Que tal se hospedar na verdadeira Vila do Chaves no México? Brasileira que ganhou promoção do Airbnb conta como foi!
Que tal se hospedar na verdadeira Vila do Chaves no México? Brasileira que ganhou promoção do Airbnb conta como foi!
Quem nunca sonhou em conhecer a vila da turma do Chaves? O seriado mexicano é amado por gerações de brasileiros, que riram com as trapalhadas do Chaves e do Quico, com a esperteza da Chiquinha, a impagável filosofia do Seu Madruga, o romance da dona Florinda com o professor Girafales, a Bruxa do 71 e tantos outros personagens. A jornalista Luciana Yonekawa realizou o sonho de milhões de brasileiros: foi conhecer de perto a famosa vila e passou uma noite lá, graças a uma promoção promovida pelo Airbnb. Confira em detalhes como foi, nesse texto exclusivo para o Melhores Destinos!
Você é daquelas pessoas que joga toda semana na Mega Sena e entra em toda promoção e todo concurso cultural que aparece na frente? Eu, não. Mas não é que um dia o raio caiu na minha cabeça?
Uma coisa na qual eu sim, acredito, é que as oportunidades não aparecem repetidas vezes na vida de alguém. Tem que aproveitar. Foi assim que eu vim morar no México há quase quatro anos. Uma senhora crise dos 30 anos, uma vontade absurda de morar fora, um novo amor e TCHIBUM: me joguei aqui. Encontrei um povo super querido o tempo todo, o caos da Cidade do México, a beleza das cidades do México mágico patrimônio da Unesco – como Querétaro, onde eu vivo –, o mar de cores caribenhas, tanta alegria e tantos problemas sociopolíticos quanto a gente tem no Brasil. E ainda não encontrei tudo. Falta muito a conhecer!
Mas no imaginário popular, para aquelas primeiras vozes que gritam na sua cabeça quando você ouve uma palavra, o que é o México para a minha geração? É o Chaves! É o Chapolim Colorado, a Chiquinha, o Seu Madruga, a Dona Florinda, o Quico, o Professor Girafales, o Seu Barriga e a turma toda. Acapulco não é o cenário dos filmes do Elvis, nem do Tarzan do Johnny Weissmüller: é onde a turma do Chaves passava as férias de verão. E as referências não se esgotam: 71 é um número qualquer? Não! É onde mora a Bruxa do 71! Brasília? É a minha cidade, mas também é o carro do Seu Barriga!
Há umas duas semanas, um vídeo sobre o Chaves, postado na página do Airbnb México, bombava na timeline do meu Facebook. Era um vídeo lindo mostrando detalhes da vila, e chamando para uma promoção: quem mandasse a frase mais legal dizendo por que passar uma noite na vila ganharia um fim de semana de sonho, ali onde o Chavinho morava! Nos comentários, um montão de mexicanos perguntava como participar, e um montão de brasileiros choramingava que a promoção era apenas para residentes no México.
Eu ri, achei fofo, fiquei feliz que o Airbnb promovesse ações como essa. Eu e o meu namorido mexicano somos pobres, porém honrados. Somos anfitriões do Airbnb, e já nos hospedamos em apartamentos alugados pelo site em vários lugares. Adoramos fazer parte da comunidade Airbnb.
Depois de muita pilha da Fernanda, uma amiga muito querida, resolvi mandar a frase pra promoção. Saiu assim meio sem querer querendo, com a inspiração que passou ali naquela hora, 100% de coração. Apresentei a mim e ao Alberto como um casal multicultural, formado por uma brasileira que adora viajar e um mexicano que, em todo país que fala espanhol por onde passa, sempre escuta um gritinho de “gente, ele fala igualzinho ao Chaves!!”. Contei que o sonho dos meus amigos é que nos casemos em Acapulco. Previ a comoção nacional que seria no Brasil se uma brasileira ganhasse a promoção. Prometi ser os melhores hóspedes que a vila já teve.
Semana passada, chegamos à Cidade do México para umas reuniões de trabalho, para ver uns amigos, umas palestras, umas exposições. Eu tava morrendo de fome. Enquanto pensava onde encontrar um sanduíche de presunto, um churros, um refresco de tamarindo (um suco de laranja com cor de suco de limão e gosto de tamarindo também servia), recebi uma ligação de um número estranho.
– Lu?
– … Sim… Quem fala? – o diálogo vai em português aqui, porque sabe-se lá em que língua eu e meu perfeito portuspanglish (a mistura de português, espanhol e inglês que os amigos daqui têm que decifrar quando eu falo) estávamos hablando. Falando. Enfim.
– É do Airbnb!!
– Ah, oi… – respondi, meio besta, pensando se tinha algo de errado nos meus apartamentos.
– Você tem planos para este sábado?
– Este sábado? – Eu continuava meio zonza. Será que queriam chamar a gente pra conversar?
– Desmarque seus compromissos neste sábado porque você é a ganhadora!
– AIMELDELSDOCEL A GENTE GANHOU A PROMOÇÃO DO CHAVES, ALBERTO!! A PROMOCÃO DO CHAVES!! A GENTE GANHOU!!
Não podíamos acreditar. Nem parar de rir! Nenhum dos dois se lembra quando foi a última vez que ganhamos alguma coisa na vida. Bom, ganhamos a chance de participar do programa de intercâmbio cultural no Japão no qual nos conhecemos, o Ship for the World Youth, em 2011. Mas, assim, participar de uma promoção e ganhar? Acho que nunca!
Os dias que se passaram entre a ligação e a chegada na Vila foram surreais. Meus melhores amigos piraram junto comigo. Foi uma euforia sem tamanho. Mas fiquei com medo de divulgar nas redes sociais. E se eu estivesse delirando? E se eu acabasse conhecida como a lôka do Chaves?
Sábado, eu era pura emoção. A equipe do Airbnb ficou de ir me buscar às 13h. Eu chegaria de Querétaro na Cidade do México às 10h. Mas, como tudo sempre pode ficar um pouquinho mais emocionante, um acidente tinha fechado uma parte da rodovia, e o DF (como eles chamam a Cidade do México aqui) tava todo parado e (mais) caótico devido a um desfile de natal. Gente, era dia 21 de novembro! Não conseguia parar de pensar num meme que vi estes dias, sobre um protesto contra decoração de natal antecipada, enquanto corria pra casa. Me via num filme louco de ação, tipo o último James Bond, que foi filmado aqui.
Bom, chegamos. E a equipe do Airbnb estava esperando por nós, com um Cadillac 1975 conversível! Cruzamos a cidade pela Avenida de los Insurgentes, a Avenida Paulista do DF mexicano, que corta a cidade de norte a sul. O dia estava atipicamente ensolarado para o outono mexicano e, bom, não percorremos todos os 28,8km da avenida, mas o suficiente para chamar bastante a atenção – imagina a cara de “mas quem são esses?!?” dos motoristas ao nosso redor! – e para o Alberto se queimar um pouquinho. Percalços da vida de subcelebridade, ayay.
Almoçamos num restaurante lindo daqui, chamado San Angel Inn. É um dos mais turísticos da cidade. Foi construído no século XVII como convento carmelita. Depois virou fazenda, e restaurante. Fica do ladinho da casa em que Frida Kahlo e Diego Rivera viveram “juntos” (na verdade cada um tinha a sua casa, e as duas eram unidas por uma ponte. É um dos lugares imperdíveis para uma visita ao DF).
Com a pança cheia e já acreditando um pouquinho que o sonho era verdade, chegou a hora de ir para a vila do Chaves!
Mas aí veio um pedido estranho: continuaríamos a programação do dia no conversível… mas com os olhos vendados. Oi? (Imaginem a cara dos motoristas que passaram pelo carro, outra vez, vendo agora um casal vendado dentro de um conversível!)
É que o endereço da vila do Chaves é segredo, gente!
Dia 28 de novembro, faz um ano que Roberto Bolaños, o criador do Chaves, do Chapolim e de todo o universo que os cerca, faleceu. A família tem cuidado muito bem do seu espólio, mas ainda não estão preparados para um museu. A gente entende, né?
E por volta das 17h do dia 21 de novembro, um Cadillac conversível com um casal vendado entrou pelos portões de uma casa… onde tocava “Que bonita vizinhaaançaaaaaa!! Que bonita vizinhançaaaaa!!! É a vizinhança do Chaves! Isso isso isso!”. Tiraram a gente do carro de cara para a vila. Todos os meus anos de estudos em semiótica, metalinguagem, roteiro, publicidade nunca me prepararam pra abrir os olhos e estar dentro do cenário de um programa de televisão que eu vi tanto por tantos anos.
Eu quase morri de rir, o Alberto tava meio bege também, minha garganta secou, eu não conseguia andar no salto… Segundo uma amiga, eu parecia o Bambi aprendendo a andar. Ainda bem que todo mundo lá tinha muita paciência comigo. E era uma alegria sem tamanho.
Enquanto eu recobrava o controle do meu corpo, abraçava o Alberto e tentava ignorar a quantidade de câmaras que tinha na nossa chegada, eu descobri como entrar no barril!! Eu beijei meu mexicano dentro do barril do Chaves! Foi lindo!
Fui então explorar as portas. O 72, o 14, o 71, que medo!!
E então apareceu o Roberto Gómez Fernandez. Como disseram uns amigos: o filho do hômi.
Há palavras para descrever a alguém o quanto o pai dessa pessoa foi especial pra gente? E para milhões de pessoas, então? Tem como? Não as achei. Consegui pedir um abraço. E dizer que era um abraço que um mundo de gente gostaria de dar nele e no pai dele. Mais tarde eu entreguei a ele um artigo que um amigo, ex-colega de faculdade e hoje roteirista de comédia escreveu no dia em que Bolaños morreu, homenageando o autor de tantas frases que a gente diz todo o tempo sem nem se dar conta (e que inspira este artigo). Eu podia ter escrito alguma coisa mais, eu podia ter pedido pra mais gente escrever… Mas eu queria evitar a fadiga.
Roberto Gómez Fernández nos levou a um pequeno museu, que fica dentro da casa da Dona Florinda. Lá estão os óculos de seu pai, a máquina de escrever manual que ele usava, alguns roteiros originais, outros copiados no mimeógrafo – lembremos que o Chaves e o Chapolim foram produzidos nos anos 70! As fotos nas paredes são lindas (esqueci de fazer fotos das fotos. Estudar metalinguagem pra quê, né?), uma de cada personagem da vila. O barril original está lá dentro (ah, porque vocês acham que deixariam a estabanada aqui entrar na relíquia das relíquias? Então… Não deixaram. Que bom). Também há uma coleção de bonecas de época feitas à mão pela mãe de Bolaños, o que mostra que o talento para as artes já era herança de família.
Roberto Gómez nos levou então para conhecer a arte da equipe Airbnb: o apartamento no qual passaríamos a noite (eu e o Alberto!). Lindamente decorado para a ocasião, pudemos dar uma checada geral para aprender alguma coisinha mais para usar nos nossos próprios aluguéis. Ah, se o coitado do Seu Barriga tivesse conhecido o Airbnb, a vida dele tinha sido bem mais fácil!
Vimos livros sobre o Chaves, a coleção de DVDs original em espanhol, ganhamos presentes e conversamos um pouquinho mais com o Roberto Gómez. O Alberto pôde desabafar sobre a situação atual do país dele: enquanto há dez anos dois dos grandes símbolos do México no exterior eram o Chaves e o Chapolim, hoje infelizmente se fala na fuga espetacular do Chapo, dos 43 estudantes de uma escola rural de Ayotzinapa desaparecidos, dos vários jornalistas mortos. “Gente com o seu talento, o talento do seu pai, precisa salvar o México, com criatividade e amor pelo país”, disse o Alberto. Roberto Gómez concordou, agradeceu, nos abraçou uma vez mais.
Caiu a noite na vila, e nos chamaram para uma xicrinha de café, porque não era nenhum incômodo. Fomos mimados no pátio com um jantar preparado pelo chef Jorge Udelman, do Oralearepa. Mas… um jantar coxinha na vila do Chaves, pergunta você, como assim? Claro que não! Comemos o melhor sanduíche de presunto que a vila já viu!
E, na verdade, foram dois sanduíches de presunto para cada um! O sonho do Chavinho! E compartilhamos com as equipes do Airbnb e da Fundação Chespirito para agradecer – e porque quem come e não divide nada fica com a barriga inchada.
Passamos uma noite sensacional. Achei que não ia poder dormir, mas depois de horas brincando que nem criança nas portas da vila, não tem balzaca com alma de criança que aguente, por mais triste que eu estivesse com o fim de um dia de sonhos. Pipipipipi! O quarto preparado pela equipe do Airbnb não estava apenas lindo: estava super cômodo também.
Na manhã seguinte, que acordou fria como um dia triste de despedida (aqui é outono. Fazia uns 13°C, brrrrrr), ganhamos chocolate quente e churros!! Foi bom para esquentar os corpos de burro que não são transparentes, que naqueles dias abrigavam corações tão emocionados como os nossos.
O quarto do Airbnb foi montado apenas para esta promoção. Mas um museu do Chaves e do Chapolin está nos planos da família de Bolaños, segundo ele contou em algumas entrevistas. Não há um prazo para a inauguração; tudo deve ser pensado para fazer juz ao carinho dos fãs.
Comecem a juntar dinheiro para vir!
O México é mágico, gente. A Cidade do México tem um mundo de coisas para conhecer, mas há outros 31 estados cheios de identidade, cultura, história e gente querida para conhecer. Sigam-me os bons!
Agradecemos à Luciana por compartilhar com a gente esta experiência inesquecível, que certamente deixou os fãs emocionados e cheios de vontade de que esse museu abra o quanto antes para poder visitá-lo! Confira todas as imagens dela e do Airbnb: