5 dias de barco pelos rios da Amazônia! Saiba como é fazer uma expedição pelo Rio Negro e afluentes
5 dias de barco pelos rios da Amazônia! Saiba como é fazer uma expedição pelo Rio Negro e afluentes
Sempre pensei na Amazônia como um destino exótico, distante, difícil – e até mesmo perigoso –, mas mudei meu conceito depois de embarcar em uma jornada de cinco dias pelo Rio Negro e seus afluentes.
Ao contrário do que muita gente imagina, visitar a floresta amazônica pode ser uma experiência confortável, segura e muito prazerosa! Nesse post, vou te contar em detalhes como foi fazer esse passeio com a Expedição Katerre.
Você também pode conferir o passeio completo no vídeo especial que produzimos para o canal do Melhores Destinos no Youtube:
Expedição Katerre
Com sede em Novo Airão, localizada a 200 km de Manaus, a Expedição Katerre é uma empresa que oferece passeios de ecoturismo de baixo impacto pelos rios da Amazônia. São diferentes roteiros, realizados em diferentes tipos de embarcação.
As expedições da Katerre partem de Manaus ou Novo Airão para explorar toda a extensão do Baixo e Médio Rio Negro, seja em expedições mensais regulares de 3 a 7 noites, ou em viagens customizadas (charter) disponíveis o ano todo.

Os roteiros regulares mais curtos (3 noites) percorrem Anavilhanas – o 2º maior arquipélago fluvial do mundo –, e os mais extensos (7 noites) sobem o rio Negro até o Rio Jauaperi, na divisa com o estado de Roraima.

Além de navegar pelos rios da Amazônia, a Katerre realiza paradas em pontos de interesse e realiza também passeios de voadeira (barco rápido) para observação de animais e das belezas da floresta. Uma verdadeira imersão na natureza.
O Melhores Destinos foi convidado para fazer o trajeto de 5 dias a bordo do Jacaré-açu, o menor barco da Katerre em operação. Ele tem capacidade para até 16 passageiros, divididos em 8 cabines climatizadas e com banheiro individual.
Clique aqui para conhecer os roteiros da Expedição Katerre na Amazônia.
Como chegar à Amazônia
A jornada começa em Manaus e é recomendado chegar à cidade ao menos um dia antes do início da expedição. Embarquei então em Curitiba, rumo ao norte do país, com um certo frio na barriga (admito), sem saber direito o que me esperava por lá.

Para garantir suas passagens aéreas para Manaus vale a pena ficar de olho nas ofertas que divulgamos lá no aplicativo do Melhores Destinos: baixe aqui.
Cheguei à capital do Amazonas no fim da tarde e aproveitei para conhecer o Caxiri Amazonas, considerado um dos melhores restaurantes para quem quer provar sabores amazônicos e saborear pratos com ingredientes bem regionais.

Tive a oportunidade de experimentar diferentes preparos, com destaque para os peixes amazônicos como o pirarucu. Achei tudo muito gostoso e pude notar o cuidado na preparação, desde as entradas até os pratos principais.

Mas o que me conquistou mesmo foi a Surpresa de Tucupi (caldo extraído da mandioca brava) na sobremesa: sorvete de castanha com compota de fruta regional e uma calda de tucupi preto, resultando em um doce suave, com bastante acidez e um sabor bastante peculiar.
- Pavlova Amazônica
- Surpresa de Tucupi
Uma curiosidade é que o tucupi é tóxico para o ser humano e precisa ser cozido por várias horas antes de estar apto para consumo.
Experimentei também a caipirinha amazônica com cachaça e jambú, que dá uma leve dormência na língua.

Caipirinha Amazônica de cachaça com jambú
Dica de viajante para viajante: se estiver por Manaus, não deixe de visitar o Caxiri!
Como é fazer uma expedição de barco pela Amazônia
No dia seguinte, partimos cedo rumo a Novo Airão, que fica a cerca de 200 km de Manaus. O transfer de carro até lá já está incluso no valor da expedição, então não precisa se preocupar em contratar transporte separado.
A estrada até Novo Airão é quase toda asfaltada, há apenas alguns trechos de estrada de terra, mas que devem ser pavimentados em breve. O trajeto dura pouco mais de duas horas e meia.
Dia 1 – Embarque em Novo Airão
Em Novo Airão, almoçamos no restaurante flutuante Flor do Luar, que tem um cardápio bem regional criado pela chefe Debora Shornik – a mesma responsável pelo Caxiri, no qual jantei em Manaus.

Provei a banda de tambaqui na brasa acompanhada de baião de dois, banana assada, vinagrete com tucupi e farofa. Um prato bem típico da região e muito saboroso! De sobremesa, escolhi o sorvete de açaí com abacaxi caramelizado e não me arrependi.
Do restaurante, pude ver o barco – que seria minha casa nos próximos dias – se aproximando. O embarque foi ali mesmo, a tripulação levou a bagagem para a cabine e logo deixávamos Novo Airão, subindo o Rio Negro acima.

O Jacaré-açu é um barco bem aconchegante e a gente logo se sente em casa. No primeiro piso ficam a cozinha e o restaurante, onde são servidas as refeições durante a expedição; aqui também ficam quatro cabines duplas, com beliches (entre elas a minha) e há um espaço na proa para apreciar a vista durante a navegação.

- Detalhe da proa
- Refeitório do barco
No segundo piso, há uma sala de convivência com sofás e TV, outros quatro quartos de casal e a cabine do capitão.
No terceiro piso, há um terraço coberto com espreguiçadeiras e espaço para pendurar redes.

Todos os quartos possuem ar-condicionado (essencial para garantir conforto no calor amazônico, principalmente na hora de dormir). Cada quarto possui seu próprio banheiro.

Minha cabine dupla no primeiro piso da embarcação
Uma curiosidade é que toda a água usada nos chuveiros, pia e descarga vem do próprio rio. Ela é bombeada, passa pelos filtros e vai para uma caixa para ser distribuída pelo barco. A água utilizada (e o esgoto) vai para os tanques do barco, onde recebe um primeiro tratamento (semelhante ao dos banheiros químicos) e depois é descartada no porto, ao final da expedição.
Os chuveiros do Jacaré-açu não são aquecidos, mas nem precisa. A água do Rio Negro está sempre em torno dos 28ºC.
A energia elétrica do barco vem de um gerador e de placas solares. E, apesar de estarmos no meio da Amazônia, não ficamos desligados do mundo; o Jacaré-açu é equipado com internet via satélite, que funciona super bem em todo o trajeto.
No final da tarde, saímos para nosso primeiro passeio de voadeira pelos canais do arquipélago de Anavilhanas, o segundo maior arquipélago de rio do mundo! O primeiro também fica no Rio Negro, é o Mariuá. Uma região em que o Rio Negro se espalha formando mais de 400 ilhas, em um verdadeiro labirinto de canais.

A bordo das voadeiras, é possível chegar mais perto das margens e se embrenhar em canais mais estreitos para observar a floresta e alguns de seus moradores, como essa simpática preguiça e o casal de papagaios que encontramos.
Na volta, o espetáculo ficou por conta das cores do pôr do sol, refletidas na imensidão de água. Realmente emocionante!

Depois do nosso primeiro jantar a bordo do Jacaré-açu, acompanhado de parte dos membros da expedição, peguei uma rede no quarto e fui dormir em uma cabana no meio da mata, para ter a experiência de dormir bem perto da natureza.
Só não contava com a companhia que teria durante a noite: uma tarântula super simpática que mora por ali e costuma recepcionar os visitantes.

Sempre bom lembrar que estamos na natureza, e somos nós que estamos invadindo o espaço dela, nesse caso.
Outra curiosidade é que no Rio Negro quase não há mosquitos, isso porque a água é mais ácida e eles não conseguem se reproduzir muito por ali.
Dia 2 – Trilha na floresta
Antes do café da manhã, saímos para mais uma volta de voadeira para explorar os arredores, na expectativa de avistar outros animais, mas sem muita sorte.

Depois seguimos para uma caminhada na floresta amazônica, acompanhados do nosso guia, o Josué Basílio, que cresceu na região. Ao longo da trilha, ele compartilhou sua experiência, mostrando como fazer corda com casca de árvore para poder escalar a palmeira do açaí, como fazer fogo em um ambiente tão úmido, além de ensinar técnicas de caça e sobrevivência usadas pelos povos indígenas.
Ficamos cara a cara com a formiga tucandeira, que tem uma das picadas mais doloridas da natureza e é usada em rituais de passagem em algumas aldeias. Neles, os jovens colocam a mão em uma luva cheia de formigas e precisam aguentar a dor das picadas para se tornarem adultos.

Passamos também pelas grutas do Madadá, pequenas cavernas criadas pela erosão.
Depois do almoço, um banho refrescante nas águas cor de coca-cola do Rio Negro, antes de seguir viagem.
À tarde, visitamos uma das comunidades atendidas pelo projeto “Educação Ribeirinha”, que a Katerre ajuda a manter através da ONG Almerinda Malaquias. Através desse projeto, são construídas escolas nas comunidades mais afastadas, contribuindo para a educação das crianças que vivem na região.


A comunidade também produz artesanato e há uma pequena loja onde os visitantes podem adquirir itens únicos como lembrança e também como contribuição com a economia local.
Antes do pôr do sol, ainda deu tempo de curtir uma praia de rio amazônica, com direito a areia branquinha.
Seguimos navegando e, no início da noite, entramos no Parque Nacional do Jaú, afluente do Rio Negro.
Dia 3 – Explorando o rio Jaú
Pela manhã, saímos de voadeira para explorar o Carabinani, um afluente do Jaú. Subimos o rio até nos depararmos com corredeiras, que ficam escondidas no fundo do rio durante o período de cheia na Amazônia, e aparecem apenas quando a água começa a baixar.

Incrível como a paisagem amazônica muda radicalmente de acordo com o ciclo das águas! Dependendo da época, você se depara com cenários completamente diferentes.
A tarde chegamos à comunidade de Cachoeira, onde fizemos um passeio de canoa em meio ao igapó, a parte da floresta que fica inundada a maior parte do ano.

Uma experiência de pura contemplação, onde reinam os sons da floresta e o barulho da água impulsionada pelo remo. Os canoeiros são da própria comunidade e a atividade contribui para a subsistência dos moradores.
À noite, saímos para fazer focagem de jacarés, e nem precisamos ir muito longe do barco para encontrar alguns bem grandes!
Dia 4 – Vida na Amazônia
Na manhã do quarto dia, aproveitamos para conhecer mais sobre a vida local. A comunidade de Cachoeira também recebeu uma das escolas do projeto “Educação Ribeirinha”, que pudemos visitar. Em regiões tão afastadas assim, os professores precisam se mudar para a comunidade e enfrentar várias horas de barco quando precisam ir até a cidade mais próxima.
Além dos passeios de canoa para turistas, os moradores de Cachoeira vivem da agricultura, venda de peças de artesanato e farinha de mandioca artesanal. Bastante curioso o processo de fabricação da farinha d’água, feita a partir da mandioca brava.

Seguimos viagem, dessa vez de volta ao Rio Negro. A comida da expedição era maravilhosa, mas nesse dia o almoço no solário do barco foi ainda mais especial, com direito a tambaqui na brasa.

Nesse dia tivemos um encontro com a Sumaúma, conhecida como “árvore mãe” pelos indígenas por sua imponência e importância ecológica e cultural. Ela pode atingir mais de 50 metros de altura e é facilmente reconhecida pelas suas grandes raízes tabulares.

Nas margens do Rio Negro, nos deparamos ainda com uma cidade abandonada no meio da floresta: Airão (ou Velho Airão) que foi uma das vilas mais prósperas no Médio Rio Negro, desde a época dos colonizadores portugueses até a Segunda Guerra Mundial, época em que a Amazônia era a principal fonte de borracha para o mundo.

Diz a lenda que a cidade foi abandonada depois da invasão de formigas de fogo, mas a verdade é que ela foi sendo gradualmente deixada pelos moradores depois que o Látex passou a ser produzido na Malásia, acabando com a principal fonte de renda local.
Hoje, Airão se resume a algumas ruínas, a cidade foi literalmente engolida pela floresta, que aos poucos derruba as últimas paredes que ainda restam em pé.
Não muito longe, vestígios de civilizações ainda mais antigas, os petróglifos, gravuras rupestres esculpidas na pedra, datadas de milhares de anos.

No fim do dia, parte do grupo foi pescar piranha, e outra parte (na qual me incluo) permaneceu no barco para aproveitar um banho de rio.

Dia 5 – Boto cor-de-rosa
Nos despedimos do Jacaré-acu, nossa casa por cinco dias, e seguimos de voadeira até o flutuante dos botos em Novo Airão.
Aqui a gente aprende sobre as espécies e pode ficar pertinho do boto rosa. Na verdade, a pigmentação dele depende muito da alimentação e esses não são tão rosas assim.

Eles vivem soltos e aparecem no flutuante para serem alimentados em determinados horários.
Seguimos então para a sede da Fundação Almerinda Malaquias, ONG que a Katerre e o Mirante do Gavião ajudam a manter.
O projeto surgiu com a missão de oferecer treinamento em marcenaria, transformando sobras de madeira em artesanato de alta qualidade e proporcionando uma fonte de renda para as comunidades ribeirinhas. O trabalho acabou se expandindo com o tempo, incluindo projetos de educação em Novo Airão e a construção das escolas nas comunidades mais afastadas.
Inclusive, tivemos a chance de assistir a uma apresentação cultural feita pelas crianças da Fundação, foi bem bonito.

A próxima parada é na Associação dos Artesãos de Novo Airão, onde são feitos trabalhos em palha seguindo a tradição e as técnicas dos povos do Alto Rio Negro. O processo de beneficiamento e tingimento da matéria-prima é super interessante! Difícil sair de lá de mãos abanando, hein.

Mirante do Gavião
Nosso último dia na Amazônia é no Mirante do Gavião, uma hospedagem integrada à floresta. São diferentes bangalôs conectados por passarelas, uma piscina convidativa e uma grande estrutura que abriga o Restaurante Camu-camu, com menu à la carte que destaca os ingredientes amazônicos. O melhor é que as refeições e bebidas já estão incluídas no valor das diárias, apenas as bebidas alcoólicas são pagas à parte.

O Mirante do Gavião oferece basicamente três tipos de acomodações, todas muito aconchegantes e decoradas com materiais locais, como peças em marchetaria da Fundação Almerinda Malaquias e da Associação e com fibras naturais e cestarias da Associação de Artesãos de Novo Airão.
No hotel também é possível fazer uma massagem relaxante, aproveitar a sala de ioga, se divertir no salão de jogos, curtir a vista do Rio Negro do alto do mirante e ainda fazer atividades aquáticas como caiaque e stand up paddle.

A diária no Mirante do Gavião não está inclusa na expedição, mas pode ser acrescentada caso queira relaxar antes de retornar para casa. E se você ainda não se sente à vontade para se aventurar de barco pelo Amazônia, pode ficar apenas no hotel e fazer passeios mais próximos, assim já dá para ter uma boa experiência na floresta amazônica sem abrir mão do conforto.
As diárias no hotel custam a partir de R$ 2.700. Clique aqui para saber mais detalhes ou fazer sua reserva no Mirante do Gavião.
Quanto custa fazer uma expedição pela Amazônia?
Fazer uma expedição como essa pela Amazônia, de fato, não é super barato. Esse roteiro de 5 dias custa a partir de R$ 12.000,00 por pessoa, mas considerando que já está tudo incluso, desde o transfer de ida e volta para Manaus, as refeições, bebidas e atividades durante a viagem, não é tão caro assim.
Há opção também de organizar viagens privadas e fechar o barco para uma família ou grupo de amigos, para uma experiência ainda mais exclusiva.
Clique aqui para conhecer as opções de roteiro e embarcações da Katerre.

Vale a pena fazer uma expedição de barco pela Amazônia?
Se você tiver a oportunidade de fazer uma viagem como essa, apenas vá! A floresta Amazônica é um verdadeiro patrimônio natural e a imersão que esse tipo de viagem proporciona é algo incrível! A energia da floresta, das pessoas que vivem nessas áreas remotas, é algo que transforma nossa percepção e nos faz perceber a dimensão e a força da natureza de diversas formas. Certamente uma experiência inesquecível!
E aí, ficou com vontade de viver uma experiência assim na Amazônia? Acha que vale o investimento? Conta pra gente nos comentários.