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Como é a preparação das aeronaves para voltar a voar, após ficarem armazenadas devido à pandemia

Leonardo Cassol
26/07/2020 às 6:53

Como é a preparação das aeronaves para voltar a voar, após ficarem armazenadas devido à pandemia

Devido à pandemia de coronavírus, milhares de aeronaves precisaram ser retiradas de operação e armazenadas em aeroportos, hangares e desertos no mundo inteiro. No Brasil, não foi diferente. Mas conforme a demanda vai retornando, parte da frota das companhias aéreas começa a ser colocada de volta à operação. Eu e meu colega Sandro Kurovski acompanhamos o processo de “despreservação” de algumas aeronaves da Azul, no centro de manutenção da empresa, em Viracopos, e mostramos as principais etapas para que um avião retorne aos céus com segurança depois de alguns meses parado. Vale a pena conferir, pois tem imagens bem legais e de ângulos pouco comuns das aeronaves.

Centro de manutenção da Azul em Viracopos

A Azul inaugurou em março de 2020 o maior hangar da América do Sul no aeroporto de Viracopos, em Campinas. De acordo com a empresa, rapidamente ele passou a ter um papel muito relevante para as suas operações já que, devido à pandemia, precisou abrigar muitas aeronaves que pararam de voar.

Com o início da retomada dos voos, o complexo já está realizando diversas tarefas de manutenção, sua finalidade principal. E, até o fim do ano, a companhia irá agregar ao local novas oficinas, que darão suporte aos serviços de reparos feitos nas aeronaves.

O hangar também recebe aviões que necessitam fazer paradas especiais ou reparos nas estruturas. Agora em julho, por exemplo, recebeu a primeira aeronave para manutenção de grande complexidade, o heavy check, onde o avião é totalmente desmontado e remontado para avaliar o desgaste das peças e da fuselagem, além de ter a pintura refeita. Esse procedimento geralmente é feito a cada 3 ou 4 anos, dependendo do número de ciclos (pousos e decolagens) que o avião enfrentou no período.

Na visita realizada nessa semana (em 23/7), vimos também um das duas únicas aeronaves da Boeing que a Azul possui, um 737-400 (matrícula PR-AJY) exclusivamente dedicado ao transporte de cargas. Ele sofreu uma colisão com um veículo de serviço no aeroporto, no fim de junho, e foi avariado. Na ocasião, estava sendo realizada a troca de uma peça da fuselagem. Na imagem terceira imagem da galeria abaixo é possível ver o reparo, uma espécie de “acupuntura” com vários parafusos recolocados.

Além disso, no dentro e fora do hangar deu pra ver mais de uma dezena de aviões, entre Airbus A320neo, Airbus A330 e Embraer 195. Foi bem legal!

Como é feita a manutenção das aeronaves estocadas

Todas as aeronaves que estão paradas, fora de operação, precisam passar por uma rotina de manutenção constante. É como um automóvel que fica parado por muito tempo… Se você não ligar de vez em quando e mantiver alguns cuidados, provavelmente terá problemas com pneus, bateria e combustível.

A Azul chegou a ter mais de 120 aeronaves armazenadas no total, no auge da pandemia. E não havia espaço coberto suficiente para guardar todos os aviões, já que nunca na história da aviação comercial se estocou tantas aeronaves ao mesmo tempo. Isso demandou cuidados adicionais, já que a umidade é uma inimiga da conservação dos aviões (por isso algumas empresas mandam seus aviões para armazenamento no deserto ou locais com pouca umidade).

Além do hangar em Campinas, boa parte da frota da Azul ficou estocada nos aeroportos de Viracopos, Pampulha, Confins e Recife.

Aviões da Azul parados no Aeroporto da Pampulha (BH)

Outro enorme desafio foi a falta dos itens necessários para preservar as aeronaves. Antônio Eick, gerente de manutenção de aeronaves da Azul, explicou que como a pandemia levou rapidamente a uma paralisação quase completa da aviação no mundo inteiro, e os fornecedores ficaram sem conseguir entregar alguns itens. “Não tinham calços suficientes para os pneus das aeronaves, ou protetores para envolver janelas e motores. Tivemos que agir rápido e, em alguns casos, fabricar nossos próprios equipamentos”, destacou.

Tiago Rolim, um dos responsáveis pelo armazenamento das aeronaves da Azul, explicou que os cuidados seguem rotinas validadas junto aos fabricantes e que variam conforme o tempo que a aeronave vai ficar parada. “Existem rotinas de 7 dias, 15 dias, 30 dias e assim por diante.” Além disso, as aeronaves ficam em constante movimentação nos pátios ou hangares de armazenamento, seguindo uma espécie de rodízio conforme a fase de preservação de cada uma.

Veja os principais itens de preservação:

  • Combustível: a umidade precisa ser controlada e a qualidade do combustível monitorada. São utilizados biocidas para evitar a deterioração do querosene de aviação remanescente nos tanques da aeronave.
  • Motores: precisam ser isolados e protegidos contra a umidade (com sílica). Dependendo do período de armazenagem, é feito o giro e o acionamento dos motores em marcha lenta, periodicamente.
  • Janelas: os aviões que ficam na área não coberta têm todas as janelas protegidas com uma manta para evitar que a entrada de luz e calor danifiquem ou desgastem o interior da cabine.
  • Trens de pouso: os pneus recebem calços e uma calibragem especial e é feito um monitoramento do nível de pressão. Além disso, é feita uma rodagem para evitar que os pneus fiquem deformados, entre outros cuidados de armazenamento.
  • Sistemas hidráulicos: os líquidos são drenados e um lubrificante anticorrosivo é adicionado para evitar corrosões, dependendo do tempo de parada.
  • Sensores: todos os sensores externos (como os tubos pitot) e as entradas de ar precisam ser isolados para evitar a entrada de insetos ou poeira.
  • Sistemas elétricos: as baterias são desativadas e boa parte dos sistemas desligados. Periodicamente são feitas checagens para identificar eventuais falhas.
  • Interior da cabine: os tapetes são cobertos com plástico, já que a equipe de manutenção precisa caminhar dentro da aeronave. Alguns painéis são expostos durante o trabalho dos técnicos. Na cabine de comando, vários itens são sinalizados para que não sejam acionados indevidamente durante o armazenamento.

Caso o avião fique mais de 90 dias preservado, é recomendado que seja feito um voo curto para colocar todos os equipamentos em uso. Mas a equipe de manutenção acaba fazendo um rodízio das aeronaves, para evitar o armazenamento por períodos prolongados.

Isso é apenas um grande apanhado das rotinas de preservação, que demandam grandes quantidades de horas das equipes de manutenção da empresa.

Felizmente, boa parte da frota da Azul está voltando para operação, com o retorno gradativo dos voos da empresa. E, com isso, a necessidade da despreservação das aeronaves.

Despreservação das aeronaves

São necessários 4 dias de trabalho para preparar uma aeronave estocada para o retorno às operações. Na visita ao hangar da Azul, conseguimos acompanhar a parte final desse processo.

Os protetores dos sensores e saídas de ar são removidos (com aquelas famosas tags “remove before fligth” – remova antes de voar).

Os motores são desprotegidos, abertos e analisados. Depois, precisam ser acionados em marcha com potência alta, incluindo testes dos reversores (um dos sistemas de freio das aeronaves, que utiliza a força do empuxo do motor contrária ao fluxo normal).

Os pneus do trem de pouso são recalibrados e avaliados. A bateria é religada e passo a passo os sistemas vão sendo reabilitados, seguindo um check list com centenas de itens.

Praticamente todos os sistemas da aeronave, como hidráulica, elétrica, comunicação e navegação são testados pela equipe de manutenção antes dela ser liberada para seu primeiro voo. É algo necessário para garantir a segurança das operações. Além disso, é feito um monitoramento diário dos aviões que saem da preservação, para garantir o perfeito funcionamento dos processos.

Não são apenas as aeronaves que precisam de cuidados por ficarem muito tempo paradas. Na Azul, os pilotos também recebem uma reciclagem, caso fiquem muito tempo sem voar. Isso mesmo que suas certificações ainda estejam válidas. É uma maneira de reambientar a tripulação e reforçar todos os procedimentos.

Imagens das aeronaves por um ângulo diferente

Eu aproveitei que tinham várias aeronaves paradas ali, dando sopa no Hangar de Manutenção da Azul, para fazer algumas imagens por ângulos diferentes, que dificilmente conseguimos fazer nos aeroportos, durante a operação comercial.

Começando pela cabine se comando, com várias sinalizações em vermelho:

Algumas aeronaves estavam com “partes íntimas” expostas. Deu também para ter uma ideia da visão que o auxiliar de estacionamento (o flanelinha de avião) tem quando essas belezuras estão chegando aos terminais.

Fiquei impressionado com a quantidade de peças e detalhes dos motores das aeronaves, isso olhando apenas a parte externa. Também, para fazer essas maravilhas super pesadas voarem, só com muita tecnologia mesmo…

Agora, aqueles compartimentos que nem de longe a gente sonha em ver quando está voando. Na esquerda, onde fica a bateria de um Airbus A320neo. No centro e na direita, um compartimento que armazena parte dos sistemas elétricos e de entretenimento.

E aí, curtiu saber um pouco mais sobre o trabalho que é feito para garantir a manutenção dos aviões parados e a nossa segurança nos voos? Comente e participe!


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