Viajando por Cuba com a Aerogaviota e Aero Caribbean
Viajando por Cuba com a Aerogaviota e Aero Caribbean
Cuba tinha tudo para ser mais um destino caribenho, com uma vasta orla de grandes resorts das maiores cadeias hoteleiras, aproveitando as águas claras e mornas para fazer a alegria dos turistas do mundo todo. Isso se na década de 1950 não mudasse os rumos do país, transformando-o na única nação socialista do continente e um destino único a ser visitado, que cada vez atrai mais brasileiros. Se voar do Brasil para Cuba não oferece tantos percalços, o mesmo não se pode dizer dos trajetos dentro da ilha, que podem ser recheados de aventura, com direito a aviões da década de 1970. Nosso leitor Alexandre Henry Alves decidiu encarar umas férias em Cuba com a esposa e conta para nós, neste relato formidável, o que o viajante deve esperar ao visitar o país, avaliando duas companhias locais, a Aerogaviota e a Aero Caribbean. Acompanhe a narrativa e divirta-se:
Quando a minha esposa sugeriu Cuba como destino de nossas férias em julho, fiquei bastante animado. Já tínhamos viajado por muitos lugares da América do Sul, EUA, Canadá e Europa, por isso eu ansiava por um lugar diferente. Cuba foi a escolha perfeita, pois o sistema político dos irmãos Castro ainda está vigente, mas não ficará por muito tempo, proporcionando os últimos momentos de uma viagem no tempo.
Procurando passagens, vi que a melhor escolha era ir de TAM para Bogotá e de lá ir de Avianca para Havana. Não encontrei voos diretos entre Brasil e Cuba. O trecho SP-Bogotá-SP saiu por R$ 1.281,67 (com taxas), por pessoa. Não era um valor muito bom, mas como a viagem era para a alta temporada de julho, não reclamei. Já o trecho Bogotá-Havana-Bogotá, pela Avianca, saiu por R$ 778,46 por pessoa, também com as taxas incluídas. Esse preço de R$ 2.060,13 até que ficou legal, pois nos permitia conhecer Bogotá e Havana.
Em Guarulhos, aproveitei a promoção do Itaucard TAM Platinum e embalei de graça duas malas. A viagem pela TAM começou mal, pois trocaram o avião de última hora e eu e a minha esposa, que havíamos reservado assentos juntos, um deles na janela, fomos obrigados a viajar separados, cada um em uma poltrona do meio. E o pior é que o A-320 não tinha sistema individual de entretenimento, o que só não foi mais entediante porque eu tinha alugado um filme no iPhone, que me salvou do marasmo de quase seis horas de voo.
Aterrissamos no aeroporto internacional de Bogotá, o El Dorado, cujo desembarque tem um free-shop de tamanho ridículo. Espero que o novo terminal, que estava em avançado processo de construção, melhore esse ponto. Com as malas em ordem, imigração já feita (muito tranquilo), pegamos um táxi para o Ibis Bogotá Museo, uma grande dica de hotel: é novo, conseguimos tarifas baratas em uma das “Super Quartas” da rede Accor e ficamos bem próximos das principais atrações da cidade.
Mas vamos deixar os detalhes de Bogotá para outra oportunidade. Só digo que, estando lá, não perca o Museu Botero, o Museu do Ouro e a visita à Catedral de Sal, além da subida ao morro junto da capital colombiana, que permite uma linda vista da cidade. E não se esqueça: Bogotá é fria o ano todo, com temperaturas variando entre oito e dezoito graus, mesmo no verão.
De Bogotá a Havana
Depois de três dias na capital colombiana, levantamos às 3h10 da madrugada para pegar nosso voo no El Dorado. Por conta do meu eterno pânico de perder o voo, caí na bobeira de perguntar ao taxista se demoraria muito a chegar ao aeroporto. Para quê?! O sujeito engatou uma quinta e voou pelas avenidas, fazendo um percurso de meia hora em doze minutos! Com isso, acabamos chegando a tempo de entrar na fila da Taca, que compartilha voos com a Avianca.
Enquanto fazia o check-in, minha esposa foi pegar um carimbo sei lá do que da Aduana, para não pagarmos impostos. Fomos então para a sala de embarque e só aí constatei que há inúmeras lojas de free-shop no El Dorado, todas concentradas no embarque. Pena que, pelo horário, eram poucas as abertas. Mas valem a pena.
Decolamos em um Embraer 190 com 25 minutos de atraso, para um voo de 2h30 até San Salvador, em El Salvador. Avião bom esse nosso! Sistema de entretenimento individual, poltronas duplas e um conforto acima da média. O voo balançou um pouco, mas no geral a viagem transcorreu de forma tranquila. Só fiquei um pouco desesperado com nossa conexão, pois chegamos às 8h45 e nosso avião decolaria às 9h05.
Ensandecido com o horário apertado, saí em disparada pelos corredores infinitos até chegar à nossa sala de embarque já botando os bofes para fora. Foi aí que entendi tudo: El Salvador tinha outro fuso horário, uma hora a menos que Bogotá. Que mancada! Mais calmo, recoloquei os bofes para dentro e andei um pouco pelas inúmeras lojas de free-shop, até chegar nossa hora.
Partindo para Cuba
No embarque, os funcionários da Taca chamavam a atenção dos passageiros para a necessidade de possuírem a “Tarjeta de turista”, que podia ser comprada ali mesmo no aeroporto. É, na verdade, o visto cubano. Como bom mineiro que sou, já tinha providenciado o meu diretamente na agência de turismo brasileira. Mas, por que um cartão? Porque reza a lenda que você pode ter problemas com a imigração americana se no seu passaporte constar um carimbo de Cuba. Não sei se isso é verdade, mas o fato é que realmente não carimbam seu passaporte.
Decolamos com quinze minutos de atraso em um A-320 novo, muito bom. Mas o melhor foi aproveitar a paisagem: de início, na decolagem, enormes montanhas e vulcões salvadorenhos; depois, o Mar do Caribe. Lindo mesmo.
Chegada
A chegada a um novo país é sempre um momento tenso. Chegar a Cuba, então, nem se diga! Minha curiosidade era total. Como seria o aeroporto? A imigração? A primeira impressão do país? Logo, tudo isso seria revelado. Interessante foi notar o cartão da imigração que distribuíram no avião, que continha uma pergunta sobre a posse de aparelhos de comunicação via satélite. Nunca tinha visto essa pergunta em outros países e foi fácil imaginar o motivo dela ser feita.
O A-320 voou até o sul da ilha de Cuba e então fez uma curva para o norte, atravessando o país nesse sentido (o que leva pouquíssimo tempo) e logo começou os procedimentos de descida. O pouso foi tranquilo e logo meus olhos se depararam com vários aviões da Cubana de Aviación no aeroporto José Marti, o principal do país. Velhos modelos russos, alguns de longo alcance, estavam parados em uma área relativamente distante do terminal principal. Este, por sinal, era incrivelmente novo! Quando a gente pensa em Cuba, acha que tudo lá está caindo aos pedaços, que é do tempo da Guerra Fria, mas na verdade… é isso mesmo! Exceto o aeroporto.
Já em solo, senti o calor e a falta de ar condicionado. Percebi pelas inscrições no vidro do pequeno, mas agradável, terminal, que tudo ali era proveniente da China, percepção que se repetiria ao longo de toda a viagem: o que há de novo em Cuba é chinês.
Entrando em Cuba
A imigração foi tensa de início, pois você não vê o outro lado do saguão após os guichês, já que há uma parede com portas fechadas. Quando chegou a minha vez, foi tudo tranquilo: nenhuma pergunta, apenas uma foto. Depois disso, ainda passamos por uma pequena entrevista com uma enfermeira toda vestida de branco, que nos perguntou sobre o estado de saúde. Aí, foi só esperar as malas. Esperar, esperar e esperar.
Como o movimento no aeroporto era pequeno, fiquei intrigado com aquela demora e com o fato de as malas irem chegando aos poucos. Depois de um bom tempo, lá vieram as nossas, com uma delas devidamente aberta do lado. Sacanagem: haviam cortado a costura com um estilete e a situação só não ficou pior depois porque eu tinha uma cinta e a usei o resto da viagem para segurar a mala. Quem abriu? Colômbia ou Cuba?
Dias depois, embarcando em Bogotá com destino ao Brasil, minha mala ficaria retida na alfândega, por conta de algumas garrafas, e eles me chamariam para que eu a abrisse na frente dos fiscais, o que me deu a certeza de que a sacanagem fora cometida pelos cubanos mesmo. E o pior é que a moça da Taca foi grossa e nem deu bola para as minhas reclamações. Saí do aeroporto amargurado com o prejuízo. Paciência.
Roteiro
Sempre viajo por conta própria, montando meus pacotes. Porém, a parte interna de Cuba foi comprada de uma agência de turismo em São Paulo muitíssimo profissional. Deles, adquiri para duas pessoas: 1) transfer de Havana para Varadero; 2) resort all inclusive em Varadero, por três noites; 3) transfer para o aeroporto de Varadero; 4) voo de Varadero para Cayo Largo; 5) transfer em Cayo Largo; 6) resort all inclusive em Cayo Largo, por três noites; 7) transfer para o aeroporto de Cayo Largo; 8) voo para Havana; 9) transfer até o hotel Meliá Cohiba; 10) duas diárias nesse hotel; 11) transfer do hotel para o aeroporto de Havana.
Paguei pelo pacote todo, para um casal, pouco mais de R$ 5.000,00. Não achei caro, definitivamente. Só tive insegurança quando recebi em casa os vouchers, que eram simples cartões emitidos pela agência de turismo, em convênio com uma agência cubana. Nada de bilhetes aéreos e outros documentos que estamos acostumados.
Dinheiro
Já no saguão do aeroporto, troquei 100 euros em CUC, a moeda cubana para turistas. Sim, em Cuba há duas moedas: uma para turistas, equivalente ao dólar; outra, para os moradores locais. Tudo o que paguei foi com CUC – os cubanos não aceitam dos turistas pagamentos na moeda deles, que vale cerca de 25 vezes menos. Por isso, as coisas saem relativamente caras para quem visita Cuba. Mas nada assustador.
Outra dica que eu já tinha lido é quanto ao dinheiro a se levar. Não tente ir para Cuba com dólares americanos, pois é bobagem. CUC 1,00 = US$ 1,00. Só que eles cobram uma taxa para converter dólares e você se ferra. Leve euros, a melhor solução. Outra dica: troque seu dinheiro no aeroporto mesmo, pois foi a melhor cotação que encontrei. Não há câmbio fácil fora dos hotéis, que costumam ter uma cotação fraca. Em relação aos cartões de crédito, são aceitos em poucos lugares, normalmente apenas nos hotéis, motivo pelo qual levar dinheiro é essencial.
Havia uma pessoa da agência de turismo nos esperando e ela falava português, embora o espanhol não fosse problema para nós (minha esposa é professora justamente de língua espanhola). Fomos encaminhados para o táxi e essa foi a primeira das várias surpresas agradáveis que tive com o pacote que comprei: tudo funcionou de forma perfeita, desde os transfers até os voos. Só o hotel em Cayo Largo decepcionou.
Já na saída do aeroporto, foi possível ver inúmeros carros americanos das décadas de 1940 e 1950, um dos maiores baratos de Cuba. É realmente uma volta no tempo! Nos meus cálculos, 40% dos carros cubanos são desses modelos; 40% são soviéticos com mais de trinta anos de uso e o restante são veículos mais novos, normalmente europeus e asiáticos. As placas amarelas são de carros particulares e estão quase todas nos modelos antigões. Nosso táxi não era um desses, mas um Skoda mais ou menos da minha idade.
Varadero
A viagem de carro até Varadero só não é mais chata porque a gente fica olhando o país. Não há pobreza extrema, embora a maioria das habitações seja simples. As estradas são boas e algumas delas são bem largas, com um trânsito tranquilo, até pela pouca quantidade de automóveis.
Nosso motorista, o Jorge, não conversou muito, mas falou do regime, elogiou Fidel e se mostrou orgulhoso do sistema educacional e de saúde em seu país, que são públicos, universais e gratuitos. Também mostrou preocupação quanto ao estado de saúde de Hugo Chavez e o resultado das eleições na Venezuela. Não falou o motivo, mas sei que é pelo apoio ideológico e financeiro que Chavez dá para Cuba. Vi algumas zonas industriais, uma usina termelétrica e muitos pontos de extração de petróleo ao longo da estrada. Fiquei pensando no quanto o país poderia se desenvolver se não fosse o embargo econômico.
Paramos em um lugar na estrada para irmos ao banheiro. O motorista disse que a maioria dos turistas gostava de parar lá para tomar Piña Colada, mas como eu tinha acabado de tomar um antialérgico, não quis. Aliás, meu estado físico não estava bom, com uma sinusite forte e o ouvido machucado do avião. Paramos também em Matanza, para eu tirar umas fotos, e seguimos viagem. Entramos em Varadero, mas nosso hotel era um dos últimos e demoramos a chegar. Eu estava um caco! Dei cinco CUC para o Jorge e ele se mostrou muito feliz. Para eles, isso é uma fortuna.
Enfim, chegamos ao hotel Paradisus Princesa del Mar. O check-in já estava pronto e recebemos algumas explicações do funcionário. O hotel me pareceu um pouco antigo, mas bonito. Fomos em um carrinho elétrico para o quarto, onde logo tomei um banho. O quarto era bonito e grande, mas vinha com o inevitável cheiro de mofo da beira mar.
Não vou entrar em detalhes sobre Varadero, para não tornar essa narrativa ainda mais longa, mas digo apenas uma coisa: não compensa. Há praias muito mais bonitas no Caribe. Além disso, você fica relativamente isolado da realidade do país, pois Varadero é uma península composta quase só de resorts, cheia de turistas canadenses e europeus. Para nós, foi bom apenas para descansar um pouco, mas se eu soubesse, nem teria ido para lá.
Varadero a Cayo Largo
Voar dentro de Cuba é sempre uma emoção. Em primeiro lugar, não sabíamos qual seria a companhia aérea e nem mesmo o horário do voo, mas apenas o dia. A agente que nos recebeu em Havana nos orientara a procurar o guichê da agência que havia no hotel na véspera de nossa viagem, para “instruções mais detalhadas”. Foi o que fizemos. Descobrimos que nos pegariam no hotel às 5h30 da matina, sem indicação ainda do horário do voo. E lá fomos nós para mais uma madrugada rumo ao aeroporto!
O ônibus de fabricação chinesa chegou às 5h35 e fomos os primeiros a embarcar nele, já que nosso hotel estava na ponta da península. Foi então uma peregrinação de resort em resort, por um tempo infindável, colhendo a cada parada uma leva de turistas russos. Percebi que a maioria tinha comprado apenas a excursão de um dia para Cayo Largo, um famoso bate-e-volta, com saída pela manhã e volta no final do dia. Por isso, estavam quase todos de roupas de banho, enquanto eu e a minha esposa estávamos de calça e blusa.
Ônibus cheio, um guia cubano começou a dar um monte de informações em russo, já que quase todos ali eram dessa nacionalidade. Esse é outro ponto interessante de Cuba: embora o país não esteja mais sob o guarda-chuva soviético, a influência russa ainda é vista por lá, de leve, seja pela presença de turistas, por inscrições no idioma ou pelos veículos e aviões.
Por falar em avião, tratei logo de perguntar ao guia em que aeronave voaríamos e ele me respondeu contente que iríamos em um Embraer. Que felicidade! Melhor viajar com um monte de russos em um avião brasileiro, do que com um monte de brasileiros em um avião russo!
Às 7h00, chegamos ao aeroporto de Varadero. Também com aparência nova e moderna, guardadas as devidas proporções, estava praticamente vazio. Nos painéis, apenas alguns voos internos de companhias de fretamento e um ou dois internacionais, provenientes da Europa e do Canadá.
Aero Caribbean
Às 7h50, finalmente embarcamos no Embraer Bandeirante EMB-110P, de prefixo CU-T1552, da Aero Caribbean, uma das empresas de fretamento cubanas. Pesquisando na internet, encontrei informações sobre a aeronave: iniciou suas operações em 05/11/1976, apenas oito meses depois do meu nascimento, voando primeiro pela Rio-Sul. Passou pela Total Linhas Aéreas, viajou pela Amazônia em algumas companhias de táxi aéreo da região, até chegar às mãos da Aerocaribbean em agosto de 2010.
Em síntese, um aparelho com quase 36 anos de uso no dia do nosso embarque. Mas eu estava muito feliz, pois era um avião brasileiro e eu havia encucado que era melhor um Embraer do que qualquer máquina russa. Outra coisa que me deu segurança foi a habilidade dos cubanos com a manutenção em geral. Se os carros deles com mais de sessenta anos ainda andam, por que um avião com 36 não voaria bem?
Viajar em um Bandeirante é uma experiência interessante, porque o bicho não é pressurizado e treme todo com os motores enquanto está taxiando. Quanto aos bancos, uma fileira unitária na esquerda, outra com duas poltronas na direita, sem divisão entre elas. Para ser mais exato, é um banco só, no qual cabem duas pessoas. Para tampar as janelinhas, há cortinas, como as que existem nos ônibus.
Embora tremendo muito, o Bandeirante decolou tranquilo e iniciou uma lenta subida. Mais uma vez, iríamos cruzar Cuba, só que agora do norte para o sul. Como o avião voava relativamente baixo, por conta da falta de pressurização, pude observar bem o país e ver que há muita terra para a agricultura, mas com pouco uso. Uma pena, pois poderia ajudar no desenvolvimento do país.
Chegada
O voo durou apenas 35 minutos. Após atravessarmos a ilha, pegamos um pedaço do Mar do Caribe e fiquei deslumbrado com aquelas águas rasas, límpidas e coloridas, que pareciam um retrato do paraíso. Pensei até que um pouso na água ali não seria uma tragédia total… Que pensamento besta! E, graças a Deus, ninguém ouviu as bobagens que circulavam pela minha cabeça, permitindo que o avião pousasse na estreita ilha de Cayo Largo com tranquilidade.
O pequenino aeroporto local é arrumadinho, mas muito simples. Para nos recepcionar, uma banda tocando música caribenha, algo extremamente comum em qualquer canto de Cuba, que parece ter sua alma diretamente ligada à música. Ser artista em Cuba é poder se aproximar do turista e ganhar um pouco mais, exatamente o que eles estavam fazendo ali, iniciando a música assim que os passageiros de um voo passavam pelo pequeno saguão, para logo terminarem assim que o último saía. Chegava outro voo e tudo recomeçava! Pude observar isso porque fiquei uns vinte minutos esperando meu transfer.
Cayo Largo
Se o Paradisus Princesa del Mar, de Varadero, é um resort razoável, o Sol Cayo Largo é um desastre. Aliás, acho que todos os hotéis da pequena ilha são horríveis. Para começar, chegamos ao resort às 9h10, mas só podíamos entrar no quarto às 15 horas. Para não perder tempo, abrimos as malas, arrumamos um banheiro e colocamos trajes mais adequados para a praia ali ao lado. Aproveitamos também para tomar o café da manhã que estava sendo servido, oportunidade em que constatei um dos piores defeitos do hotel: a comida. Além de não ser muito boa, às vezes me dava medo, especialmente por conta dos diversos desarranjos gastrointestinais que já tive na vida. Ver aquela comida toda exposta ao calor que fazia por lá, mosquitos voando aqui e ali, um monte de funcionários de má vontade, uma aparência de decadência, tudo isso não foi – definitivamente – uma boa recepção. Mas, tomei meu café mesmo assim e fomos para a praia, que fica junto ao resort.
Também não vou entrar em detalhes sobre Cayo Largo. Digo apenas uma coisa: vale muito! Sim, o resort all inclusive é uma porcaria. O voo pode ser medonho, caso você tenha pavor de aviões velhos. Além disso, a praia que fica junto aos hotéis é bonitinha, mar azul, mas não é lá a oitava maravilha do mundo. Só que o grande barato da ilha fica um pouco distante dos hotéis: as praias de Paraíso e La Sirena.
Do Sol Cayo Largo, sai uma espécie de trenzinho de tempos em tempos, que se sacoleja por um bom tempo em uma via de terra até chegar ao paraíso, que são essas duas praias indescritíveis, maravilhosas, quase desertas, de um azul que só o Caribe sabe ter, completado por aquela areia branquinha. Aquilo, sim, era algo que valia a pena, não o muxoxo de Varadero.
Noves fora a porcaria do resort, com suas piscinas envelhecidas, funcionários mal humorados e comida sinistra, o passeio a Cayo Largo valeu a pena. Aconselho a não fazer as excursões de um dia, pois devem cansar muito. Vá para lá com tempo, pois o hotel esculhambado é relativamente barato e você sobrevive a ele, podendo aproveitar duas praias paradisíacas.
Cayo Largo a Havana
Na véspera da nossa partida, procurei o funcionário da nossa agência de turismo para ver se seria possível embarcarmos em um voo pela manhã. Cayo Largo era legal, mas queríamos ir logo para Havana, pois só teríamos dois dias por lá. A notícia, porém, não nos agradou: nosso voo seria à tarde e ponto final. Sim, havia voos de manhã, mas o nosso seria à tarde, sem discussão.
No dia da partida, acordamos às 8h40 e fomos tomar café. Ruim como sempre, mas pelo menos comi uma omelete feita na hora. Voltamos para o quarto e arrumamos as malas. Começou então o dia micado. A água acabou. Fomos para a praia do hotel por volta das 10h20 e ficamos lá até 11h30, então voltamos para o quarto com o corpo pregando de água do mar, só que ainda não tinha água e tivemos que fazer check-out sem tomar banho. O pior é que a atendente do hotel não queria deixar a gente ficar com as toalhas de praia, o que nos permitiria ao menos um banho de ducha depois. Foi com custo que consegui ficar com as toalhas.
Ficamos nas piscinas até 13h15 e fomos almoçar. Fraco, muito fraco. Depois disso, o jeito foi gastar o tempo nas piscinas até perto das 16 horas, quando tomamos uma ducha ali mesmo, trocamos de roupa e ficamos aguardando o transfer para o aeroporto, que chegou às 16h30. O trajeto foi rápido, mas no aeroporto descobri que nosso voo era só 18h30 e iríamos em um avião russo. Pior: não voaríamos para o aeroporto internacional de Havana, mas para outro um pouco mais distante da capital. Paciência! Se a viagem fosse tranquila e abençoada, já valeria.
Aerogaviota de Antonov
Ficamos um bom tempo no aeroporto de Cayo Largo. Vi uma banca de livros lá dentro: só propaganda política. Triste. No pátio, um avião da Cubana de Aviación muito velho, estranho. Quando ele estava manobrando para decolar, vi sair labaredas de fogo de sua turbina direita e pensei: Deus me livre de voar em algo assim. Pois quando nos chamaram para embarcar, foi justamente em um desses que entramos, um Antonov An26B de prefixo CU-T1406, propriedade da Aerogaviota.
Se minhas consultas não estiverem erradas, foi fabricado em 1977. Você pode até pensar que foi sorte nossa retornar em um avião mais novo do que o Bandeirante de 1976, mas em nenhum momento essa “juventude” de 35 anos me animou.
Tenho certeza que devia ser antes um avião de carga, porque se entrava pela traseira e não havia janelas para todas as fileiras. Também não havia saídas de ar e o calor foi ficando infernal, sufocante. Do lado de fora, um gerador para dar partida no motor. Medonho! E quando estava manobrando, vi as labaredas também no motor ao meu lado! Cruz credo!
O avião decolou com poucos minutos de atraso e quando foi subindo entrou um ar mais fresco. Não houve turbulência e o voo foi tranquilo, graças a Deus. Pousamos em um minúsculo e ridículo aeroporto a oeste de Havana e as malas demoraram a descer. Depois, pegamos um ônibus até o Meliá Cohiba, nosso hotel. O atendimento de check-in foi lento e desatencioso, mas ficamos satisfeitos: realmente, é um 5 estrelas, principalmente para os padrões cubanos.
Havana e a viagem de volta
Se você pretende ir a Cuba, gaste a maior parte dos seus dias em Havana. Dizem que Santiago de Cuba também é muito legal, mas fica do outro lado da ilha e não quis arriscar. Dois voos em aviões com a minha idade já foram suficientes para dar emoção à viagem!
Havana é uma cidade muito louca, que me lembrou em alguns pontos Salvador, mais especificamente o Pelourinho, mas sem os morros. A música e a dança estão por toda parte. Os edifícios caindo as pedaços, literalmente, são uma atração à parte. A região de Havana Velha é um lugar para ser percorrido com calma, sendo imperdível o mojito do La Bodeguita del Medio e o daiquiri do La Floridita.
Há triciclos chamados “Coco-Táxi” que fazem o trajeto de um lado para o outro, a um custo não muito baixo, mas também nada exagerado. Combinei com um coco-taxista e ele fez um passeio conosco por duas horas por Havana, levando-nos a pontos que normalmente não são visitados por turistas.
Enfim, fiquei apaixonado por Havana, uma cidade praticamente sem lojas, mas com uma cultura impressionante. Para os consumistas, recomendo comprar charutos apenas em locais especializados (comprei em uma loja do hotel mesmo), porque sempre te oferecem na rua, mas dizem que é roubada. Rum também é uma boa pedida para compras, assim como telas de pinturas, que são lindas e saem por um preço acessível. Fora isso, esqueça o consumismo, até porque Cuba ainda é comunista e não há o que comprar.
Quanto ao aeroporto, existem algumas lojas simples em sistema de free-shop, com preço exatamente igual ao do hotel onde estávamos, ou seja, não compensa. Além disso, vendem apenas produtos locais, como os já citados charutos, rum e pequenos souvenires.
Ficamos dois dias em Havana e voltamos em uma sexta-feira à tarde, em um voo da Avianca, direto para Bogotá. Foi uma viagem tranquila e relativamente rápida. Gastamos mais um dia em Bogotá e voltamos satisfeitos para o Brasil, em um A-320 da TAM cheio de padres católicos que tinham ido a uma conferência na capital colombiana. Na volta, ainda compramos algumas coisas no free-shop do El Dorado, que tinha preços muito melhores do que o brasileiro.
É isso. Cuba vale muito a pena, mas não perca tempo com Varadero. Mergulhe no país, em sua cultura e na alegria do povo. Se puder, visite Cayo Largo também.
Agradecemos ao Alexandre pelo ótimo relato, que certamente será bastante útil aos demais leitores. E você, já viajou para Cuba? Conhece as companhias aéreas de lá? Deixe sua impressão nos comentários abaixo e ajude outros leitores! Se fez ou vai fazer uma viagem com alguma empresa aérea que ainda não foi avaliada aqui no Melhores Destinos ficaremos felizes em publicar sua avaliação: entre em contato com a gente pelo e-mail dicas@melhoresdestinos.com.br Você também pode conferir todas as avaliações publicadas pelo MD neste post.