Semana Santa em Sevilha: acompanhamos as cerimônias famosas no mundo todo

Há centenas de anos, fé e tradição levam milhares de pessoas às ruas durante a Semana Santa de Sevilha, na Espanha. Declarada como Festival de Interesse Turístico Internacional, a celebração ocorre desde o século 16 na cidade famosa pelo flamenco e touradas.

Realizada no fim de março, no início da primavera, é preciso se preparar para o evento caso visite Sevilha neste período do ano, pois tudo é impactado pela celebração histórica, cultural, artística e religiosa. Participei da Semana Santa de Sevilha e compartilho um pouco dessa experiência neste post.

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Semana Santa em Sevilha

A Semana Santa é uma tradição religiosa cristã que celebra a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo. Celebrada em diferentes lugares do mundo, a festa em Sevilha ganhou mais importância a partir do século 16, mas já era realizada na Idade Média.

Sem dúvida, só quem vive sabe como é participar de um evento centenário e cultural como esse, válido para religiosos ou não. A Semana Santa em Sevilha revive a resistência das tradições ao longo dos séculos e movimenta uma cidade com mais de meio milhão de habitantes.

Procissões da Semana Santa

São vários os detalhes e é a extensa a programação católica da Semana Santa em Sevilha, mas, de forma muito simplista e resumida, o evento se destaca por suas procissões.

Realizadas como devoção, as procissões são conduzidas pelos nazarenos, devotos que fazem parte das irmandades e podem ser identificados de longe por suas vestimentas incomuns aos olhares brasileiros.

Nazarenos

Com roupas, símbolos e cores específicas, os nazarenos se destacam por usarem uniformes e uma espécie de chapéu em forma de cone. Chamado de “capirote”, esse chapéu cobre todo o rosto do nazareno, deixando apenas pequenos buracos nos olhos, e é usado como sinal de penitência (vale pesquisar sobre os simbolismos de cada item das vestimentas, pois são cheios de significados e história).

Os nazarenos também podem conduzir a procissão carregando uma grande vela ou uma cruz, também em sinal de penitência.

Imagens

Durante a procissão, os chamados “costaleros” carregam nos ombros/pescoço uma estrutura pesada onde ficam as imagens sagradas, como a de Jesus e da Virgem Maria. Essas estruturas são chamadas de “pasos” e podem pesar mais de uma tonelada. Por isso, os costaleros têm todo um preparo antes da Semana Santa e precisam ter muito cuidado durante esse transporte tão simbólico (e difícil).

Vi o ensaio dos costaleros semanas antes das procissões e fiquei surpresa com tamanho esforço necessário para carregar as imagens! Todos precisam andar no mesmo ritmo para tornar o transporte viável e sem machucá-los.

Cada irmandade leva as imagens as quais presta culto nas igrejas ao longo do ano. Muitas das imagens são de esculturas sagradas talhadas em madeira, feitas nos séculos 16, 17 e 18. Algumas são cobertas por ouro e têm traços da arte barroca.

Bandas

Após a passagem das imagens, uma banda pode acompanhar ou não o cortejo. Ter ou não o acompanhamento do conjunto musical vai depender de cada irmandade.

Dependendo do local da igreja e do caminho percorrido, a procissão pode levar horas e os participantes das irmandades podem caminhar muito, tendo sempre como destino a Catedral de Sevilha.

Tradição

Mais de 70 irmandades e fraternidades (confradías) participam da Semana Santa em Sevilha neste ano. O dia, horário e itinerário são distintos, para que as irmandades não se cruzem pelos trajetos até a Catedral de Sevilha.

Algumas irmandades são mais tradicionais, com séculos de existência, enquanto outras são mais recentes, com apenas uma década. Há procissões por longos caminhos, enquanto outras ficam apenas no centro. Outras se destacam pela banda, enquanto algumas chamam a atenção pelo silêncio e recolhimento.

Os simbolismos são inúmeros e cada irmandade tem sua própria história. Se o tema for do seu interesse, vale a pena se debruçar e pesquisar sobre ele. Um dos pontos de interesse são suas imagens distintas, que podem ter significados e técnicas diferentes.

Vale dizer ainda que há procissões todos os dias da Semana Santa, mas é a madrugada da Quinta para a Sexta-Feira Santa a mais importante na celebração católica sevilhana, em que o desfile começa à 1 da madrugada e acaba no meio-dia.

Como é uma procissão da Semana Santa em Sevilha

Depois de ouvir muito sobre a tradicional Semana Santa de Sevilha, fiquei curiosa para ver de perto a celebração histórica. Apesar de não ser católica, respeito e tenho interesse em aprender sobre diferentes religiões.

Como as procissões costumam começar à tarde, me programei para chegar mais cedo para conseguir um lugar em que pudesse assistir cada etapa. O problema é que justo no dia, choveu muito em Sevilha e a programação foi quase suspensa.

Vale dizer que é comum chover no período da Semana Santa de Sevilha, pois é uma época de mudança de estação, o que torna o tempo mais instável.

A parte triste é que como as imagens sagradas são de madeira, elas não podem ser molhadas para continuarem preservadas. Ou seja, em dias de chuva pode não haver procissões.

Para a minha sorte, a chuva deu uma trégua e uma das irmandades decidiu fazer a procissão. Para isso, a imagem de Jesus ganhou uma capa de chuva verde e alguns itens foram cobertos por plásticos. Apesar de mudar o visual da “tradicional procissão”, fiquei contente de não ter perdido a viagem e poder participar desse momento tão único.

Independentemente do tempo, as ruas do centro de Sevilha estavam cheias! Percebi que eu não era a única pessoa disposta a tomar chuva para fazer parte dessa tradição.

Depois de conseguir um lugarzinho que me permitia ver a procissão, aguardei ansiosa em meio à multidão de moradores e turistas. Não demorou muito para ouvir o som da banda da Hermandad del Carmen.

Logo começaram a surgir os nazarenos, com suas túnicas brancas e capirotes marrons. Apesar de não ser possível identificá-los, é fácil perceber crianças, jovens, adultos e idosos entre eles – algo interessante por saber que a tradição está sendo transmitida entre as gerações.

Curiosamente, alguns distribuíam doces e outros entregavam pequenos cartões com imagens, de Jesus e Maria, a quem assistia à procissão.

O fato de ver a multidão reunida por um propósito de fé foi impactante e encantador. Sem dúvida, é uma festa singular. A riqueza de detalhes das imagens e empenho dos participantes da irmandade me surpreenderam.

Com certeza, voltarei para acompanhar a procissão em um dia sem chuva, com direito às velas acesas, incensos e imagens descobertas. E prometo voltar para complementar o post, caso tenha novas percepções sobre essa tradição sevilhana.

Se quiser saber mais sobre a Semana Santa de Sevilha, confira outras informações aqui.