Procon questiona diferença de preços nas passagens em Campinas, Guarulhos e Congonhas
Procon questiona diferença de preços nas passagens em Campinas, Guarulhos e Congonhas
O Procon-SP informou que vai notificar as companhias aéreas Azul, Gol e Latam, que atuam no aeroporto de Viracopos, em Campinas. De acordo com o órgão, as empresas deverão apresentar “explicações sobre diferença de preços nas passagens aéreas de usuários que utilizam o aeroporto, em relação a Congonhas e a Guarulhos“.
Entenda o caso
Uma passagem aérea para um mesmo destino pode custar até três vezes mais, dependendo do aeroporto de origem. Como São Paulo possui três aeroportos que atendem a região metropolitana do estado, o Procon quer explicações para essa diferença de preço.
Alguns exemplos
Vejam duas simulações de voos saindo de São Paulo para o Recife e Salvador feitas no site da Azul para voar em junho. Apesar da proximidade física dos aeroportos, os preços chegam a variar 102% na mesma data. Por exemplo, saindo de Guarulhos para o Recife no dia 23 de junho, é possível comprar a passagem por R$ 345 (menor valor do dia). Já saindo de Campinas o menor preço é R$ 699 mais do que o dobro. Já saindo de Congonhas há tarifas a partir de R$ 445 para a capital pernambucana.
O mesmo acontece para Salvador. O menor valor é saindo de Guarulhos, aeroporto onde há maior competição, com a passagem custando R$ 274. Partindo de Congonhas há voos a partir de R$ 333, 21% mais caro. Já saindo de Campinas a menor tarifa é R$ 437, quase 60% a mais.
De acordo com o Procon, as empresas terão dez dias para apresentar uma planilha de custos que comprovem o motivo das diferenças de preços. “Dependendo da análise do material apresentado elas poderão ser convocadas para uma audiência junto a fundação, caso seja constatada prática abusiva, poderão ser multadas em até R$ 10 milhões” afirmou o diretor executivo do Procon-SP, Fernando Capez.
O problema foi apresentado ao Procon-SP pelos 20 prefeitos da Região Metropolitana de Campinas.
O que define o preço da passagem aérea?
Com todo o respeito ao Procon, mas ao responder a demanda dos prefeitos exigindo planilhas de custos das empresas o órgão demonstra um completo desconhecimento do setor aéreo. Não são os custos que definem o preço das passagens, mas a relação entre a oferta e a demanda. Os fatores mais relevantes são a ocupação do voo e a concorrência na rota em questão e não os custos. Além disso, o Brasil instituiu em 2001 a liberdade tarifária na aviação, parecendo descabido tal tipo de questionamento.
As passagens de avião não têm preço fixo como as de ônibus, ou mesmo como de um aparelho celular ou uma roupa. Em um mesmo voo dentro do Brasil é possível ter passageiros que pagaram R$ 99, outros que pagaram R$ 299 e ainda outros que pagaram R$ 999. Todos eles vão receber exatamente o mesmo serviço e isso é assim funciona no mundo todo. É o chamado Yield Management, mecanismo que permite que a companhia venda passagens de avião tão baratas que chegam a custar bem menos que passagens de ônibus.
O que acontece é que a companhia divide o voo em vários pedaços (conjuntos de poltronas) e as passagens de cada grupo terão preços diferentes. Observe que o serviço prestado será exatamente o mesmo, só vai mudar o valor.
Pode parecer injusto para quem encontra o preço mais alto, mas é isso que permite que outro passageiro pague muito mais barato. Quando o avião estiver próximo da lotação e as últimas passagens estiverem sendo vendidas, geralmente para executivos que viajam a trabalho, os valores podem facilmente ultrapassar R$ 1.000.
Preço dos voos em Campinas
O que acontece em Campinas é que há pouca concorrência no aeroporto, com mais de 90% dos voos sendo operados pela Azul. Além disso, Viracopos é o principal centro de conexões (hub) da empresa, distribuindo passageiros em conexão para mais de 60 destinos no Brasil, muitos deles só atendidos pela companhia. Com tantas possibilidades de ligações, os voos tendem a ficar mais cheios com passageiros de uns destinos voando para outros, refletindo nas tarifas.
Em Guarulhos é diferente. Há uma concorrência muito maior e com mais equilíbrio na quantidade de voos da Azul, Gol e Latam. E, em Congonhas, o fluxo de passageiros em conexão é bem menor, pelo perfil executivo do aeroporto, mais focado em voos diretos. Isso explica porque os preços dificilmente seriam equivalentes.
Vale destacar que isso não é uma exclusividade de São Paulo, mas algo que ocorre nas principais cidades do mundo servidas por mais de um aeroporto, como o Rio de Janeiro (com o Aeroporto do Galeão e Aeroporto Santos Dumont), Nova York (com os aeroportos de Laguardia, JFK e Newark), Londres, Buenos Aires, Paris, Tóquio e inúmeras outras.
Interferir na precificação das passagens aéreas já se mostrou ineficaz e desastroso no passado. Uma medida como a que o Procon sugere pode fazer com que as companhias aéreas simplesmente reduzam a quantidade de voos no aeroporto de Campinas, o que teria o efeito inverso, diminuindo a oferta e aumentando as tarifas.
Se o Procon e os prefeitos querem passagens mais baratas em Campinas, faria mais sentido atuarem no sentido de aumentar a competição no aeroporto, incentivando voos de outras empresas. Quem sabe a chegada da Itapemirim, que vai estrear voos em junho para 14 cidades brasileiras, não é uma oportunidade de colocar isso em prática. Fica a sugestão!
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