são inúmeras! Eu paguei 10 rials (R$ 20) em cada imã de geladeira, mas as opções eram diversas e de todos os preços. Os lenços e tecidos variavam de 25 rials (R$ 50) a 60 rials (R$ 120), dependendo da qualidade – e muitos dos mais baratos vinham da Índia. Uma coisa que é bom ficar atento quando o assunto é souvenir é se realmente vale a pena, porque muita coisa é cara e nem é tão autêntica assim, invista em peças mais diferentonas!
Para aqueles que têm um pouco mais de “din din” na carteira, a cidade é repleta de lojas de joias, bolsas, roupas e perfumes de grife caríssimas, além dos carros mais luxuosos do mundo. Para você ter uma noção do nível, há propaganda de loja de diamantes dentro do metrô, rs.
Culturalmente, os catares/ catarenses, gostam de animais de estimação, em especial de pássaros. Sendo assim, o Souq possui uma área enorme só dedicada ao comércio desses animais. Há também coelhos e hamsters, mas o que mais chama atenção é a loja de falcões. Muitos moradores do país compram as aves e as tratam como nós aqui tratamos os cachorros, andando com elas na coleira. Os animais vestem ainda uma espécie de venda que impossibilita a visão para que não fujam.
Além dos animais que estão à venda, no mercado também há uma espécie de pasto de camelos. Os camelos são animais que, além de trabalharem para transporte no deserto, compõem uma parte da guarda real. Alguns deles são tratados e treinados no Souq, neste pasto, e podem ser observados pelo público. Eles acabam ficando presos pelo pé e alguns dos animais mais ariscos ainda ficam com uma esfera de ferro pesada, para que não saiam de um perímetro específico.
Cultura e religião no Catar
Como comentei, o Catar é um país onde vigora um regime absolutista teocrata, onde as normas e leis de governo são ditadas pelo Emir e pautadas pela religião. No caso de lá, a religião é o Islamismo. Assim como em qualquer outro país que visitamos, as normas e leis locais precisam ser seguidas, independente de concordarmos ou não. Sendo assim, alguns costumes que podem ser completamente normais para nós, por lá são considerados crimes e podem dar até cadeia, viu?!
As regras principais estão relacionadas às vestimentas e à forma de se relacionar em público. Por exemplo, os homens vestem-se com uma túnica branca, chamada Kandoora e usam alguns outros acessórios na cabeça. Já as mulheres muçulmanas costumam usar uma vestimenta fluida, que as cobre dos pés à cabeça, sem expor nenhuma parte do corpo – e o principal para elas é justamente manter o uso do hijab ou niqab em público, que são os véus que cobrem os cabelos.
Mas, em geral, esses costumes são válidos para os nativos, apenas para quem segue a religião islâmica. Lá no Catar nenhum turista é obrigado a andar trajado desta forma e nem as mulheres precisam usar o lenço. A regra para visitantes estrangeiros andarem na rua é apenas cobrir os ombros, decotes e joelhos.
Uma outra regra bem diferente para nós brasileiros, é que demonstrações de carinho e afeto em público são proibidas – exceto entre homens mais novos e mais velhos – é bem comum que você veja duas figuras assim circulando de mãos dadas, isso é uma demonstração de respeito entre eles. Ahh, e não podemos deixar de citar a polêmica proibição de consumo de bebidas alcoólicas. Isso mesmo! Nem adianta procurar um barzinho pelas ruas de Doha, você não vai encontrar. Isso porque o consumo de bebida alcoólica no país é proibido.
Mas é possível beber aquela cervejinha no Catar sim, fique tranquilo! Os únicos locais onde essas regras nacionais não precisam ser seguidas são os hotéis de rede internacional. Então, quem ficar hospedado no Hampton By Hilton, por exemplo, pode circular por lá sem se preocupar com as normas locais. No meu caso, como eu expliquei, fiquei hospedada em um dos navios da MSC que estão funcionando como hotel flutuante, o que não deixa de ser um hotel internacional – sendo assim, estava liberada das regras lá dentro também. Durante a Copa, bebidas alcoólicas podem ser consumidas em horários e locais específicos.
Uma das atividades principais de quem segue o Islamismo é a oração. São cinco horários, em que todos os seguidores param as suas atividades e se direcionam a uma das 800 mesquitas do país, lavam-se, tiram os sapatos e ajoelham-se virados em direção à cidade de Meca, na Arábia Saudita. Foi lá que nasceu o profeta Mohamed, autor do Corão. Mulheres e homens frequentam templos diferentes e a maioria dos espaços públicos possuem salas de oração.
Nós visitamos a Katara Cultural Village, local que concentra parte dos prédios públicos de Doha e possui uma mesquita. Chegamos bem em um dos momentos de oração. Nós mulheres não pudemos entrar, mas alguns dos meus colegas homens tiraram os sapatos e puderam observar a oração do lado de dentro.
Quanto custa viajar ao Catar
Viajar para o outro lado do mundo, para um dos países mais caros do mundo, não poderia fugir das enormes proporções no quesito preço, não é mesmo? Uma passagem aérea direta de São Paulo para Doha, operada pela Qatar Airways, pode sair por uma bagatela de até 16 mil reais, ida e volta, em classe econômica. Se você optar por viajar fazendo conexões, em companhias como a Iberia ou a British, por exemplo, pode até encontrar valores na casa dos 7 mil, mas é difícil encontrar por menos do que isso – confira os preços atuais das passagens do Brasil para Doha.
A melhor dica para quem planeja uma viagem para lá – ou para qualquer outro destino – é instalar o aplicativo do Melhores Destinos! Nossa equipe monitora os preços de todas as companhias aéreas e manda uma alerta sempre que encontra alguma oportunidade de viajar barato. E o melhor: tudo de graça! Baixe agora e não perca nenhuma nova promo – inclusive nessa Black Friday!
Já os preços dos hotéis em Doha podem variar de mil reais, em quartos de hotéis locais, a até R$ 150 mil, para quem desejar alugar vilas inteiras. Mas a média de hospedagem nos hotéis internacionais mais conhecidos é de R$ 3 mil a R$ 4 mil por hóspede/ noite.
Pode isso, Galvão?!!
A Copa do Mundo no Catar
Mas é claro que todos os olhares voltados para o Oriente Médio são motivados pela Copa do Mundo de 2022 e se você chegou até aqui, essa, provavelmente, foi a sua motivação. O evento que é realizado de quatro em quatro anos é uma das maiores mobilizações mundiais, que une povos das mais diferente culturas! A Copa parece ter movido mundos e fundos no país e gerou muitos investimentos. Como eu já disse, até um metrô foi construído para que a cidade pudesse dar conta de absorver toda a demanda de turismo durante o período.
Assim que cheguei a Doha, imediatamente percebi o clima da copa. As ruas estão completamente enfeitadas com bandeiras de todos os países participantes. Os prédios enormes e de arquitetura deslumbrante tiveram suas fachadas adesivadas com fotos dos jogadores favoritos de cada time.
Cada uma das nações ganhou um letreiro para foto e um stand para receber os torcedores das seleções.
Estivemos na casa Brasil, que também fica no Corniche – a orla de Doha. A casa ainda estava fechada, mas os simpáticos trabalhadores que finalizavam a obra fizeram a gentileza de abrir as portas para que o nosso grupo pudesse conhecer, e também ganhamos alguns brindes oficiais.
A cenografia é realmente um dos pontos fortes do Catar e as figuras das bandeiras nacionais estão sendo exploradas por todos os cantos da cidade. E é claro que o Brasil é destaque – não só nas decorações oficiais, como também no comércio – mas, sobretudo, no coração dos estrangeiros! Encontramos diversas pessoas vestindo as cores da bandeira brasileira que, quando nos escutavam falar português, faziam questão de dizer em tom de comemoração: “Brasil!! Esse é o meu time!”
E falando em torcedor, o clima da Copa começou a ficar mais intenso nos nossos últimos dias de viagem, quando a data da abertura vinha se aproximando. A festa da torcida de imigrantes indianos fãs do futebol argentino agitou o Souq Waquif em uma das noites que passeávamos por lá. Aos poucos, as camisas e bandeiras de diferentes seleções começaram a invadir as ruas e nos trazer a sensação de que realmente estávamos no país do campeonato.
Além da construção do metrô, outra coisa que chamou bastante atenção na preparação do Catar para a Copa foi a quantidade de estádios que foram levantados do zero – sete, dos oito que sediarão os jogos. Um deles, inclusive, é feito de contêineres. O Estádio 974, Estádio do Porto de Doha, ou Estádio Ras Abu Aboud, tem capacidade para abrigar um público de 40 mil pessoas dentro dos 974 contêineres – por isso o nome. A quantidade também não é atoa, o número 974 é o código do DDI do Catar.
Nós visitamos o Khalifa Internacional Stadium, o único que já existia desde 1976, mas que foi totalmente reformado para a competição. As construções são grandiosas e a estrutura montada é realmente impressionante. Uma das novidades desta Copa é justamente a proximidade entre os estádios e centros de treinamento. Diferente das últimas duas copas, no Brasil (2014) e na Rússia (2018), onde as seleções precisavam viajar milhares de quilômetros entre um jogo e outro.
Pensando em tudo o que vimos, dá pra concluir que a Copa do Mundo reforçou a mistura da arquitetura de linhas retas, típica das construções árabes, com as curvas futuristas dos edifícios envidraçados que compõem os cartões postais da moderna Doha. Por outro lado, mesmo com todos os investimentos do governo para a realização do campeonato e para receber com eficiência os turistas, eu senti que eles não estão muito bem preparados para dar conta de tudo isso.
Havia muitas obras nas ruas ainda, os trabalhadores estavam um pouco confusos quando precisavam dar informações e até a disposição das placas era meio sem lógica, o que fez a gente se perder em alguns momentos. Fora isso, embora a cidade esteja preparada para incentivar as pessoas a utilizarem o transporte público e a andarem a pé (várias ruas estão fechadas) eu não sei se a população local, tão acostumada a se locomover de carro, vai aderir a essa opção. Se isso não acontecer, a chance do trânsito da cidade ficar caótico é bem alta.
Minhas impressões sobre o Catar
Muito tem se falado sobre o Catar e a maioria dos questionamentos são, de fato, válidos. Este é um país resistente à diversidade, sobretudo a de gênero. Por conta disso, antes de embarcar, eu estava um pouco ressabiada em relação à recepção que eu, como uma mulher ocidental, teria por lá.
É verdade que é um choque de culturas. Assim como nós podemos estranhar a forma de vida deles, o mesmo ocorre quando o olhar vem de lá para cá. Mas, felizmente, em nenhum momento eu me senti desrespeitada. É claro, a maneira com que eles lidam conosco é diferente. Por exemplo, quando o nosso grupo ficava só entre mulheres, era comum que algum homem se aproximasse para perguntar se poderíamos passar o nosso telefone – mas, quando algum dos meninos do nosso grupo estava por perto, a conversa se voltava a eles primeiro. Ainda assim, mesmo estranhando a abordagem, consegui lidar bem com situações como essa.
Foi uma experiência bastante enriquecedora viajar para o Oriente Médio, poder ver com os meus próprios olhos um pouco de como as coisas funcionam por lá e perceber que muito do que pensamos sobre essa região também pode estar ancorado em algum tipo de preconceito. O que quero dizer é que, ainda que eu e você possamos discordar da maneira como o estado gere essa nação, prioriza o investimento de recursos e se posiciona diante de questões importantes na sociedade de maneira arcaica, há algo de especial no povo trabalhador. Nas pessoas comuns, imigrantes – que estão nas ruas, nos comércio, nas escolas. São essas receptivas pessoas que, mesmo em meio às enormes controvérsias que as cercam, fazem, de fato, o Catar acontecer.
E nós, brasileiros, podemos nos alegrar porque temos o dom de fazer com que sorrisos se estampem nos mais diferentes rostos quando dizemos de onde somos. Não sei se vamos ganhar o hexa, mas o título de povo mais querido do mundo, isso, com certeza, nós já temos!
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