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Viagens de cruzeiro: como devem ser as férias em alto mar após a pandemia

Bruna Scirea
15/05/2020 às 4:59

Viagens de cruzeiro: como devem ser as férias em alto mar após a pandemia

Talvez nenhum outro setor da indústria do turismo venha sofrendo tanto os efeitos da pandemia de Covid-19 quanto o dos cruzeiros marítimos. Quando o novo coronavírus era ainda problema só da China, jornais do mundo inteiro já estampavam o caso do Diamond Princess, navio com quase quatro mil passageiros que ficou atracado por 39 dias no Japão, tendo como saldo final mais de 700 infectados e 13 mortos. Nos meses seguintes, manchetes traziam casos de embarcações lotadas vagando de porto em porto, sem autorização para atracar. O estigma dos cruzeiros como ambientes propícios para a disseminação de doenças ganhou ainda mais força, e as armadoras sentiram o baque: as ações da Norwegian, Carnival e Royal Caribbean, as três maiores empresas do setor, desabaram 80%.

O mar está revolto para os cruzeiros, mas a retomada está no horizonte. Especialistas acreditam que as principais empresas já estarão com metade de suas frotas navegando no segundo semestre. A Carnival disse que pretende voltar a operar seus cruzeiros nas águas norte-americanas em agosto, embora dependa da permissão do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que proibiu a navegação das grandes embarcações pelo menos até o fim de julho, com chances de postergar o prazo. No Brasil, os cruzeiros chegam sempre em novembro, mas armadoras como a MSC e a Costa ainda não se pronunciaram sobre as operações na temporada 2020-2021. A CVC também não tem previsão para o reinício das navegações.

A volta dos cruzeiros aos mares do mundo depende de fatores como a redução do número de casos da Covid-19, permissão dos governos para a navegação, abertura dos portos e como estará a sensação de segurança dos viajantes até lá. Neste cenário incerto, o que se pode garantir com alguma certeza é que os cruzeiros serão diferentes do que costumavam ser até alguns meses atrás — pelo menos na retomada. E é nisso que as grandes empresas estão trabalhando neste momento: em planejar o retorno do ponto de vista de controle de passageiros, higienização das embarcações e prevenção da proliferação de doenças.

Como serão os cruzeiros pós-pandemia? Essas são algumas hipóteses:

Retorno com frota reduzida

Norwegian, Carnival e Royal Caribbean operam três em cada quatro viagens de cruzeiros em todo mundo e, embora não saibam quando ocorrerá, já preveem que a retomada será com frota reduzida. A Carnival planeja o reinício das operações em três portos: Miami, Porto Canaveral e Galveston (Texas), com oito dos seus 27 navios. O restante das embarcações devem permanecer paradas pelo menos até setembro, estima a empresa que tem sede em Miami. A Norwegian também prevê um retorno gradual, inicialmente com seis de seus 28 navios, adicionando até seis embarcações na operação a cada mês. As gigantes dos mares acreditam que, após as navegações serem novamente liberadas, demorará pelo menos seis meses para que toda a frota volte ao serviço.

Num primeiro momento pode ser que nem todos os portos já estejam abertos. Isso vai depender da situação do avanço da Covid-19 em cada país e de quanto tempo irá levar para que autoridades voltem a liberar as operações portuárias. De toda forma, nos primeiros meses as armadoras devem dar preferências para os portos bem localizados, próximos a grandes cidades, evitando que seus passageiros tenham que fazer grandes deslocamentos ou tomar uma série de voos para chegarem ao local do embarque do cruzeiro. Certamente, priorização portos que sejam facilmente acessíveis de carro.

Distanciamento social e baixa ocupação dos navios

Os navios de cruzeiro são meios de transporte (e não só isso, de vivência e experiências também) extremamente coletivos. A maior embarcação do mundo, o Symphony of the Seas, da Royal Caribbean, por exemplo, tem capacidade para levar 7 mil passageiros e mais 2 mil tripulantes. São então 9 mil pessoas convivendo em alto mar durante dias a fio, às vezes por mais de semanas. E em tempos de pandemia, nada mais urgente do que se discutir possíveis formas de distanciamento social dentro dos navios. Até porque até então cenas assim eram bem comuns nas embarcações:

A redução das aglomerações a bordo é uma alternativa. Nada de multidão nas piscinas, baladas em alto mar e teatros lotados durante a apresentação de musicais — programas clássicos dos cruzeiros. Na Ásia, onde deve ocorrer o pontapé da retomada dos cruzeiros em função de a pandemia já estar bem mais controlada do que no resto do mundo, armadoras como a Dream Cruises e a Star Cruises já anunciaram planos de reduzir em 50% o público permitido nos locais de entretenimento a bordo, como espetáculos e atividades recreativas. Questionada pelo Melhores Destinos, a MSC, que opera vários cruzeiros no Brasil, informou que também trabalha com a possibilidade de voltar a navegar com capacidade reduzida.

Para o CEO da Norwegian, Frank Del Rio, passageiros devem dentro dos cruzeiros os mesmos procedimentos praticados em terra firme: se ainda for o caso, distanciamento social e uso de máscaras. O executivo, no entanto, acredita que não será necessário que as empresas imponham regras de distanciamento social ou limites de ocupação em cada andar dos navios. Segundo Del Rio, devido aos cancelamentos e a redução nas reservas, a baixa ocupação dos navios será um fato durante a retomada dos cruzeiros. Mesmo com a frota reduzida, a expectativa da Norwegian é de ocupação média de no máximo 60% nos primeiros meses. “Distanciamento social será um fenômeno natural”, resumiu o executivo em entrevista ao site norte-americano The Points Guy.

Também não seria exagero pensar em passageiros ocupando cabines alternadas nos cruzeiros, de preferências tendo em todas elas janelas que garantam a ventilação. Ao menos neste reinício poderia ser uma medida cabível, não é?

Restrições a passageiros idosos ou com doenças preexistentes

De todas as medidas já levantadas pelas empresas de cruzeiros, talvez esta seja a mais polêmica: proibir o embarque de idosos ou pessoas com doenças preexistentes. Pouco antes de os cruzeiros pararem de vez, em março deste ano, armadoras como a Royal Caribbean previam banir passageiros acima de 70 anos em alguns de seus navios. A medida, que não chegou a ser implementada devido ao shutdown dos cruzeiros, fazia parte de um plano inicial de contenção do coronavírus apresentado ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Aliás, o órgão vem pressionando fortemente as empresas de cruzeiros que zarpam dos portos americanos a desenvolverem um plano robusto para que seja liberado o retorno das operações.

Não acredito que as armadoras irão proibir passageiros idosos em seus navios. Este é um público de grandíssimo peso. O que pode acontecer no primeiros meses após a retomada é a exigência de autorização médica para passageiros a partir de certa idade ou então com doenças preexistentes, como diabetes e problemas cardíacos. Mas a verdade é: ainda não se sabe como as armadoras irão enfrentar a questão. Este será um dos principais desafios neste reinício.

Cruzeiros mais curtos e não distantes dos portos de origem

Analistas acreditam que o retornos dos cruzeiros nos mares do mundo deve ocorrer com viagens mais curtas e não muito distantes dos portos de origem. A ideia é que os cruzeiros mais curtos ofereçam aos passageiros a chance de voltar a pensar nas viagens de navios sem se comprometer com longas travessias, que costumam passar por vários portos e ter vários dias de navegação em alto mar.

As longas travessias, que vão de um continente a outro, devem ficar para um segundo momento. Além dos riscos de se passar muitos dias distantes da terra firme, pesa também outro fator: este cruzeiros tem como principal público idosos aposentados, com tempo e dinheiro para viagens mais longas. Este também é o segmento populacional com maiores chances de complicações causadas pela Covid-19. Então, até que surja uma vacina ou que os casos caiam a níveis baixíssimos, é de se esperar que as travessias tenham uma procura bem reduzida.

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Itinerários adaptados

Viagens que partem dos Estados Unidos para o Caribe ou que circulam por vários países da Europa estão entre os mais procurados por brasileiros e cruzeiristas de carteirinha de todo o mundo. E pode ser que vários dos itinerários mais clássicos sejam reduzidos, sofram mudanças de rota ou tenham mais dias em alto mar devido ao fechamento de portos e também regras e autorizações de cada país — ainda mais no contexto do coronavírus, em que cada lugar está passando por estágios diferentes do enfrentamento da doença. As empresas devem se preparar para uma boa dose de reajustes.

Exames e estrutura hospitalar a bordo

Muitas armadoras já anunciaram que no retorno das operações irão aferir a temperatura de todos os passageiros antes do embarque — medida já comum em vários estabelecimentos e voos e que, na verdade, não tem 100% de eficácia, já que muitos não desenvolvem os sintomas da Covid-19. Especialistas em cruzeiros sugerem que as empresas façam testes rápidos em todos os passageiros no momento do check-in, o que deixaria pessoas que contraíram o vírus fora dos navios.

Nos Estados Unidos, o CDC recomenda que as empresas de cruzeiros desenvolvam planos de monitoramento a bordo, com checagem regular de temperatura de tripulantes e passageiros, além de exames médicos associados à doença. Outra medida seria aumentar a equipe médica e de enfermaria nos navios, investindo também em equipamentos hospitalares essenciais em situações mais severas e até mesmo helicópteros que possam fazer o deslocamento de passageiros em estado grave.

Mais rigor na limpeza dos navios

Já é comum haver frascos de álcool em gel na entrada dos restaurantes dos grandes navios e avisos reforçando aos passageiros a importância da higienização das mãos. Também é fácil encontrar equipes de limpeza desinfectando superfícies de alto contato, como corrimão de escadas, botões de elevadores e equipamentos de ginástica. Ainda assim, é de se esperar que as armadoras pensem em melhorias em relação à limpeza das áreas comuns das embarcações e reforcem a higiene por parte dos viajantes.

A CVC, operadora que freta o Pullmantur Soberano, realizando viagens de cruzeiros pelo Brasil inclusive no Réveillon e Carnaval, garante que as normas sanitárias, independentemente do estilo da viagem irão mudar daqui pra frente, incluindo as viagens marítimas. A Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (CLIA) trabalha em novos protocolos para a retomada do setor, mas ainda não tem prazo para a conclusão e divulgação das orientações.

Fim das filas e buffets nos cruzeiros

Quem já embarcou em um cruzeiro certamente enfrentou fila na hora do embarque. Evitar aglomerações deste tipo deve ser uma das prioridades das empresas de cruzeiros na retomada após a pandemia. Embora não tenha exemplificado como, a MSC já informou que fará mudanças nos procedimentos de embarque e desembarque, na execução das atividades de entretenimento e também nos serviços de alimentação e bebida.

Filas de embarque eram comuns nos cruzeiros marítimos

Pode ser que os buffets dos navios estejam com os dias contados — ou que pelo menos voltem a funcionar de um jeito diferente por enquanto. Uma alternativa seria aumentar as equipes trabalhando nos restaurantes, de modo que seja a tripulação a responsável por servir os pratos e não os passageiros. Isso evitaria a transmissão de doenças, como a Covid-19, que podem se alastrar com um grande número de pessoas tocando nos mesmos utensílios, como os talheres dos buffets. As companhias asiáticas Dream Cruises e Star Cruises já anunciaram a suspensão dos sistema self-service na retomada de suas viagens.

Descontos e políticas de cancelamento mais flexíveis

Muitas empresas de cruzeiros flexibilizaram suas políticas de cancelamento desde fevereiro, quando o coronavírus começou a se espalhar na Ásia. Essa é uma estratégia que deve continuar nos próximos meses. No Brasil, por exemplo, a Costa Cruzeiros permite que passageiros que fizeram ou venham fazer reservas para para a temporada 2021 remarquem ou cancelem seus pedidos até 8 de julho de 2020, sem penalidade.

Até o momento não surgiram descontos agressivos no mundo dos cruzeiros, mas especialistas acreditam que eles virão assim que as empresas souberem quando poderão voltar a navegar. Conforme o site norte-americano The Points Guy, analistas esperam quedas de até 30% nos preços das viagens de cruzeiro em todo o mundo, uma vez que a demanda deve ser bem baixa no reinício das operações.

O CEO da Norwegian, uma das maiores armadoras do mundo, no entanto, afirma que a estratégia da empresa seguirá sendo manter os preços, ainda que os navios zarpem esvaziados. De acordo com Del Rio, não será a redução dos preços que fará com que o público volte a viajar de cruzeiro, mas sim a sensação de segurança em relação à saúde.

Acho que é mais uma combinação dos dois fatores. Qual a sua opinião?

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Esses são alguns dos pontos que as armadoras de cruzeiros em todo o mundo devem levar em consideração ao pensar na retomada das operações. Por enquanto, tudo ainda é bastante incerto. Vamos acompanhar a divulgação dos novos protocolos do setor e as previsões de reinício das operações e mantemos você informado.

Enquanto isso, deixo aqui uma questão: na sua opinião, quais seriam as principais medidas a serem tomadas pelas empresas de cruzeiros após a pandemia da Covid-19? Participe nos comentários.

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