Embarcamos na linha de ônibus mais longa do mundo do Rio de Janeiro a Lima! Veja como foi a experiência

Já imaginou passar quase seis dias dentro de um ônibus? Pois esse é o tempo necessário para percorrer os mais de 6 mil quilômetros da maior linha de ônibus do mundo, que vai do Rio de Janeiro até Lima, no Peru. Um trajeto que atravessa seis estados brasileiros, cruza a Cordilheira dos Andes, percorre estradas sinuosas no país vizinho e passa até por um deserto!

O ônibus da empresa Trans Acreana parte da Rodoviária Novo Rio às 13h de quinta-feira e chega à Estação Terrestre Atocongo, em Lima, na tarde da terça-feira seguinte. São cinco dias e meio de estrada com paradas rápidas para refeições e banho. Uma aventura daquelas dignas de um filme!

Embarquei sozinho nessa jornada com a missão de registrar a viagem e reunir informações práticas para aqueles que pretendem viver essa experiência e também para os entusiastas que preferem (ou só podem) curtir uma viagem como essa do conforto do sofá de casa. Confira os detalhes a seguir em texto ou em vídeo:

História da maior linha regular de ônibus do mundo

Até o início de 2020, a maior linha de ônibus do mundo ia do Rio de Janeiro até Bogotá, na Colômbia, passando pelo Peru e Equador, numa viagem que durava cerca de 10 dias. No entanto, a empresa peruana Expreso Internacional Ormeño (que era responsável pelo trajeto) encerrou suas atividades e a rota deixou de ser realizada.

Em maio de 2023, a Trans Acreana assumiu parte do trajeto, que embora seja mais curto que o original, ainda é considerado o maior do mundo feito por um ônibus regular, de acordo com o livro dos records.

Até existem viagens de ônibus mais longas que essa, mas que não são linhas regulares. Tratam-se de excursões com paradas mais longas, nas quais, geralmente, os passageiros passam a noite em hotéis do percurso; como o caso da viagem de 56 dias que passa por 22 países na Europa em ônibus de luxo.

Por onde passa a maior linha de ônibus do mundo?

A mais longa linha de ônibus do mundo sai do Rio de Janeiro e percorre pouco mais de 6 mil quilômetros até Lima, capital do Peru. No trajeto, passa por São Paulo, Campo Grande no Mato Grosso do Sul, Cuiabá no Mato Grosso, Porto Velho em Rondônia e Rio Branco no Acre.

É possível iniciar a viagem em qualquer uma destas cidades brasileiras (ou em outras que estejam na rota), porém, só as passagens com saída do Rio de Janeiro e São Paulo podem ser adquiridas diretamente pelo site da Trans Acreana (clique aqui), para sair das demais capitais da rota é necessário fazer a compra nos guichês da empresa ou através do atendimento Whatsapp informado no site da Trans Acreana.

Já no Peru, o ônibus passa por Iñapari, Puerto Maldonado, Cusco, Abancay, Nazca e Ica antes de chegar a Lima. Indo do Brasil é possível desembarcar em qualquer uma das cidades do trajeto.

No sentido inverso, de Lima para o Rio de Janeiro, também é possível embarcar nessas localidades intermediárias e descer em qualquer cidade ao longo da linha – se o objetivo não seja ir até o Rio de Janeiro. Nesse caso, é necessário entrar em contato diretamente com a Trans Acreana para compra das passagens.

A cidade de Cusco é a principal porta de entrada para quem deseja seguir até Machu Picchu, um dos destinos mais visitados do Peru

Compra da passagem

Fiz a compra da passagem pelo site da Trans Acreana (clique aqui), mas os bilhetes também estão disponíveis na plataforma Clickbus.

As passagens com saída tanto do Rio de Janeiro quanto de São Paulo custam R$ 1.350,00, mas em promoção sai por R$ 1.000,00 o trecho (R$ 2.000,00 ida e volta).

O site da Trans Acreana usa o sistema da Clickbus para venda dos bilhetes, por esse motivo há uma taxa adicional de emissão de 14%, que aumenta consideravelmente o valor da passagem. Na compra online, cada trecho sai por R$ 1.140 e foi esse o valor que paguei na passagem só de ida do Rio de Janeiro para Lima. A dica para economizar é fazer a compra direto nos guichês da empresa nas rodoviárias ou pelo Whatsapp da Trans Acreana.

Por enquanto, as saídas são quinzenais, sempre às quintas-feiras, às 13h. Uma semana o ônibus parte do Rio de Janeiro rumo ao Peru e na semana seguinte inicia o trajeto de retorno, iniciando em Lima, também na quinta-feira. Dependendo da demanda, a empresa espera que a frequência passe a ser semanal no futuro. No mês de dezembro de 2023 já estão previstas saídas extras.

Para embarque em outras cidades o valor muda. Saindo de Rio Branco, por exemplo, o bilhete de ida custa R$ 450. Para consultar os valores de saídas de outras cidades é necessário entrar em contato com a Trans Acreana.

Mesmo comprando a viagem pelo site, foi preciso retirar o bilhete na rodoviária Novo Rio antes do embarque, por isso cheguei uma hora antes da partida, conforme recomendado pela empresa.

Como é o ônibus que faz a rota?

Após retirar meu bilhete segui para a plataforma de embarque e logo encontrei o ônibus laranja e amarelo da Trans Acreana que seria minha casa nos próximos cinco dias.

O ônibus da empresa que percorre a maior linha regular do mundo é um double deck, semi-leito, com capacidade para até 50 passageiros (42 no piso superior e mais 8 no piso inferior). São duas fileiras com dois assentos de cada lado. Todas as poltronas são iguais e possuem o mesma configuração. Não há assentos do tipo leito nesse carro.

Vale mencionar que quando fiz a compra da passagem pelo site da Trans Acreana, embora estivesse especificado que o ônibus seria semi-leito, o mapa de assentos exibido era de um ônibus menor, leito, na configuração 1-2 (uma fileira com um assento e outra com dois).

Dessa forma, escolhi a poltrona 3, bem na frente para poder fazer as imagens, e sem ninguém do lado. No entanto, com a troca do carro, acabei tendo a companhia de uma adolescente peruana na maior parte da viagem.

A Trans Acreana deixava o mapa do carro menor no site e a medida que as vendas iam sendo feitas, trocava para o carro de maior capacidade. Felizmente, eles abandonaram essa prática e agora o mapa que aparece no momento da compra é o do ônibus correto.

Os assentos da parte de baixo do ônibus só são vendidos caso o piso de cima esteja lotado.

A principal vantagem do ônibus em relação ao avião é a franquia de bagagem. Cada passageiro tem direito a levar até 50kg sem nenhum custo adicional.

Assentos e comodidades

Os assentos do ônibus até que são confortáveis – considerando que a viagem dura mais de cinco dias – e embora não seja uma poltrona cama, ela reclina 160º e possui apoio para as pernas.

Cada assento conta com tomada USB e suporte para bebidas, além de luz de leitura e saída de ar-condicionado.

A princípio achei que seria difícil enfrentar tanto tempo de viagem em um ônibus semi-leito, mas foi bem mais tranquilo do que esperava (as poltronas são bem mais macias e confortáveis que as de avião). O principal ponto negativo é que os assentos não são muito largos e esbarrar-se com o vizinho ao longo dos dias acaba sendo inevitável. Se o parceiro de assento for uma pessoa grande pode ser bem incômodo.

Um ponto positivo é que a Trans Acreana usa um espaçamento maior entre os assentos, assim ninguém fica espremido quando o passageiro da frente reclina a poltrona dele.

Há cortinas em todas as janelas, então mesmo quem senta na frente (como foi o meu caso) não precisa se incomodar com o sol ou os faróis dos outros veículos durante a noite.

No fundo do ônibus há um bebedouro com água natural ou gelada (que estava mais para fresca).

Há wi-fi no ônibus, mas não chega a fazer tanta diferença assim, ele funciona nas mesmas regiões quem que há sinal de dados no celular.

O banheiro fica na parte de baixo do ônibus e confesso que esse é outro aspecto que me afligia antes do embarque. Como ficaria a situação do toalete depois de tanto dias na estrada? Felizmente ele se manteve limpo e organizado na maior parte do trajeto, em cada parada era feita a limpeza e manutenção.

Os passageiros também colaboraram, evitando fazer o número dois a bordo e deixando para as paradas. Ufa!

A empresa não fornece travesseiro nem manta para a viagem. Vi que alguns passageiros mais experientes já levaram o seu próprio kit de descanso.

Documentação para fazer a rota

Para viajar ao Peru só é necessário documento de identificação, que pode ser o passaporte ou o RG com emissão de no máximo 10 anos.

CNH e carteiras de identidade emitidas por entidades de classe não são válidas como documento de identificação para entrada no Peru ou outros países vizinhos.

Levei passaporte e RG, mas optei por apresentar o passaporte para receber o carimbo do Peru. Na fronteira, perguntaram apenas quantos dias eu ia ficar no país e se era a primeira vez que eu visitava o Peru.

Atualmente não é necessário apresentar nenhum tipo de comprovação de vacinação para visitar o país.

Em Assis Brasil é necessário passar pelo posto da Polícia Federal para registrar a saída do Brasil, só com esse registro é possível dar entrada no país vizinho, já na cidade de Iñapari.

Melhor época para fazer o trajeto

É difícil dizer qual a melhor época para fazer uma viagem longa como essa, já que as variações de clima e temperatura ao longo da rota são bastante grandes.

No mês de julho costuma fazer mais frio no trecho da cordilheira, com temperaturas negativas e possibilidade de neve, o que transforma completamente a paisagem.

Já nos meses de verão faz muito calor e costuma chover mais nos estados brasileiros pelos quais o ônibus passa, o que pode interferir nas condições das estradas e aumentar o tempo de viagem.

Fiz a rota no início de setembro e gostei bastante, é uma época mais seca e as temperaturas no Brasil ainda estão amenas.

O período mais chuvoso na Cordilheira peruana costuma ser entre os meses de outubro e abril.

Alimentação durante a viagem

Além do gasto com passagens, é importante considerar a alimentação durante o trajeto, afinal são quase seis dias.

O ônibus faz paradas rápidas para café, almoço e jantar. Porém, os horários de parada não são fixos, dependem da disponibilidade de estrutura ao longo da rota.

Normalmente as paradas são em postos de combustível ou restaurantes/lanchonetes às margens das rodovias. A parada para o café da manhã é mais curta, em torno de 30 minutos, já as demais variam de 40 minutos até uma hora. A parada mais longa foi em Rio Branco, para limpeza e manutenção do ônibus, quase três horas.

Em geral, os preços das refeições variam entre R$ 30 e R$ 40 (mesmo no Peru, considerando a conversão para real).

Em território peruano é possível experimentar alguns pratos típicos bem populares, em restaurantes locais, como o famoso Cuy ou o arroz chaufa. Além de provar o famoso refrigerante típico do país, distribuído pela Coca-Cola, a Inca Kola.

Por precaução levei algumas frutas e petiscos na mochila, assim quando a parada demorava um pouco mais eu não ficava com fome. Nas paradas sempre aproveitava para comprar uma ou duas garrafas de água gelada, já que a do ônibus estava quase sempre em temperatura ambiente.

Ao todo gastei R$ 425 com alimentação e banho ao longo da viagem, considerando também o que comprei no supermercado para levar.

Banho na viagem

Essa é a grande preocupação dos passageiros que desejam se aventurar na maior linha de ônibus do mundo, e com razão. Um bom banho ajuda a relaxar e certamente torna a viagem de todos mais agradável, já que o cheirinho no interior do ônibus melhora consideravelmente. Confesso que essa também era uma das minhas preocupações, já que não curto ficar tanto tempo sem uma ducha.

Os momentos para higiene corporal são durante as paradas para refeições, geralmente do almoço ou jantar, que são as mais longas. E as condições dos chuveiros variam bastante!

Cheguei a pagar R$ 10 por um banho gelado na cidade de Sonora, no Mato Grosso do Sul; tomar banho frio (porém gratuito) em Cacoal, em Rondônia; ficar um dia inteiro sem banho devido ao atraso do ônibus (e ter que me virar com os lenços umedecidos que levei) e até a tomar um banho quente e gostoso, sem custo nenhum, já em território peruano. Mas não se engane! Nem todos os colegas tomam banho durante a viagem.

Vale ressaltar que os lugares das paradas, tanto para banho quanto para as refeições, são bem simples. Se espera algum luxo, definitivamente essa viagem não é para você.

Dinheiro na mais longa viagem de ônibus do mundo

No trecho pelas rodovias brasileiras não tem segredo, basta usar dinheiro em espécie, cartões ou recorrer ao bom e velho pix para fazer os pagamentos. Usei apenas o cartão de crédito para pagar as refeições, o único lugar em que precisei usar pix foi para pagar o banho na segunda noite de viagem, em Sonora, no Mato Grosso do Sul.

Já no trecho peruano a coisa muda de figura, ou melhor, de moeda. Nem todos os lugares aceitam cartão no Peru, por isso é bem importante ter um pouco de dinheiro em espécie para as despesas básicas.

É possível trocar reais ou dólares por soles (a moeda oficial do Peru) ainda na fronteira, em frente ao posto de imigração em Iñapari. Também é possível sacar dinheiro local em caixas eletrônicos usando contas digitais globais para viagem como a Nomad ou Wise.

Empolgado com o trabalho e a produção do vídeo da viagem, acabei esquecendo desse “detalhe” do dinheiro, o que rendeu alguns perrengues extras – mas não foi o fim do mundo.

Em alguns lugares consegui pagar as refeições com meu cartão Nomad, porém, na lanchonete em que paramos para o café da manhã na cordilheira e no restaurante em que jantamos em Abancay o pagamento com cartão não era aceito. Acabei emprestando soles de outro passageiro mais precavido que eu (valeu, Antônio!)

Chegando a Nazca para almoçar, o restaurante aceitava cartão, porém o dono guardou a maquininha e se recusou a aceitar o método de pagamento dos passageiros. Com a grosseria, desisti do almoço e comprei petiscos na loja de conveniência do posto de combustível, usando cartão.

Na parada do mirante das Linhas de Nazca acabei trocando 20 dólares com um dos seguranças para pagar a entrada de 6 soles e quitar a dívida com meu companheiro de viagem. Depois disso, só usei o cartão da Nomad durante minha estadia no Peru, tanto em Lima quanto na passagem por Cusco e Machu Picchu.

Motivos para embarcar na maior linha de ônibus do mundo

Conversando com os outros passageiros, percebi que existem basicamente três perfis de viajantes que optam por fazer todo esse trajeto de ônibus ao invés de ir de avião:

Passageiros de última hora – todo viajante sabe que comprar passagem aérea de última hora é sempre um péssimo negócio. Se em promoção é possível encontrar passagens do Rio de Janeiro ou São Paulo para Lima por menos de R$ 1.500 ida e volta, próximo à data da viagem esse valor pode passar facilmente de R$ 3.500. Assim, para quem decide (ou precisa) ir de última hora encontra no ônibus uma alternativa mais econômica, apesar do maior tempo de viagem.

Muita bagagem – pagar pela bagagem despachada em viagens de avião não é barato e as passagens promocionais normalmente incluem apenas a bagagem de mão, de até 10kg. Sendo assim, quem tem muita bagagem para levar ou está de mudança, encontra no ônibus uma vantagem; já que a passagem terrestre inclui até 50kg de bagagem por passageiro. Nessa viagem, conheci uma família de mudança para o Peru que optou por ir de ônibus justamente por esse motivo.

Viver uma aventura – muitos viajantes escolhem o ônibus apenas pela experiência, pela vontade de viver algo diferente. Eles não se importam muito com o tempo até o destino, querem mesmo é curtir o percurso e buscam sair da zona de conforto, criar memórias e ter história para contar. A travessia da cordilheira dos Andes por terra, certamente, é um dos principais atrativos dessa rota.

Curiosidades sobre a maior linha de ônibus do mundo

Claro que uma viagem longa como essa também apresenta algumas curiosidades bem interessantes:

Mal da altitude (soroche) – Em alguns trechos da cordilheira dos Andes a altitude passa dos 4 mil metros, com isso é comum que passageiros sintam os efeitos da altitude e da menor quantidade de oxigênio disponível no ar. Os sintomas são dor de cabeça, cansaço, náusea ou perda de apetite, irritabilidade e, em casos mais sérios, falta de ar e confusão.

Cilindro de Oxigênio – Por precaução, para socorrer os casos mais graves de soroche, em Rio Branco o ônibus é equipado com um cilindro de oxigênio. Felizmente seu uso não foi necessário.

Tampa do motor aberta – O ar rarefeito também dificulta a combustão no motor, que precisa de oxigênio para a queima do combustível. Por isso, a tampa do motor do ônibus fica aberta nesse trecho, para melhorar a ventilação. A potência do motor também é bem importante em uma viagem nessas condições extremas.

Diferença de pressão – a diferença de pressão do ar aumenta a vontade de soltar pum, o que não é uma notícia muito boa quando você está em um ônibus fechado, cheio de desconhecidos, confesso. Felizmente não houve nada sério nesse sentido.

Buzina – nas curvas das estradas peruanas os motoristas buzinam constantemente para avisar quem vem no sentindo contrário. Por serem muito fechadas, as curvas não permitem que um ônibus e um caminhão passem ao mesmo tempo, por exemplo. A preferência é sempre de quem está subindo.

Motoristas – ao todo, seis motoristas se revezam no volante durante a viagem. três vão do Rio de Janeiro até Rio Branco no Acre, e outros três assumem de Rio Branco até lima. Há sempre dois motoristas na cabine e o terceiro aproveita para descansar, afinal o ônibus só para para as refeições e segue rodando a noite toda.

Como foi viajar na linha de ônibus mais longa do mundo

Dia 1 (quinta-feira – 31/8/23)

Embarquei no Rio de Janeiro e o ônibus partiu pontualmente às 13h. Além de mim, apenas mais um passageiro iniciou a viagem na maior linha de ônibus do mundo no Rio de Janeiro, seu Jorge Silveira de Lima, de 74 anos. (Fomos os únicos a fazer a linha completa nessa viagem). A maioria das pessoas costuma embarcar em São Paulo, no Terminal Tietê.

Esse primeiro trecho foi bem tranquilo, chegamos a São Paulo com tempo de sobra para jantar antes do horário marcado para embarque no Tietê. Escolhemos um restaurante em frente ao estacionamento do ônibus, indicado pelos próprios motoristas.

De volta à viagem, embarcaram mais 15 passageiros em São Paulo – muitos peruanos –, incluindo a moça que sentou do meu lado até Cusco. Não houve mais parada nesse dia, então procurei dormir o máximo possível.

Dia 2 – (sexta-feria – 01/09/23)

Durante a madrugada houve uma parada rápida para carregar carga e ao amanhecer cruzamos a ponte sobre o Rio Paraná, que marca a divisa dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

A parada para o café da manhã foi na cidade de Nova Andradina (MS) às 8:30, o almoço em Campo Grande às 12h; e o jantar já na divisa com o Mato Grosso, na cidade de Sonora, às 19h.

Na parada da noite tomei o primeiro banho da viagem, frio e ao custo de R$ 10 pago no pix.

Logo após o almoço, fomos parados pela fiscalização da ANTT, que verificou a documentação do ônibus, motoristas, a ordem da viagem e se havia malas de rodinha ou mochilas muito grandes na cabine (elas devem ser levadas sempre no bagageiro do ônibus). Foram mais de 40 minutos até sermos liberados para seguir viagem.

Ao longo do dia, minha companheira de assento decidiu assistir séries e ouvir música no celular sem fones de ouvido, em volume alto. Depois de muitas horas pedi educadamente que ela usasse fone e ela colaborou, mas a prima dela e o namorado no banco de trás não.

Dia 3 – (sábado – 02/09/23)

Durante a madrugada passamos por Cuiabá, onde embarcaram mais alguns passageiros. Quando o sol nasceu, já havíamos percorrido boa parte do território de Mato Grosso.

A parada para o café foi mais cedo nesse dia, às 8h, em Pontes e Lacerda (MT). Almoçamos em Comodoro (MT) ao meio-dia. Às 14h cruzamos a divisa entre Mato Grosso e Rondônia e o jantar foi em Cacoal (RO).

A parada da noite foi em um posto de combustível, com loja de conveniência e lanchonete anexa, com boas opções de lanche. O banho foi frio novamente, mas estava calor e, dessa vez, ao menos o banho foi grátis.

Dia 4 – (domingo – 03/09/23)

Por volta de 2h da manhã passamos por Porto Velho e nem vi nada. Me acostumei a dormir no ônibus e consegui dormir de 5 a 6 horas por noite, acordando poucas vezes.

Às 8:30 da manhã estávamos em Rio Branco e a parada para o café da manhã foi em uma padaria. Aqui faltou estrutura de banheiro para receber tanta gente de uma vez só.

Enquanto os passageiros tomavam café, o ônibus seguiu para a garagem da Trans Acreana para manutenção preventiva e também para passar por limpeza geral. Vale destacar que o banheiro do ônibus se manteve limpo na maior parte da viagem com a manutenção que os motoristas faziam em cada parada.

Às 9:40 apareceu outro ônibus da empresa para levar os passageiros até a Rodoviária internacional de Rio Branco, onde ainda iríamos aguardar a finalização da limpeza do outro carro para seguir viagem.

A espera foi longa, a saída de Rio Branco ocorreu apenas às 11:40. Ao todo a parada em Rio Branco foi de quase três horas. Mais um passageiro iniciou a viagem na cidade.

A parada para almoço foi às 13:10, no município de Capixaba (AC).

No fim da tarde, chegamos a Assis Brasil, cidade acreana que faz fronteira com o Peru. Passamos pelo posto da Polícia Federal para registrar a saída do Brasil – 10 minutos antes do posto fechar, diga-se de passagem – e depois seguimos para Iñapari, já no Peru, para dar entrada no país vizinho.

Às 23h paramos para jantar em Puerto Maldonado, primeira cidade grande no trecho peruano.

Nesse dia, devido ao atraso acumulado, não houve tempo para banho. Então recorri aos lenços umedecidos que tinha na mochila para um popular “banho de gato”.

Dia 5 – (segunda-feira – 04/09/23)

Durante a madrugada um susto. Uma pedra que desceu do morro atingiu a lateral do ônibus! Ouviu-se um estrondo, houve um leve solavanco. O ônibus parou e os motoristas desceram com lanternas para fazer uma inspeção e logo retomaram a viagem.

Quando amanheceu, a paisagem que se via pela janela era bem diferente. Estávamos em meio às montanhas da Cordilheira dos Andes, seguindo por estradas sinuosas.

No início o cenário era muito verde, coberto por floresta, mas a medida que avançávamos as árvores iam desaparecendo e o terreno ficava cada vez mais seco e pedregoso.

A travessia dos Andes peruanos, com toda certeza, é um dos momentos mais aguardados da viagem e, realmente, a paisagem impressiona! Ver os picos nevados no horizonte é emocionante, bem diferente da sensação de avistá-los da janela do avião. Nesse trecho, fui convidado para ir na cabine e acompanhar o trabalho dos motoristas.

Foi feita uma parada rápida para fotos (às 8h) e então pude ver as marcas da pedra na lateral do ônibus. Ainda bem que não foi nada muito grave.

O café da manhã foi em uma lanchonete em plena cordilheira, 20 minutos mais tarde. Lá não aceitavam cartão, apenas soles. Eu já havia comido uma fruta e estava bem satisfeito (um dos efeitos da altitude é falta de apetite). Tomei um apenas um copo de café preparado pelos motoristas num fogareiro portátil.

Na saída aproveite para subir o drone e fazer algumas imagens aéreas do ônibus em movimento (claro que antes combinei com os motoristas de parar rapidamente mais à frente para recolher o equipamento).

Com paisagens tão incríveis ao longo de todo o dia, não tinha como economizar nos cliques. Esse trecho rende ótimas fotos e vídeos.

Dois passageiros acabaram passando mal na cordilheira, mas nada sério. Não foi necessário usar o oxigênio. Outros passageiros também sentiram os efeitos da altitude, reclamando de cansaço e de estarem mais ofegantes para se movimentar, mas eu confesso que não notei diferença não, uma benção!

Às 13:20 chegamos ao Terminal Terrestre da cidade de Cusco, cidade que é a porta de entrada para quem vai visitar Machu Picchu. Muitos passageiros ficaram por aqui, incluindo minha parceira de assento (não posso dizer que achei ruim).

A parada para almoço foi às 14:40, já na saída de Cusco. Era qui que serviam o Cuy (porquinho da índia assado), mas não tive coragem de provar, fiquei com o porco na brasa, menos exótico.

Ainda houve tempo para banho em posto de combustível perto dali. Banho quentinho, grátis e revigorante! Com certeza o melhor de toda a viagem!

O balanço constante das curvas, nas horas seguintes, deixaram algumas pessoas enjoadas. Depois seguimos por estradas ainda mais sinuosas até Abancay, onde jantamos por volta das 22h. Àquela hora não havia muitas opções de restaurantes abertos onde que o ônibus pudesse estacionar, então o jantar foi em um lugar bem simples, que não aceitava cartão e não tinha nem água para vender, apenas refrigerante.

Dia 6 – (terça-feira – 05/09/23)

Logo que amanheceu, paramos em um bloqueio para obras na estrada. A informação era de que a abertura ocorreria só três horas mais tarde. Resolvi então aproveitar esse tempo para esticar as pernas e caminhei alguns quilômetros para curtir a vista. Assim que a estrada foi liberada aguardei o ônibus me alcançar para embarcar novamente.

Ao todo foram quase 4 horas de paradas nesse trecho e a previsão inicial que era chegar a Lima no meio da tarde foi postergada para o início da noite. Devido a esse contratempo, não houve parada para o café da manhã. Alguns passageiros compraram comida de vendedores ambulantes que aproveitaram o bloqueio para arrecadar alguns soles.

Esse trecho da estrada entre Cusco e Nazca também é pelas montanhas e cheio de curvas. Em muitos momentos o ônibus passa na beira de precipícios, o que dá um certo frio na barriga – ainda mais do segundo andar do ônibus. Nesse trecho a velocidade não passa dos 40 km/h.

A parada para almoço foi em Nazca, às 13h. Foi aqui que o comerciante se recusou a aceitar cartão depois de ter confirmado que aceitava. Enfim.

Seguimos por cenários desérticos e retas que se perdiam no horizonte. No caminho, uma parada de 10 minutos para ver as famosas Linhas Arqueológicas de Nazca, desenhos feitos no solo árido do deserto por povos que viveram na região. São mais de 300 figuras espalhadas por uma área de 80km² e algumas delas estão bem ao lado da rodovia.

Depois disso não tivemos mais paradas até Lima, onde chegamos (finalmente!) às 20:50 da noite. Desembarquei e segui direto para o hotel, doido por um banho bem demorado.

Dicas de onde ficar em Cusco

Dicas de onde ficar em Lima

Confesso que percorrer a maior linha de ônibus do mundo foi uma experiência bem diferente e intensa. Embora eu costume viajar de ônibus pelo Brasil (nem só de avião vive o viajante, não é mesmo?) nunca havia feito uma viagem tão longa assim, cruzando a fronteira para outro país. O máximo de tempo que já havia ficado em um ônibus havia sido 15 horas.

Devido a outros compromissos de trabalho, optei por fazer o caminho de regresso de avião (e a passagem ficou até mais em conta que a de ônibus, aproveitando uma promoção de passagem aérea divulgada aqui no Melhores Destinos), mas depois de passar por essa jornada, posso dizer que a escolha do trajeto por terra tem muito mais a ver com a experiência e com a vivência proporcionada do que com economia ou tempo de viagem.

Baixe o aplicativo gratuito e fique por dentro de todas as ofertas de passagem para o Peru e também para outros destinos.

Assistir às paisagens se transformando ao longo dos dias pela janela do ônibus e ver o sol nascer e se pôr na estrada é algo mágico. É um ritmo totalmente diferente de viajar e curtir os atrativos do percurso. Guardo na memória as singelas palavras do seu Jorge, que embarcou comigo no Rio de Janeiro: “Tenho bastante tempo e não tenho pressa de chegar”.

Essa certamente é uma viagem para quem quer viver o trajeto de forma intensa, criar memórias e ter história para contar. Se esse não é seu perfil, o avião está aí e será sempre uma ótima opção.

Estadia no Peru e retorno ao Brasil

Depois de quase seis dias literalmente vivendo no ônibus, passei a noite em Lima e confesso que estranhei a cama do hotel e demorei a pegar no sono sem o balanço da estrada e o rosnado do motor. Incrível como a gente se adapta ao longo da viagem!

No dia seguinte, fiz um passeio rápido por Miraflores, o bairro no qual me hospedei, e logo segui para o aeroporto, mas não para voltar para casa.

Peguei um voo de volta até Cusco, dormi por lá, e no dia seguinte fiz a jornada até Machu Picchu para produzir um vídeo sobre como chegar a esse famoso destino peruano (que tem uma logística um tanto complexa). Conheci as ruínas, passei o restante do dia em Machu Picchu Pueblo e retornei a Cusco. Só então peguei o voo de retorno ao Brasil, com conexão em Lima.

Se tivesse mais tempo, certamente faria o sentido inverso de ônibus também, sem me preocupar com trabalho, apenas para curtir. Quem sabe ainda refaço o trajeto nas férias em algum momento no futuro hein.

---

E você, ficou com vontade de embarcar numa viagem assim? Ou acha que não vale a pena? Conta pra gente nos comentários.