Nessa semana tiveram início os voos regionais da TwoFlex em parceria com a Gol no Paraná, e para matar a curiosidade de todos e mostrar a vocês os serviços oferecidos pela companhia embarcamos no primeiro voo entre Curitiba e Paranaguá, no litoral do estado.

Parceria TwoFlex e Gol

Com sede em Jundiaí,  no interior de São Paulo, a TwoFlex passou a operar (ou ainda vai iniciar) rotas regionais no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Pará e Amazonas, além da ponte aérea entre os aeroportos de Congonhas (SP) e Jacarepaguá (RJ). Os voos são operados por aeronaves Cessna Grand Caravan com capacidade para 9 passageiros e as passagens são vendidas pela Gol.

A parceria entre as empresas é estratégica. Os voos regionais foram criados basicamente para atender às exigências feitas pelos estados para concessão de desconto no ICMS do combustível de aviação. Em todos eles o incentivo prevê a criação de novas rotas para o estado e também dentro de seus territórios, mas sem determinar número mínimo de assentos oferecidos. Dessa forma, a parceria permite que a Gol atenda os requisitos e consiga o desconto para abastecer suas aeronaves.

De qualquer forma, mesmo que a Gol quisesse, não seria viável atender esses destinos regionais com aviões maiores como Boeing 737-700 ou ATR-72 devido à menor demanda e principalmente às limitações impostas pelos aeroportos ou aeroclubes do interior, que não possuem estrutura para receber aviões de maior porte.

Conheça as rotas regulares que já são ou ainda serão atendidas pela TwoFlex na país:

Compra da passagem

As rotas da TwoFlex no Paraná foram iniciadas nessa terça-feira, 22 de outubro, e o primeiro voo decolou de Campo Mourão às 7 horas com destino à Curitiba. O segundo voo saiu da capital para Guaíra e minha intenção original era embarcar nesse, mas o valor do trecho só de ida, R$ 723,00, não animou. Então optei pelo terceiro voo do dia, de Curitiba para Paranaguá, que é o mais curto e também o mais “baratinho”.

A passagem só de ida foi adquirida pelo site da Gol e custou R$ 319,85 com taxas. Não é um valor baixo, considerando que um voo só de ida entre Curitiba e São Paulo custa em média a metade desse valor.

Para quem não está familiarizado com a geografia paranaense Paranaguá fica no litoral, à 90 km da capital, e é lá que fica o maior porto exportador de produtos agrícolas do Brasil.

A tarifa que aparece no site é da categoria Plus, que já inclui uma bagagem despachada de até 23 kg além da mala de mão. Há uma brecha aí para ofertas nas categorias Light e Promo, mas prefiro não criar expectativas.

A marcação de assentos também está inclusa na tarifa e escolhi o assento 2A.

Check-in e Embarque

Dois dias antes da viagem tentei fazer o check-in pelo aplicativo da Gol, mas a reserva não foi localizada. Tentei também pelo site, sem sucesso. Então tive que deixar para fazer o check-in no aeroporto. Fazer o que?

No dia da viagem cheguei ao aeroporto uma hora e meia antes do horário previsto para a partida e fui direto para o balcão, nem quis perder tempo no totem. A Gol criou uma fila exclusiva para atender os passageiros dos voos regionais e não tinha ninguém na minha frente. Por ser o primeiro dia, havia decoração com balões.

O atendimento foi bem rápido e antes de entregar o bilhete o atendente confirmou com a colega do lado se estava tudo certo. Era a primeira vez que ele fazia um check-in regional.

Realmente o check-in eletrônico não está disponível para esses voos.

Bilhete em mãos, segui para o portão E conforme indicado. Nos painéis do aeroporto, no entanto, a informação do portão não aparecia. Medo!

 

Para minha surpresa, ao chegar à escada que dava acesso ao portão encontrei a passagem bloqueada! Aguardei até o horário em que o embarque deveria começar, e como ninguém aparecia soltei a fita, passei e fechei novamente. Me senti meio delinquente.

No painel aparecia a informação do voo, mas a área de embarque estava deserta. Fiquei imaginando se eu seria o único passageiro.

Já estava quase na hora da partida e não aparecia ninguém, nem um funcionário para realizar o embarque. Então o painel passou a informar atraso no voo. Cheguei a achar que estava no lugar errado e que pudessem estar me chamando em algum outro portão, mas finalmente um funcionário apareceu!

Ele conferiu meu documento e cartão de embarque e depois segui de ônibus para o embarque remoto acompanhado de outro funcionário. Eu seria mesmo o único passageiro naquele voo! De repente a passagem já nem parecia mais tão cara, R$ 320,00 até que parece um valor ok para fretar um avião particular, não acha?

Quando cheguei à aeronave os pilotos já me aguardavam para o embarque e ainda deixaram eu fazer algumas imagens externas do Cessna Grand Caravan prefixo PT-MEO. Achei que veria um avião com pintura e marca da Gol, mas foram mantidas as cores da TwoFlex e inserida a logo do programa “Voe Paraná”.

Por dentro do Cessna Grand Caravan

Para quem está acostumado a voar em aviões maiores como Boeing, Airbus ou mesmo ATR o Cessna parece um avião de brinquedo. É preciso se curvar para andar na aeronave e o espaço no corredor é bem estreitinho. São duas fileiras de assentos na configuração 2-1, sendo que o assento de dois lugares é duplo, não possui divisória, então você fica colado no passageiro do lado (quando você não é  único passageiro, é claro). Eu havia escolhido o assento 2A, mas aí resolvi mudar para o 1A, com mais espaço para as pernas. Nessa primeira fileira o espaço é mais generoso e se compara ao oferecido no espaço mais conforto das aeronaves maiores. Já nas fileiras de trás o espaço não fica devendo muito para os assentos regulares da Gol.

Não há divisória na cabine e os assento do comandante e primeiro oficial ficam logo à sua frente. Os assentos também não reclinam. É uma sensação bastante parecida com a de estar em uma Kombi com asas, só que mais confortável. O avião não é novo, foi fabricado em 1994, mas está bem conservado. Nem diria que é tão antigo.

As janelas são bastante amplas e proporcionam uma boa visão. Há um compartimento na parte traseira para acomodar as bagagens, mas como levei apenas a mochila deixei ela no chão à minha frente.

Não há comissários nesse voo e todas as instruções são passadas pelos primeiro oficial. Também não há banheiro, então é bom usar o do aeroporto antes de embarcar para evitar problemas.

Os pilotos usam fones para comunicação durante o voo e por isso não ouvem se você falar com eles. Fui informado gentilmente que caso precisasse de algo durante a viagem era só tocar no ombro de qualquer um.

A partida aconteceu às 17:25, com 15 minutos de atraso, e a decolagem foi às 17:31.

Serviço de bordo

Mesmo se tratando de um voo bem curto e sem comissários é oferecido serviço de bordo. Há uma caixa térmica atrás da última poltrona com água (garrafinhas de 200ml) e também são oferecidos biscoitos salgados iguais aos dos voos da Gol assim que você entra no avião, pois não é possível ficar circulando durante o voo.

Entretenimento

Esqueça as mordomias, não há telas individuais, tomadas, usb, muito menos wifi nessa aeronave, mas como o avião voa mais baixo o 4G funcionou em boa parte do trajeto. É, eu esqueci de ativar o modo avião, mas porque não foi solicitado. Então acho que estou perdoado dessa vez.

O entretenimento fica mesmo por conta da vista.

 

O voo foi bastante tranquilo e não senti medo em momento algum. Achei que por ser uma aeronave pequena e voar a baixas altitudes pudesse balançar bastante, o que não ocorreu. Mas é claro que ela está mais sujeita a turbulências, então é bom ter isso em mente.

Sentar logo atrás dos pilotos e poder espiar pelo “parabrisa” é realmente incrível, uma visão bem diferente. Infelizmente a nebulosidade não permitiu a vista da serra do mar, fica pra próxima. Em compensação deu para ver bem a cidade de Paranaguá, a baia e o porto.

O pouso no aeroporto Santos Dumont de Paranaguá foi às 17:47 e assim que o avião parou já pude desembarcar. A imprensa da cidade e até o prefeito estavam lá para receber o primeiro passageiro a chegar na cidade em um voo regular, no caso eu. Dei entrevista para os colegas e me senti uma celebridade, depois peguei carona até a rodoviária e voltei para Curitiba de ônibus, por R$ 31.

Programa de fidelidade

Os voos da TwoFlex vendidos pela Gol infelizmente não podem ser pontuados no Smiles. Não acumulam milhas nem trechos qualificáveis.  Também não é possível emitir passagens para esses trechos com milhas, os destinos regionais nem aparecem no site do Smiles, o que é uma pena.

Equipe

Fui muito bem atendido pela equipe da Gol no check-in e também pelos funcionários da TwoFlex que fizeram o embarque. Os pilotos foram incríveis e muito atenciosos, achei bem legal poder ter essa proximidade. O fato de eu ser o único passageiro também favoreceu no quesito atenção.

Será que vinga?

A existência desses voos pelo País está muito mais atrelada ao benefício fiscal do que ao incentivo da aviação regional ou do desenvolvimento econômico do interior. Os valores das passagens não são atrativos o suficiente para quem viaja a turismo e ainda resta saber se haverá demanda de passageiros para negócios.

Minas Gerais foi o primeiro estado a subsidiar voos regionais num modelo bastante semelhante, mas o programa foi extinto em junho desse ano justamente devido ao fim do desconto no imposto e a baixa ocupação dos voos. Vamos torcer para que esse não seja o destino dos voos regionais da TwoFlex nos outros estados e que a aviação regional possa decolar de vez; quem sabe com preços mais camaradas.

Até cheguei a simular opções de voos com conexão para outros estados partindo dessas cidades menores mesmo os valores continuam altos.

Será que os voos regionais da TwoFlex pelo país vieram para ficar? Comente e participe.

Confira o relato em vídeo com detalhes extras sobre o voo:

Nota final.