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Roteiro de Hiroshima: como são as cerimônias de 6 de agosto, o Dia da Paz

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28/09/2017 às 16:49

Roteiro de Hiroshima: como são as cerimônias de 6 de agosto, o Dia da Paz

Viagens são feitas de vivências, de lugares e momentos experimentados e das lembranças que ficam no retorno para casa! Não é? Pois os leitores Ernesto Lippman, conhecido como o Pato Econômico, e Cibele Fabichak sonhavam há tempos em conhecer o Japão. E fizeram questão de estar no país, mais precisamente em Hiroshima, no dia 6 de agosto, data que lembra a explosão da bomba atômica e em que, agora, é celebrada a Cerimônia da Paz.

Para nossa sorte, eles compartilharam com a gente o relato de como foi passar o chamado “Dia da Paz” em Hiroshima. Vale muito a pena a leitura – principalmente, como dizem Ernesto e Cibele, “nos dias conturbados em que vivemos”.

Experiência única: Hiroshima no Dia da Paz

Por Ernesto Lippmann e Cibele Fabichak

Aproveitando uma promoção da Aeromexico por 650 dólares, realizei um antigo sonho: conhecer o Japão! Tive a sorte de estar em Hiroshima na Cerimônia da Paz, um desejo de muito tempo, desde os tempos de adolescente, quando ouvi o poema “A Rosa de Hiroshima”, de Vinícius de Morais. Gostaria de compartilhar esta experiência tocante com os leitores do MD.

Poder compartilhar uma data com uma comunidade religiosa é sempre algo tocante. Pode ser uma festa junina na pequena Cidade de Torre de Pedra no interior de São Paulo, a pascoa na Polônia, a visita a um mosteiro budista na festa de Vassak, o nascimento de Buda. Todas elas são demonstrações de fé e de espiritualidade.   

Da mesma forma é a experiência de estar num país numa data histórica, como o Dia da Independência dos Estados Unidos ou da Revolução Francesa, em que se celebram e se relembram datas nacionais com muita emoção.

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O Dia da Paz em Hiroshima, 6 de agosto, é uma mistura de tudo isso e mais um pouco, e uma experiência que deve ser compartilhada, ainda mais nos dias conturbados em que vivemos. A data lembra a explosão da bomba atômica, quando 150 mil pessoas morreram instantaneamente e muitos outros tiveram sofrimentos horríveis. É uma ocasião de luto pelos que se foram, mas, sobretudo, de esperança e de reafirmação do desejo de paz, algo tão necessário no mundo moderno, onde temos alguns representantes insanos, e basta apenas um deles apertar um botão para que tudo se repita.     

Ao chegar a Hiroshima, algo que chama a atenção é que se trata de uma cidade que foi totalmente destruída. Simplesmente não há resquícios da cidade antiga, habitada há mais de mil anos, ressalvado seu famoso domo. É algo assustador e diferente de outras cidades que sofreram com a guerra, como Berlim, Londres e São Petersburgo, onde ainda hoje se veem as cicatrizes da destruição, mas pelo menos uma parte sobrevivente da cidade. Em Hiroshima, tudo foi reconstruído.

Estar em Hiroshima neste dia é celebrar a paz. Multidões caminham pelas ruas e todos os memoriais pelas vítimas são cobertos de tsurus ou flores. Há várias cerimônias religiosas em homenagem aos mortos, tanto budistas quanto xintoístas. Todas as famílias da cidade têm alguém por quem chorar. Nestas cerimônias os visitantes são bem-vindos e convidados a levar uma bandeira de seu país e falar uma mensagem pela paz.

Mais interessante ainda, é que voluntários vêm de todo o Japão e pedem para os visitantes assinarem algum tipo de mensagem pela paz, oferecendo um pequeno mimo pela sua gentileza. Pode ser uma pequena flor, uma boneca japonesa ou um origami, e tudo é feito com muito planejamento para a celebração da grande festa, quase como no carnaval carioca, embora o espírito seja bem diferente.

A Celebração no Memorial da Paz em Hiroshima é um ritual realizado todos os anos, em que milhares de pessoas comparecem ao local munidos de flores, velas, lanternas e mensagens em homenagem às vítimas que são deixadas no Memorial. À noite, as velas e lanternas, uma para cada pessoa que morreu, após uma oração, são colocadas no rio – a poucos metros do local onde foi o epicentro da explosão, ao lado do Domo da Bomba Atômica –  para serem levadas pela correnteza, tomando a forma de uma cruz quando a vela apaga. O brilho delas torna a cerimônia ainda mais tocante e profunda. E os murmúrios e as falas das pessoas dão um toque de consternação e respeito.

O passo seguinte é o Memorial da Paz com sua mensagem: “Let all the souls here rest in peace, for we shall not repeat the evil” – “Que todas as almas aqui descansem em paz, para que nunca mais repitamos esse mal” de termos outra guerra.

O ataque a Hiroshima foi a pior destruição feita numa guerra. Não vou polemizar se ele era necessário ou não para finalizar a Segunda Guerra Mundial, pois o meu objetivo é compartilhar a experiência que tive e não fazer um debate histórico. Contudo, devemos refletir sobre o que fizemos.

Em seguida, fomos ao Museu do Bombardeio. Confesso que foi uma das vezes em que me senti triste por ser um Homo sapiens, como nas visitas ao campo de Auschwitz, o Museu da Inquisição em Lima ou ao Museu da Tortura em Córdoba. É um lugar chocante, no qual só podemos perguntar, mas não temos resposta: como chegamos a este ponto? 

O Museu Memorial da Paz foi projetado pelo arquiteto Kenzo Tange, em 1955. É uma parada obrigatória, onde fica claro o poder devastador da destruição feita pela bomba atômica. A sala começa com uma simulação da explosão. A seguir, o depoimento dos sobreviventes que viram suas vidas mudarem em segundos com a morte de suas famílias e a destruição de suas casas, dos seus locais de trabalho, dos seus vizinhos. As fotos do sofrimento dos que sobreviveram e de suas queimaduras são indescritíveis. 

Também há objetos da época, que mostram como o calor foi forte a ponto de derreter garrafas e fotos que mostam como foi destruído aquilo que era uma cidade em poucos segundos. Um objeto impactante, é um relógio com os ponteiros paralisados há mais de 70 anos na hora da explosão: 8h15.

Um ponto interessante do museu é que ele mostra a história de forma neutra, sem fazer acusações aos Estados Unidos. O museu visa a paz. Sua intenção é mostrar o sofrimento vivido pela população de Hiroshima e que isto não deve se repetir jamais.

O próximo ponto é o Monumento das Crianças à Paz, dedicado às crianças que morreram em decorrência da bomba atômica. A estátua retrata uma criança com os braços estendidos, segurando um tsuru feito de origami. Ela é baseada na história de Sadako Sasaki, uma garota que morreu em virtude dos efeitos da radiação da bomba, e que, como Anne Frank, foi um símbolo de esperança em meio à barbaridade.

Sadako estava na área do bombardeio e sobreviveu, mas 10 anos depois foi diagnosticada com câncer em virtude da radiação. Ela acreditava que se fizesse mil origamis de tsuru seria curada e seu desejo se realizaria, por isso começou a dobrar os grous e a cada um que ficava pronto, dizia a si mesma o seu desejo: “Eu escreverei paz em suas asas e você voará o mundo inteiro”.

Primeiro, as crianças do Japão começaram a fazer origamis e enviar para ela. Depois o movimento viralizou e vieram origamis do mundo todo. Em pouco tempo foram entregues 1 milhão de origamis em seu quarto do hospital. Ela faleceu, mas, desde então, pessoas de todo o mundo depositam na base da estátua suas dobraduras, em sinal de respeito e lembrança dos jovens que morreram em virtude do bombardeio.

O último ponto de nossa visita é o Domo. A bomba explodiu 160 metros acima do prédio, que pertencia à Prefeitura. Todos os que trabalhavam no local morreram na hora, mas a estrutura permaneceu de pé. Foi a única num raio de muitos quilômetros e impressiona.

Para quem quiser conhecer um pouco mais da história de como era a vida no Japão no tempo da guerra e, sobretudo, como foi a experiência de estar em Hiroshima neste dia trágico, recomendo o livro “A última mensagem de Hiroshima: O que vi e como sobrevivi à bomba atômica”, livro de memórias de Takashi Morita, um ex-soldado que imigrou para o Brasil e que narra a mudança de sua trajetória de bravo defensor do imperador durante a guerra para a de ativista pela paz. Ele é um dos 40 mil hibakushas, sobreviventes ainda vivos da explosão atômica de Hiroshima.

Conheci pouco da Cidade de Hiroshima, pois tive apenas um dia lá. Dei uma volta no Museu do Castelo (totalmente restaurado) e pelo que vi, um ótimo complemento é um bate e volta até o Santuário Itsukushima, na Ilha de Miyajima.

Como um roteiro básico pelo Japão sugiro o que fizemos: Tóquio, Quioto, a antiga Capital Imperial, e Nara, a bela cidade dos templos e dos cervos, terminando em Hiroshima. É necessário visto, mas o atendimento é educado e cortês e, pelo que sei, raramente é negado. 

Fui pela Aeromexico e TAM e achei o voo razoável. Pelos R$ 2.400 que paguei, não tenho o que reclamar.

Que todos aprendam com a lição da paz. Que nunca mais haja o sofrimento de uma bomba atômica. Acho que todos os que forem no dia da paz e visitarem o museu voltarão com este desejo, de que não haja mais guerras. É como disse John Lennon, em sua música “Imagine”: “Você pode dizer que sou um sonhador. Mas não sou o único. Espero que algum dia você se una a nós. E o mundo irá viver como um.”.

10 dicas sobre o Japão:

1-  Parece, mas não é. O Japão não é um destino tão caro quanto parece. É mais barato do que os Estados Unidos. A média dos hotéis ficou entre 60 e 100 dólares, para o padrão tipo Ibis. Uma refeição barata custa entre 10 e 15 dólares num restaurante, ou 5 dólares se você pegar um prato numa loja de conveniência e esquentar com a micro-ondas. Atrações como museus são mais baratas do que na Europa. Em regra, é algo como 5% mais vantajoso fazer o câmbio para o Yen no Brasil, embora seja simples trocar dólares e euros.

2- O melhor modo de transporte é o trem bala. Compre o seu JR Pass, bilhete que permite viagens ilimitadas por 7 a 21 dias, no Brasil antes da viagem, pois ele não é vendido no Japão. Não use o JR na saída do aeroporto para não “queimar” seus dias. Em Tóquio e Quioto, compre o passe de um dia de metrô, que sai bem mais barato do que pagar cada viagem. Em Hiroshima, o passe da JR vale no ônibus de turismo. Os táxis são caros. Alugar carro não é recomendável, pois o estacionamento é caro, exige-se habilitação internacional e a mão de direção é inglesa.

3- Para sair do aeroporto, apesar de um pouco caro, custando algo como 30 dólares, o melhor meio é airportlimousine. Apesar do nome, é um ônibus executivo que vai deixá-lo sem conexões perto do seu hotel. Encarar uma viagem de trem com conexões, com malas, após uma viagem longa é uma economia tola. Um táxi do Aeroporto de Narita para a cidade custa mais de 150 dólares.

4- Seja leve na bagagem e prepare-se para andar bastante nas estações do Metrô. Caminhadas de quase 1 quilômetro são comuns e muitas estações não têm elevadores, nem escadas rolantes. 

5- Sempre leve o cartão do seu hotel em Japonês, isto facilita bastante caso você se perca.

6- Fora de Tóquio e Quioto, muitos não falam inglês, mas todos são simpáticos e não deixa de ser uma ótima experiência ir a um restaurante pequeno e não turístico para pedir comida apontando para os pratos e fazendo mímica.

7- Geralmente os melhores sites para reservar hotéis são o Hotwire, em que você não sabe o nome do hotel, mas há um substancial desconto, e o Agoda, em que há um programa de fidelidade. 

8- As melhores épocas do ano para ir são a primavera (março a maio) e o outono (setembro ao começo de novembro).

9- Bons blogs sobre o Japão, para você já ir conhecendo um pouco da cultura deste fascinante país: Perdida no Japão, Guia Mundo Afora e Isto É Japão, além dos guias de Tóquio e Quioto aqui do Melhores Destinos.

10- Cibele é médica e recomenda: no voo, cuide bem de sua saúde na sardinha class! Faça caminhadas, tome muita água, se exercite e use meias de compressão. A trombose mata mais passageiros do que os desastres de avião somados. Pessoas acima de 50 anos e mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais são especialmente vulneráveis.

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Agradecemos aos leitores Ernesto Lippmans e Cibele Fabichak pelo relato. Quer mandar o roteiro de sua viagem para o MD? Entre em contato pelo e-mail convidado@melhoresdestinos.com.br

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