Negociações de venda da Air Europa são suspensas por preço e questões políticas, diz jornal


Negociações de venda da Air Europa são suspensas por preço e questões políticas, diz jornal
As conversas para a compra da Air Europa pelas gigantes da aviação Air France-KLM e Lufthansa foram interrompidas, publicou o jornal espanhol El Confidencial. Conforme a reportagem, as negociações podem ter esfriado por divergências sobre o valor da companhia espanhola e questões políticas envolvendo a família controladora da empresa.
Valor de mercado
A Air Europa pertence ao grupo Globalia, controlado pela família Hidalgo. Atualmente, a empresa tem 20% de suas ações nas mãos da IAG (grupo dono da Iberia e British Airways).
Conforme publicado, a família insiste que a Air Europa vale 1 bilhão de euros. Mas essa valorização da companhia não foi bem aceita pelas empresas interessadas na sua compra.
A Air France-KLM teria oferecido 300 milhões de euros em dinheiro e se comprometido a assumir cerca de 475 milhões de euros em dívidas do governo espanhol, ou seja, mais de 775 milhões por uma participação de 51%. Já a Lufthansa, teria ofertado 800 milhões de euros.
Questões políticas
A reportagem do jornal El Confidencial destacou ainda que o impasse das negociações também envolvem questões políticas. De acordo com fontes próximas à negociação, há tensões entre a família Hidalgo e setores do governo espanhol. Isso gerou incerteza jurídica e receios entre os grupos europeus interessados na aquisição da Air Europa, publicou o jornal.
Empréstimo do governo
Também é importante lembrar que a Air Europa ainda tenta se recuperar financeiramente após quase ter falido durante a pandemia. Para se manter, a empresa recebeu ajuda do governo por meio de empréstimos.
Parte desse dinheiro começou a ser devolvido, e a aérea fechou o último ano com o lucro operacional (chamado Ebitda) de 200 milhões de euros. Mesmo assim, ainda precisa de capital novo para estabilizar totalmente sua situação financeira.
Inclusive, é justamente esse resgate da companhia com dinheiro público que está complicando parte das negociações da aérea, segundo a mídia local.
Conforme a imprensa espanhola, o empréstimo está sendo investigado pela Justiça da Espanha, que apura possível interferência da esposa do primeiro-ministro Pedro Sánchez, Begoña Gómez, devido à sua ligação com Javier Hidalgo, CEO da Air Europa.
A suspeita de favorecimento político e a instabilidade gerada por esse processo judicial criaram um clima de insegurança, afastando possíveis compradores e complicando ainda mais a venda da companhia (a história é longa e delicada, e tem sido acompanhada de perto pela imprensa espanhola!).
Outras negociações
Essa não é a primeira vez que a Air Europa entra no radar de grandes grupos. Em 2019, a IAG chegou a anunciar a compra da companhia por 1 bilhão de euros. No entanto, com a pandemia, o negócio foi suspenso.
A tentativa foi retomada em 2023, mas em 2024 a Comissão Europeia vetou a operação, alegando que a aquisição da Air Europa pela IAG (que já controla a Iberia, Vueling e British) poderia gerar um monopólio na Espanha e, especialmente, nas viagens de e para a Espanha e América Latina.
Cenário da aviação
Enquanto a Air Europa segue buscando um comprador, a Air France-KLM e Lufthansa continuam com seus planos de expansão.
A primeira adquiriu recentemente uma participação minoritária na companhia SAS (podendo ampliar sua fatia no futuro). Já a Lufthansa, está no processo de integração da ITA Airways (antiga Alitalia) ao seu grupo, com foco em fortalecer sua presença na Europa e na Star Alliance.
As duas também estão de olho na portuguesa TAP, que espera por sua privatização parcial nos próximos meses. A TAP é bem importante estrategicamente por causa das conexões com o Brasil e países africanos de língua portuguesa na África.
E agora?
O jornalista e fundador do site de viagens Loyalty Lobby tem acompanhado os desdobramentos dessas negociações. Ele acredita que mesmo com as negociações da Air Europa travadas, o cenário pode mudar.
Caso a companhia consiga melhorar sua geração de caixa e reduzir sua dependência de novos aportes, a família Hidalgo pode se ver em uma posição mais confortável para negociar ou até reabrir as conversas com as gigantes.
No entanto, um eventual controle da Air Europa pela IAG poderia levar a um monopólio de fato em rotas que ligam a Espanha à América Latina (impasse já discutido no passado).
Já a Lufthansa, com várias companhias sob seu guarda-chuva (como Swiss, Austrian, Brussels Airlines, Eurowings e parte da ITA), também geraria preocupações sobre concentração de mercado.
Nesse sentido, a opção que geraria menor impacto nas alianças globais seria a entrada da Air France-KLM. Assim, a Air Europa permaneceria na SkyTeam, mantendo certo equilíbrio entre as grandes alianças aéreas. Seguiremos de olho nos bastidores da aviação para compartilhar os desdobramentos dessa história.
Com informações do jornal El Confidencial e site Loyalty Lobby.