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Como é voar na Cubana e Aerogaviota

Denis Carvalho
25/01/2013 às 16:44

Como é voar na Cubana e Aerogaviota

Uma viagem a Cuba é sempre uma experiência com direito a muitas surpresas com relatos surpreendentes. Não foi diferente com nosso leitor Maicon Falavigna, que viajou com a namorada à ilha socialista e avaliou os voos domésticos com as companhias aéreas Cubana e Aerogaviota, com direito ao já mítico Antonov An-26 e o aeroporto mais estranho que já teve a imagem publicada aqui no Melhores Destinos. De quebra, ela dá dicas excelentes para quem se interessa em conhecer as belezas da ilha caribenha. Acompanhe o relato: 
Buenas, recentemente me mudei para o Canadá e como minha namorada continua em Porto Alegre achamos que uma alternativa interessante seria nos encontrarmos no meio do caminho quando aqui começasse a esfriar. Para animar um pouco, temos o Caribe entre o Brasil e o Canadá, então fomos à busca de passagens para destinos caribenhos para os quais os preços não fossem muito caros, os horários fossem bons para ambos e as datas coincidissem.

Destino
Acabamos optando por Cuba, em um itinerário compreendendo Varadero (uma cidade praiana ao norte, banhada pelo Atlântico), Cayo Largo (uma ilha ao sul banhada pelo mar caribenho, chamada também de “Maldivas genérica”, com areia branquíssima e águas megatransparentes) e Havana. Para chegar a Cuba, ela conseguiu uma passagem razoável pela TACA: serviço decente, sem maiores surpresas, exceto um pneu que tiveram que trocar de última hora em Lima. Na capital peruana também foi possível comprar o “visto turístico” para Cuba por 20 dólares, já que não dispunham em Porto Alegre. Para mim as coisas foram um pouco mais complicadas e vou descrever aqui.

Compra de passagens
Bem, uma coisa importante a saber sobre Cuba é que devido ao embargo norte-americano sempre haverá algumas dificuldades a mais para viajar para lá. Primeiro, sites americanos (e alguns simpatizantes) não irão te ajudar em nada. Por exemplo, Decolar e Viajanet não possuem cidades cubanas como destinos; uma busca por hotéis no Booking ou no Expedia resultará numa irritante pergunta do sistema: “Você quis dizer Havana, Illinois ou Havana, Flórida?”.

Quem salvou a pátria foi o Skyscanner, que realiza a busca através de diversos outros sites, redirecionando para os mesmos. Através dele, descobri que duas companhias regulares voam de Toronto a Cuba: a Westjet, segunda maior empresa de aviação canadense, e a Cubana de Aviación, empresa estatal cubana. Além dessas temos também a Airtransat que opera voos fretados, sendo possível a compra apenas por companhias de turismo, contudo possui voos diretos para Cayo Largo, sendo uma boa opção. Encontrei passagens interessantes, com ida Toronto – Varadero e retorno Havana – Toronto, com um preço levemente superior a 500 dólares. Com o Skyscanner redirecionando a compra para alguns sites não preocupados com o embargo americano, de procedência duvidosa – provavelmente organizados por universitários em alguma garagem na Índia – decidi comprar pelo site da companhia para evitar problemas.

Bem, aí começam os problemas. O site da empresa aérea (www.cubana.cu) estava com erro no sistema de busca, não sendo possível reservar voos e nem mesmo consultar tarifas; por sinal passou mais de um mês até o erro ser corrigido. Os e-mails disponíveis dos escritórios em Toronto e do setor de venda davam erro, retornando minhas mensagens à caixa de entrada. Enviando um e-mail para o suporte ao cliente, me forneceram um novo e-mail para o escritório no Canadá.

Procedi com a reserva diretamente e o atendimento via e-mail foi atencioso. Quem fez minha reserva, por coincidência, foi uma funcionária brasileira (tudo bem que no meio do processo ela ficou doente e ninguém assumiu suas tarefas, demorando cerca de três dias para eu ter resposta dos meus e-mails, mas fora isso não posso me queixar). Para finalizar a compra, nada de site seguro, solicitaram que eu preenchesse um formulário com os dados do cartão e minha assinatura. Não tenho ideia do que fazem com esse papel depois, mas tudo bem: por razões como essa eu pago com prazer o seguro do cartão.

Para o trajeto Varadero – Cayo Largo – Havana, foi ainda mais complicado. A busca foi feita em um site Cubano (www.cuba-junky.com) sendo encontrado um voo operado pela Aerogaviota, outra empresa estatal cubana. O país possui ainda outra empresa de aviação, a Aero Caribbean; como tudo é de posse da turma do Fidel (ou então, digamos, do povo cubano, se algum comunista for me criticar nos comentários), os voos frequentemente são compartilhados, como comentarei logo mais.

O voo saía de Varadero pela manhã e ia para Havana à noite; decidi comprar por uma empresa de turismo cubana, achando mais garantido do que comprar via internet. O voo, segundo eles, era esse mesmo operado pela Aerogaviota, mas os horários exatos só seriam confirmados no dia anterior e seriam similares (M-E-D-O). Incluindo os traslados, saiu por 175 dólares por pessoa.

Empresas Aéreas Cubanas

A Cubana foi fundada em 1929 e estatizada em 1959. Segundo a Wikipedia, ela opera com três Airbus A320, um Antonov, três Ilyushin e quatro Tupolevs; sendo que os últimos provavelmente carecem de manutenção desde o fim da União Soviética. Não opera voos no Brasil, mas voa a partir de Buenos Aires, Toronto, Montreal, Cancún e de algumas cidades na Europa. Um dado interessante sobre a companhia: a Cubana é tida como a empresa aérea regular com os piores índices de segurança, com índices mais de cinco vezes piores do que a média (fonte: https://www.grumpytraveller.com/lists/worst-airline-safety-records-cubana-china-airlines-aeroflot/ e https://www.travelvivi.com/top-10-most-dangerous-airlines/ ).

Para os supersticiosos, as estatísticas ainda estavam desfavoráveis para mim – a Cubana seria a 13ª empresa regular com a qual eu iria voar e Cuba o 13º país para o qual eu iria viajar. A meu favor contava que as rotas para o Canadá são operadas com os Airbus e que os democratas foram reeleitos por mais quatro anos na Casa Branca.

As outras duas empresas são a Aerogaviota, principal empresa doméstica cubana, e a Aero Caribbean. Os trechos de e para Cayo Largo eram operados pela Aerogaviota, contudo o voo de ida foi realizado em um avião da Aero Caribbean e o de volta em uma aeronave com logotipos da Cubana.

Voo Cubana: Toronto – Varadero

Varadero é um dos principais destinos turísticos dos canadenses. Possui resorts all-inclusive a preços baixos (mas não se engane, você recebe pelo o que paga: comida de péssima qualidade e banheiros sem papel higiênico). Um pacote em resort 4 estrelas saindo de Toronto custa em torno de 700 dólares por pessoa. Descobrimos que em novembro Varadero tem um mar gelado e com ondas (não é mar do Caribe), mas está ok para os canadenses que querem apenas fugir do frio e encher a cara no bar. O check-in foi tranquilo e pontual; no balcão pude comprar o “visto de turista” por 20 dólares, o voo era direto, estava cerca de 90% lotado, não teve atrasos e durou cerca de 3h15min, chegando 15 minutos antes do esperado.

O avião era um Airbus A320, possuía oito assentos de classe executiva e os demais (cerca de 130) na econômica. O avião tinha aspecto agradável, cheiro de novo, bancos de couro sintético, mas as poltronas não eram reclináveis. Não havia nada para entretenimento, também não havia sacos de enjoo ou local para colocar lixo.

Três comissários de bordo cordiais, com inglês e espanhol perfeitos, assistiam o voo. Não havia cardápio, como serviço de bordo opcional durante todo o trajeto serviam bebidas de boa qualidade cerveja cristal, rum e vinho (Casillero) por dois dólares. Possuíam refrigerantes também, eu ia pedir uma Coca para saber se tinham, mas fiquei com medo de me servirem um Ciego Montero Cola no lugar e me contive; água era de graça.

Bem, o clima do voo lembrou-me das excursões do ensino médio: pessoal em pé no corredor com latinhas na mão, gritos e brincadeiras, com metade dos passageiros bêbados antes de chegar no destino final. No meio do voo serviram um lanche decente: um donut, pão, manteiga, queijo, presunto, salada, um bolinho de chocolate, suco de laranja e café.

O aeroporto de Varadero era pequeno, parecia uma rodoviária, mas era limpo e organizado. Fica a cerca de 30 km dos resorts. O processo na imigração foi rápido (10 a 15 minutos) e o tempo de espera pela mala pequeno; não tenho do que me queixar.

Táxi do aeroporto para os resorts custa em torno de 30 dólares, mas é possível ir diretamente nos ônibus de turismo que fazem o translado para as companhias e negociar seu transporte. Aí outro ponto interessante de Cuba: apesar de ser socialista, há um capitalismo paralelo às margens da legalidade. A estrutura é do governo, contudo os funcionários que a operam acabam tirando sua parcela – com 10 dólares, negociados diretamente com o motorista, me deixaram na porta do hotel; por 25 dólares minha namorada foi de Havana a Varadero (cerca de 130 km), valores que não entram na contabilidade estatal.

Às informalidades do país podemos incluir também as bebidas desviadas dos resorts e vendidas no mercado negro, os charutos desviados que vendem nas ruas de Havana e potencialmente qualquer produto ou serviço que te venderem e você não receber um recibo. Em Varadero, sugiro trocar dinheiro no aeroporto; as taxas são bem melhores do que nos hotéis e creio que não compensa ficar saindo na cidade para encontrar uma casa de câmbio por lá. Não leve dólares americanos, as taxas são sempre piores, as melhores moedas para trocar são dólares canadenses e euros.

Varadero – Cayo Largo

Realmente confirmaram o voo no dia anterior. O voo que era para ser às 8h30, foi transferido para as 10 horas; passaram no hotel cerca de 45 minutos mais tarde do que o combinado, mas deu tudo certo. Acredito que o voo foi realizado em um Embraer 110 Bandeirante da Aero Caribbean, com capacidade para 18 passageiros. O voo foi tranquilo, serviram balinhas antes da decolagem, teve duração de 45 minutos e paisagens maravilhosas pela janelinha.

O aeroporto de Cayo Largo é minúsculo, fazendo qualquer rodoviária de interior parecer o Charles de Gaule, contudo organizado. Me passou uma boa impressão; sem problemas até então. De fato, Cayo Largo é um local que merece ser visitado. É uma pena que tanta gente vá para Varadero em vez de ia para lá: se eu pudesse escolher novamente, ficaria só em Cayo Largo, nem passaria por Varadero.

Uma dica em Cayo Largo: há um transfer gratuito para as praias mais bonitas (Sirena e Paraiso). Agora, se o que você paga em Cuba é de péssima qualidade, imagine o que é de graça. É um trenzinho lento, desconfortável, que tá sempre quebrando e por isso frequentemente não aparece no horário. O táxi que leva para as praias custa dois dólares por pessoa, além do conforto, não depende de horários e chega de 20 a 25 minutos antes (lembrando que esse tempo de sol no Caribe vale muito mais do que dois dólares, na minha opinião).

Cayo Largo – Havana

Cayo Largo é de fato um lugar maravilhoso; agora no retorno está a pior parte da viagem. Não nos colocaram no voo que compramos junto à companhia. Em vez de embarcarmos no voo da noite, colocaram-nos em um voo que saia às 8h30e perdemos um dia inteiro de sol no Caribe. Entramos em contato com a empresa e disseram que não podiam fazer nada e que o outro voo estava lotado, sendo dada a preferência do voo noturno às pessoas que estavam a menos tempo na ilha. Perdemos o transfer (que dessa vez foi pontual), solicitamos um táxi e em alguns minutos na porta do hotel chegou um ônibus turístico de 40 lugares, exclusivo para nós. Bem, coisas de Cuba! O translado custou cinco dólares e a contragosto fizemos nosso check-in.

Àqueles que desejam planejar suas férias com empresas cubanas, cuidado pois nem sempre elas oferecem o que prometem. Atenção quando dizem algo como “confirmaremos do dia anterior”,” o horário é similar” ou “o quarto é semelhante”. Para constar, as passagens, compramos através do site Hicuba.com, sendo os vouchers emitidos pela empresa “Servicios Global”, mas não sei se mudaria alguma coisa se a compra fosse realizada por outro escritório cubano. Uma opção é consultar as empresas canadenses que fornecem esse tipo de serviço.

O voo, apesar de operado pela Aerogaviota, foi realizado num avião com logotipos da Cubana: um Antonov An-26 (avião projetado para fins militares, que não é mais fabricado desde 1985), comportando cerca de 40 passageiros, fabricado supostamente em 1978. Tenho minhas dúvidas se o avião era tão novo assim, mas o mais provável é que apenas não tenha manutenções periódicas desde o fim da guerra fria.

No seu interior tinha cheiro de mofo, assentos velhos ainda com cinzeiros em seus braços, em péssimo estado de conservação. O mais legal era ver a cara dos passageiros, com um semblante de quem esperava alguém entrar com uma câmera e microfone na mão anunciando que era pegadinha.

Um comissário de bordo serviu café, água, refrigerante e algumas balinhas antes da decolagem; o embarque e desembarque foram realizados pela porta traseira, que começou a se abrir ainda com o avião em movimento (pelo menos ganhamos tempo no desembarque assim).

Bem, esses voos com a Aerogaviota são muito variáveis, pelo jeito podem te colocar em qualquer avião. Por sinal já vi relatos de pessoas que acabaram fazendo o trajeto em um helicóptero Mil Mi-8 da Aerogaviota (vi um estacionado no aeroporto de Cayo Largo).

Quem acha que a parte trash da viagem era o avião, não sabe do que se trata o Aeroporto de Playa Baracoa onde aterrissamos. Anteriormente utilizado para fins militares, ele fica a cerca de 30 km do centro de Havana e opera atualmente voos domésticos. Para descrevê-lo, pensem em um aeroporto do tamanho de Cayo Largo e adicionem nele um bombardeio, um terremoto e um furacão: temos então o que vocês podem ver nas fotos.

Juro nunca mais reclamar das goteiras do Galeão! Não deixem de prestar atenção na esteira de bagagem. Bem, ao menos não vi nenhuma placa sarcástica dizendo “estamos em obras”. A parte boa do voo é que foram apenas 45 minutos, com belas paisagens da janelinha.

Havana – Toronto (com estranha escala em Cienfuegos)

O retorno foi a partir do aeroporto internacional de Havana (Jose Martí); pequeno, porém organizado, com lojinhas que me surpreenderam por estar em Cuba. Esse foi um voo estranho. Estava estimado em 5h30, contando com uma escala em Cienfuegos, que fica fora de rota, ao sul de Havana, seguindo viagem para Toronto. Bem, mais estranho ainda foi o fato de o voo ter saído quase vazio (cerca de 40 passageiros) de Havana e o Airbus ter lotado em Cienfuegos.

Seria mais ou menos como se um avião partisse quase vazio do Rio, desviasse da rota para fazer uma escala em Macaé, lotasse, e então seguisse viagem para Buenos Aires. Mais uma vez, coisas de Cuba.

O avião era um Airbus A320 semelhante ao da rota Toronto-Varadero, contudo mais antigo. Também com oito poltronas executivas, e as demais na classe econômica; três comissários de bordo, dessa vez nada simpáticos e mais hostis. Para entretenimento distribuíram uma cópia do jornal Granma (www.granma.cu), cheio de notícias tendenciosas sobre as maravilhas do governo cubano, sempre culpando o embargo americano pelas coisas ruins.

O lanche era inferior ao da ida, consistia de um sanduíche  pão, manteiga, bolinho inglês, sendo servido junto com suco ou refrigerante. O serviço de bordo opcional iniciou só na última metade do voo, com bebidas que me pareciam de inferior qualidade, ao custo de 3 dólares dessa vez. Como ponto positivo, o voo chegou a Toronto 30 minutos antes do estipulado.

Parecer final
O processo de compra de passagens para companhias cubanas é complicado; talvez o melhor seja organizar tudo com uma empresa de turismo não cubana para evitar surpresas. Há diversas empresas canadenses que podem vender pacotes de hotéis, traslados e voos internos, vale a pena conferir.

Os voos foram pontuais; importante comentar que a pontualidade é uma das principais queixas sobre a Cubana nos fóruns internacionais. O custo é de mercado, com a desvantagem de não estar vinculada a nenhum programa de milhagem e desconheço a existência de promoções. O valor das passagens parecem ser sempre o mesmo, não seguindo o padrão de lotação de assentos das companhias em geral.

Os voos foram tranquilos; o serviço de bordo e a qualidade dos aviões é variável. Eu voaria novamente com a Cubana, mas não faço questão. Em relação aos voos domésticos, é uma experiência única por seus aviões e aeroportos (única, mas não necessariamente positiva).

Levem euros ou dólares canadenses; para a troca de dólares americanos é cobrada uma taxa de conveniência a mais e não sei se trocam reais por lá. Para o visto, vejam com sua companhia aérea. É possível ver isso com antecedência junto ao consulado, mas não compensa financeiramente, além de ser perda de tempo. É bom levar 20 dólares, já que em Lima não aceitam outra moeda para comprar o visto.

Em Havana não deixem de andar nos táxis Ladas, lá basicamente todos são 16 válvulas (8 no motor e 8 no rádio).

Os resorts cubanos são baratos, mas não se iludam, vocês recebem o que pagam – levar um rolo de papel higiênico de boa qualidade na mala não é uma má ideia. Mas o mais importante, se forem visitar Cuba, considerem fortemente Cayo Largo, mesmo se seu agente de viagem insistir que Varadero é muito melhor (a afirmação pode até ser verdadeira, só que ele não está dizendo para quem é melhor).
Boas viagens!!

 

Agradecemos ao Maicon pelo ótimo relato, não apenas da companhia, mas de boa parte de sua viagem. E você, já voou para Cuba? Conte suas dicas e histórias nos comentários!  Confira também o relato do leitor Alexandre Alves sobre voos com a Aerogaviota e Aero CaribbeanSe você fez ou vai fazer uma viagem com alguma empresa aérea que ainda não foi avaliada aqui no Melhores Destinos ficaremos felizes em publicar sua avaliação: entre em contato pelo e-mail dicas@melhoresdestinos.com.br Você pode conferir todas as avaliações publicadas pelo MD neste post.

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