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Groenlândia: roteiro de 14 dias entre trilhas, acampamentos e paisagens incríveis!

Mari Kateivas
24/09/2023 às 7:00

Groenlândia: roteiro de 14 dias entre trilhas, acampamentos e paisagens incríveis!

A Groenlândia é uma enorme ilha entre os oceanos Atlântico Norte e Ártico com uma pequena população e grande parte da sua superfície coberta por gelo. Suas paisagens incríveis em meio aos fiordes, rios e casinhas coloridas instigam os viajantes mais aventureiros, como o leitor Matheus Hobold Sovernigo. Ele encarou o desafio de conhecer o território dinamarquês autônomo e compartilhou todos os detalhes neste interessante roteiro de 14 dias. Você encarava essa aventura? Boa leitura!


Groelândia: viagem de 14 dias pelo país

Colegas viajantes, esse que vos escreve é Matheus do canal Rediscovering the World, um brasileiro que, desde que largou seu cargo de biólogo na Petrobras há 7 anos e passou a viver de investimentos, tem explorado boa parte do mundo, conhecendo até então quase 160 países e territórios.

Já no início dessa jornada, conhecer o gigante de gelo era um sonho, finalmente tornado realidade quando as passagens foram adquiridas no início de 2023 com a estatal Air Greenland, ao custo de 1.595 coroas dinamarquesas (pouco mais de R$ 1.100) de Copenhage a Ilulissat, mais 1.208 coroas (R$ 855) de Ilulissat a Kangerlussuaq, e outras 1.595 coroas de Sisimiut a Copenhague. Já as passagens aéreas da ida e da volta à Europa foram compradas em uma promoção.

Foram meses de planejamento e treinamento físico (pois faria sozinho uma travessia dificílima na tundra Ártica), até a partida no começo de junho a Lisboa. Lá, comprei os alimentos desidratados para a aventura groenlandesa, bem como a tenda tarp de trekking da Decathlon, com apenas 920 gramas. Os demais equipamentos eu já possuía, com exceção dos bastões de caminhada que não podem ser levados como bagagem de mão e o cartucho de gás – proibido no transporte aéreo e, portanto, comprei no destino final.

1º dia – Chegando à Groenlândia

Roteiro Groelândia

Com um avião grande e confortável terceirizado pela Air Belgium, partimos da Dinamarca e passamos sobre a enorme calota polar, desembarcando no final da tarde no principal aeroporto em Kangerlussuaq, para uma conexão. De verde só o nome do território mesmo, que foi uma jogada de marketing viking na Idade Média para atrair colonos.

Em frente ao aeroporto fica o único supermercado do vilarejo, que possui menos de 600 habitantes. Até que a variedade e os preços me surpreenderam (a Groenlândia não cobra imposto sobre bens e serviços), ficando no nível ou um pouco abaixo de outros países nórdicos, já que quase nada além de carne de caça e pesca é produzido localmente.

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Usando o ônibus de linha, fui até o albergue de Kangerlussuaq. A partir de 225 coroas dinamarquesas (cerca de R$ 160), é a hospedagem mais barata do território. Ainda assim, é bem completo, mas com horário restrito de entrada e necessidade de saco de dormir próprio.

Roteiro Groelândia

Estava considerando fazer um passeio longo de 695 coroas (R$ 500) à calota polar, mas o tour já havia esgotado para esse dia – os turistas começavam a chegar na temporada de verão. Então, larguei a mochila e fui dar uma caminhada num frio de respeito, próximo a 0ºC. Passei pelas típicas construções baixas, quadradas e coloridas, até encontrar uma cachoeira congelada nos arredores do vale quase infértil.

Roteiro Groelândia

Do outro lado da vila, atravessei o rio que vem da geleira. Nessa hora, a neve começou a precipitar de forma cada vez mais acentuada, deixando a paisagem ainda mais desoladora e me forçando a retornar à hospedagem.

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Enquanto preparava meu jantar de supermercado, fiquei conversando com o Bjørn, norueguês que já havia visitado todos os países do mundo. A noite não veio, como aconteceria até o fim da viagem devido à alta latitude, então precisei colocar uma máscara no olho para dormir.

2º dia – Cerveja artesanal feita com gelo de iceberg

Roteiro Groelândia

Havia neve para todo lado, quando embarquei no pequeno turboélice na curta e cênica viagem até Sisimiut, a terra dos icebergs. Por incrível que pareça, conheci duas senhoras brasileiras no terminal aeroviário, aproveitando assim o transporte delas até o centro.

Com quase 5 mil habitantes (o que deve aumentar em 2 anos quando terminarem a reforma do aeroporto para receber voos internacionais), é a terceira maior cidade e o principal destino turístico da Groenlândia.

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De um lado, o porto de pesca e transporte, do outro, criadouros de cães de trenó, fundamentais para a economia. Há tantos desses animais quanto humanos aqui, mas eles precisam ficar separados – a lei proíbe que haja cães de estimação.

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Perambulei pelas vias centrais, onde havia certo movimento de pedestres, veículos leves e pesados. Num dos supermercados, peguei uma refeição simples pronta e por 19 coroas (R$ 14) uma garrafa de 330 ml da QajaQ (caiaque, invenção groenlandesa), cerveja artesanal feita com gelo de iceberg. Poderia ainda ter optado por caviar, já que é uma iguaria nativa, o que não sairia tão caro quanto no Brasil.

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Cerveja artesanal QajaQ produzida na Groenlândia é feita com gelo de iceberg

Embora haja certa quantidade de resíduos nas áreas residenciais e periféricas, ainda assim, as moradias são fotogênicas. Além de casas, boa parte da população nativa inuíte mora também em baixos e longos prédios residenciais.

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Contudo, o principal fica sobre o mar. O fiorde de gelo de Ilulissat é um belíssimo Patrimônio da Humanidade que protege a geleira mais produtiva do mundo fora da Antártida. Em qualquer ponto da cidade você consegue admirar os icebergs que cercam a costa rumo a outros mares.

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Depois de economizar uns trocados usando o Wi-Fi do centro de visitantes e o banheiro do ginásio esportivo, comprei a janta no supermercado da rede Brugseni, onde voltei algumas vezes e até fiz amizade com um inuíte. Após, fui em direção à primeira das quatro trilhas oficiais na zona do patrimônio. Subi uma escadaria, caminhei um pouco na tundra Ártica, e com essa vista, armei minha barraca para uma “noite” solitária e gratuita.

3º dia – Acampamento com vista cênica

Continuei pela trilha, subindo e descendo alguns morros e a tundra com manchas de neve, sempre com a vista do mar de gelo. Nesse caminho encontrei uns poucos exemplares da fauna, como o pisa-n’água-de-pescoço-vermelho (Phalaropus lobatus), ave migratória que já foi vista no Brasil.

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Terminei o sendeiro assim que passei por um dos diferentes cemitérios cobertos de neve, com cadáveres provavelmente preservados pela temperatura.

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Ainda visitei dois dos museus de Ilulissat, a um custo de 100 coroas dinamarquesas (cerca de R$ 70). O primeiro fica na casa do explorador polar Knud Rasmussen. É interessante, pois ensina sobre a história da Groenlândia desde antes de Cristo até o pertencimento ao Reino da Dinamarca, além de Ilulissat, fundada no século 18 como um entreposto comercial dinamarquês.

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Enquanto isso, o museu de arte apresenta pinturas e artesanatos com madeira e osso.

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Segui ao outro lado da cidade, onde iniciei a segunda trilha, sendo a mais difícil de todas, pois essa já começa com o chão coberto de neve, além de montanhas.

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Algumas horas se passaram entre duas paredes rochosas e algumas afundadas na neve, até que eu atingisse o ponto mais alto. Como o sol já estava baixando e o lugar que eu estava possuía uma vista cênica, decidi acampar lá mesmo – novamente, sem ninguém por perto.

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4º dia – Vendaval e muito gelo

O que eu não contava era com o vendaval que faria na madrugada. Foi tão forte que algumas amarras soltaram; com isso, precisei sair do meu saco de dormir quentinho e encarar os -7°C que faziam para colocar a barraca de pé. Pela manhã, desci a trilha até chegar ao ponto costeiro mais próximo da geleira, onde há tanto gelo que mal se vê o mar.

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Com a proximidade do fim, encontrei outros turistas na região. Almocei com essa vista, conectando em seguida com a outra trilha, nas plataformas que passam pelo sítio arqueológico do antigo vilarejo primitivo de Sermermiut. Pena que no local não há resquícios visíveis.

Por fim, visitei o museu do centro de visitantes do patrimônio de Ilulissat, num edifício de arquitetura excêntrica. São 150 coroas (quase R$ 110) para aprender sobre glaciologia com tecnologia.

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Dali, andei até o aeroporto, pegando um voo de retorno a Kangerlussuaq à noite. Consegui achar um canto escuro e silencioso para dormir no próprio aeroporto, que permanecia aberto, já que possui um hotel (caríssimo) dentro dele.

5º dia – Travessia da Arctic Circle Trail

Retirei parte dos equipamentos e alimentos que eu havia deixado no guarda-volume do aeroporto de Kangerlussuaq para, no final da manhã, iniciar a longa travessia da Arctic Circle Trail, nove dias de autossuficiência por 165 km de tundra Ártica desabitada.

O começo foi pelo asfalto esfacelado, onde passavam alguns veículos. Uma dessas rachaduras revelou o permafrost (solo congelado).

Ao sul, a parte mais antiga do vilarejo foi construída por americanos no começo da década de 1940, junto com o aeroporto, por ser uma base aérea.

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Não foi fácil andar com cerca de 20,5 kg no corpo, principalmente porque meus ombros já estavam um pouco doloridos das trilhas em Ilulissat.

Doze quilômetros depois, já terminada a morena glacial que desemboca do rio que corta o povoado, cheguei ao fiorde onde fica o pequeno porto, que recebe até mesmo cruzeiros. Ali fica o bairro mais distante, Kellyville, com algumas casas isoladas e a antena da antiga estação de pesquisa atmosférica Sondrestrom, agora desativada.

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Nessa hora a estrada já de terra deixa o mar e sobe para o interior, passando por belos lagos cercados de turfeiras encharcadas que me acompanhariam por toda trilha.

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À distância, vi meu primeiro grupo de renas (Rangifer tarandus), o mamífero mais presente na travessia. Somente com o zoom da lente da câmera pude identificá-las. Como são caçadas há milênios, quase sempre fogem dos humanos.

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Assim, terminei a caminhada do dia ao chegar ao fim da estrada, 19 km depois, no lago onde fica o trailer de Hundesø. Esse é um dos abrigos desabitados que ficam ao longo do caminho, sendo as únicas construções humanas. Assim como a maioria das cabanas, possui cama, mesa, assento, banheiro seco, pia sem água, aquecedor à combustão, ferramentas e restos de comida e gás.

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Cheguei no momento certo, pois um vendaval seguido de chuva surgiu ao redor por horas a fio.

Enquanto preparava o jantar de arroz com lentilha em meu fogareiro portátil e observava pela janela do trailer, vi um animal se aproximando. Era uma raposa-do-Ártico (Vulpes lagopus foragoapusis), animal fascinante que não é fácil de ser observado! Para piorar, muitas dessas raposas estão com raiva (doença), o que não era o caso dessa, pois assim que me viu, partiu em disparada.

6º dia – Animais e a cabana de Katiffiq

Após tomar meu café da manhã com leite em pó, granola e frutos desidratados (o mesmo de todos os dias), fui até o lago parcialmente congelado para contemplar a paisagem. Vi um grupo de gansos-canadenses (Branta canadensis) e um casal de patos-rabilongos (Clangula hyemalis), espécie do Ártico que muda a cor da plumagem no inverno, assim como a raposa e outros animais.

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O gelo no lago era tanto que transbordava para margem. Nesse dia ameno para padrões groenlandeses (máxima de 13°C), cruzei por outras lagoas, brejos e trilhas alagadas que dificultavam o progresso, além de morros rochosos, num total de 19 km.

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Mais adiante no dia, vi uma ave de rapina alto no céu, e um casal de lagópodes (Lagopus muta) em terra, sendo um pardo e outro com penas brancas.

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Ave Lagópode

Meus ombros já estavam bem doloridos, quando enfim vislumbrei a cabana de Katiffiq. Junto a ela e seu lago, havia duas renas mansas que não se abateram com a minha presença. Fiquei curtindo o momento, enquanto descansava.

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Só que eu não estava sozinho. Duas garotas e um rapaz americanos estavam repousando quando entrei no pequeno abrigo, que lotou.

Sentei um pouco fora e calcei chinelos para secar meus pés, que estavam absurdamente enrugados de água. Depois, jantei miojo e capotei.

7º dia – Lago Amitsorsuaq

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Uma das americanas sentiu o drama e desistiu da trilha, regressando a pé até Kangerlussuaq, enquanto os demais partiram quando eu ainda estava dormindo. Esse dia foi plano, sempre ao redor do Lago Amitsorsuaq, parcialmente congelado, e suas praias de seixos rolados e areia.

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Na companhia de alguns passarinhos, atravessei um aglomerado de salgueiros, que aqui não passam de arbustos, mas o que dificultou foi o vento forte, seco e frio (sempre contra), que piorou os já rachados lábios, além dos alagamentos no caminho. Tanto foi que cheguei no fim do dia com a visão de um olho meio perturbada.

Vinte e um quilômetros depois, atravessei um derrame de gelo para atingir, do outro lado do grande lago, a cabana da vez (Canoe Center), que é a maior de todas. Construída para um propósito não realizado, tem algumas canoas à disposição e é dividida em cômodos com vários beliches, um deles para os americanos (foi a última vez que os vi) e outro para mim, tendo até mesmo painéis solares para recarregar os aparelhos. Utilizei em meu smartphone, nas baterias da câmera, em dois powerbanks e no Spot (comunicador e rastreador satelital).

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8º dia – Perdido e com visão turva

Dormi bem essa noite, e ainda consegui faturar uns chocolates vencidos e refeições liofilizadas que outros aventureiros deixaram de presente.
Antes do lago sair de vista, vi outra dupla de lagópodes tranquilos, que me deixaram fotografá-los.

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Com quase 23 km, foi um dia longo e desafiador. Primeiro, pelo solo brejoso em muitas partes, onde não havia bota impermeável que saísse ilesa.

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Uma longa, mas pouco caudalosa cachoeira, surgiu do alto de um morro. Ela se uniu a alguns pequenos rios, que precisei saltar, desembocando em outro corpo d’água lêntico.

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Nesse ponto, estava ingressando na antiga área de caça dos inuítes, um Patrimônio da Humanidade chamado de Aasivissuit-Nipisat, que me acompanharia quase até o final da aventura.

Pisei em um pouco de neve compactada, para enfim começar uma longa subida. Só que nesse momento, acabei me perdendo da trilha principal pouco sinalizada e o GPS não ajudou muito. Tentei pegar um atalho para me unir à trilha mais adiante, mas acabei me afastando ainda mais, isso no meio de vários morros rochosos quase verticais que precisei superar, com o vento soprando forte.

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Perdi um bom tempo, mas consegui encontrar um dos montes de pedra e um rastro de trilha, sem precisar regressar no caminho. Um pouco mais de ascensão, para somente às 21h chegar ao pequeno abrigo de Ikkattooq, o mais elevado da travessia.

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Fiquei preocupado, pois, embora tivesse me recuperado na última noite, novamente minha visão estava turva.

9º dia – Travessia a pé em rio

Felizmente, o problema passou e não se repetiu, com o cuidado extra que tive dali em diante. Embora meu corpo estivesse dolorido, reajustando o peso na mochila, consegui aliviar os ombros.

Sem banheiro ali, tive que sentir o vento batendo no traseiro enquanto executava um agachamento.

A primeira visão desse dia foi a de lebres-do-ártico (Lepus arcticus groenlandicus) na encosta de uma montanha. Foi a segunda aparição dessa espécie, mas novamente longe demais para ser observada com detalhes a olho nu.

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Desde o dia anterior, havia reparado em fezes roxas de aves. A minha suspeita de que seriam bagas-do-corvo (Empetrum nigrum) foi confirmada quando vi as pequenas esferas negras surgirem aos poucos no caminho. Com um suave gosto doce e ácido, mas com micronutrientes, são comestíveis também por humanos.

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Nesse momento, me dei conta que eu estava a pelo menos 4 dias de distância de qualquer assentamento humano!

Com pouco mais de 11 km até o abrigo seguinte (distância mais curta da trilha), caminhei tranquilamente. Com um pouco de subida inicial, tive a vista do maior brejo de todo o caminho, que incluiria uma temida travessia de rio.

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Rapidamente descendo as rochas com o apoio dos bastões de caminhada, cheguei à base onde precisei optar entre atravessar um trecho reto menor de trilha em banhado e passar a pé pelo rio, ou então arrastar-me por toda essa várzea sem trilha e procurar uma ponte que havia sido instalada no final. Escolhi a primeira opção; logo, as botas foram literalmente pro brejo.

Na hora da travessia, o nível estava acima do joelho e com uma força considerável, o que foi um pouco perigoso. A temperatura da água era o de menos, pois o sol ajudava nesse que foi o trecho mais quente da trilha, tanto que fiquei ali sentado secando ao ar livre, enquanto comia minhas barras de proteína e carboidrato. O que não esperava era que os primeiros mosquitos (terríveis no verão a ponto de ser preciso andar com uma tela no chapéu) já estariam incomodando.

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Prossegui pelo limite entre a área encharcada e a encosta do morro, pisando vez ou outra em terreno úmido, mas plano, coberto por salgueiros-do-ártico (Salix arctica) desfolhados e bétulas-anãs (Betula nana) verdes.

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Passadas algumas renas fugitivas depois, alcancei outro bonito fiorde.

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Muito próximo estava a cabana de Eqalugaarniarfik. Ali cumpri minha missão voluntária de deixar uma mensagem escrita para que os visitantes não larguem seus resíduos ali, para que os levem até o final. Dizem que isso é um problema, pois não há coleta periódica ao longo da temporada. Como fui antes, encontrei pouco.

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10º dia – Muita neve!

O dia iniciou com uma subida de respeito, deixando a cabana para trás.

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Então, o tempo começou a fechar, até que o vento se somou à chuva congelada e à névoa. Enquanto isso, eu passava por lagos e por manchas isoladas de neve.
Quando estava transpondo uma tundra avermelhada, a chuva engrossou a ponto dos meus trajes impermeáveis não aguentarem mais.

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Apressei o passo, pois começou a nevar (e bastante). Ao fim de 19 km, me abriguei na primeira cabana que vi, a Innajuatooq I.

Troquei de roupa e preparei um jantar reforçado, enquanto observava tudo ao redor ficar branco de neve, mesmo que a poucos dias do verão começar.

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11º dia – Trilha difícil e companhia

Foi incômodo encarar o frio que abatia, tanto que precisei sair com uma camada extra de roupas. Para piorar, os trajes do dia anterior não haviam secado. Logo encontrei a Innajuatooq II, escondida pela nevasca da noite anterior. Maior que a de onde fiquei, tinha banheiro, mas pelas pegadas havia sido ocupada por outrem.

Essas pegadas me ajudaram a enfrentar um grande desafio no dia. Começando, a ponte natural na travessia de um rio.

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À medida que eu subia uma elevação, as plantas ficavam cada vez mais escassas, e a neve ia tomando conta da paisagem.

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A orientação já não era mais possível, quando o vale seguinte se mostrou estar quase que completamente branco, e ainda por cima com um lago congelado oculto. Na tentativa de parar de afundar na neve, pois meus pés já estavam sem sensibilidade do frio molhado, parei de seguir as pegadas e fui para a lateral do morro. Só que não deu certo, acabei escorregando e me machucando um pouco.

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De volta à neve, foram longas horas com os pés duros, embora a distância total não chegasse a 18 km. Enfim, a choupana de Nerumaq se apresentou à vista, assim como um casal gente boa dos países bálticos. Foi sorte tê-los encontrado, pois meu papel higiênico havia recém-acabado.

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12º dia – Floresta de salgueiros

Dia mais agradável, mas constaram alguns rios que demandaram tempo para encontrar pontes de gelo para cruzá-los.

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Outro ponto interessante foi a floresta de salgueiros, que aqui atingiam até 2 metros, um recorde para esse ambiente inóspito. Altos, secos e densos, incomodaram um pouco.

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Passado um lago onde vi até alevinos, decidi lavar a cabeça num rio, pois há muitos dias só usava lenços umedecidos na higiene corporal.

Ao subir o relevo, me deparei com o cênico fiorde de Kangerluarsuk Tulleq. Do outro lado da água, havia algumas casas de veraneio, mas nem sinal de humanos presentes.

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Com menos de 16 km caminhados até então, optei por dormir minha penúltima noite no barraco mais adiante, o de Kangerluarsuk Tulleq Syd.

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13º dia – O dia mais difícil e a mais bela vista

Altamente motivado pelo fim da trilha, apesar de toda fadiga acumulada no corpo e hematomas nos pés e mãos, abandonei a casinha. Não contava, porém, que esse seria o dia mais difícil de todos.

Logo de cara, uma tremenda ascensão vertical até um passo de montanha. De cima, ampla vista para o fiorde como recompensa.

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Curiosamente, também havia um banheiro perdido na montanha, do qual fiz bom uso. O desafio intensificou a seguir, com muita neve a ser trespassada. O problema maior foi quando um rio subterrâneo impediu minha travessia. Mesmo seguindo pegadas alheias, quando atingia o leito dele, eu afundava na água congelada.

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O resultado disso foi que fiquei molhado e precisei seguir de quatro até atingir a margem esquerda do rio, e dali em diante, ir em frente. Só que esse lado era mais complicado, pois a neve estava mais fofa e havia menos terra que no lado direito.

Enquanto isso, meu aparelho Spot que poderia ser usado em um eventual resgate, já se encontrava com a bateria num nível crítico.

Apesar de tudo, persisti. Cerca de duas horas depois, consegui finalmente atravessar até a margem direita e, logo depois, tive a vista do solo predominante numa descida.

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Faltavam poucos quilômetros para chegar a Sisimiut, mas quando atingi a estação de esqui (desativada nessa época), outro longo trecho de neve se apresentou perante mim. Felizmente, a única dificuldade dessa parte foi o equilíbrio, pois pude aproveitar o rastro de um veículo 4×4 que compactou a neve, deslizando dentro dele.

Dessa forma, em breve tive a vista mais bela de todas, a da segunda maior cidade da Groenlândia (com menos de 6 mil habitantes).

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Com a energia renovada, continuei a descida, contornei o lago pela esquerda, passei pelos canis e atingi o núcleo urbano de construções coloridas.

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A única parada foi no supermercado, pois minha última barra de proteína havia terminado muitas horas atrás, e eu precisava de comida de verdade.

Cruzei a ponte, onde fica a marina e o porto, caminhando mais alguns quilômetros até que, às 22h30, ou seja, mais de 12 horas e 25 km depois do começo do dia, eu finalmente chegara ao destino final, o aeroporto de Sisimiut! Que alegria!

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Todavia, seu terminal estava fechado. Com isso, usei uma mesa de piquenique externa para jantar e, no mato ao lado, armei minha tenda para a última noite.

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14º dia

Ingressei no minúsculo terminal, onde embarquei num turboélice que refez meu trajeto de 9 dias até Kangerlussuaq, com a diferença que tomou menos de meia hora para tanto!

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Na curta conexão antes de voar a Copenhague, aproveitei para provar no restaurante do aeroporto uma iguaria típica local: hambúrguer de boi almiscarado. Valeu as 125 coroas (R$ 90), relembrando que a Groenlândia tem um alto custo de vida.

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Conclusão

E foi assim que me despedi dessa terra admirável e ainda bastante selvagem, o que deverá mudar um pouco com a ampliação dos aeroportos para receber o turismo internacional em massa.

Foram longos e duros dias de trilhas, com a compensação das paisagens e animais fascinantes, além da mais pura tranquilidade. Se desconectar completamente do mundo às vezes é necessário.

Ainda que estivesse um tanto cansado física e mentalmente, dali parti para outro território exótico nórdico. Passei 10 dias nas Ilhas Faroé, antes de tomar o caminho de volta a meu país.

Apreciou meu relato e deseja ver em minhas redes sociais os vídeos e fotos dessa aventura extrema, bem como de outras tantas, ou então adquirir algum de meus livros? Então acesse aqui e até a próxima 🙂


Agradecemos ao Matheus pelo emocionante relato! E você, quer compartilhar sua história de viagem com a gente? Envie um e-mail para convidado@melhoresdestinos.com.br

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