Delta quer definir preços de 20% de suas passagens com base em IA até o fim do ano
Delta quer definir preços de 20% de suas passagens com base em IA até o fim do ano
No futuro, é possível que se você estiver sentado ao lado de outra pessoa procurando passagens aéreas para voos em uma mesma rota, mesmo horário, mesma data, cabine e companhia, os preços apresentados sejam totalmente diferentes. A explicação para isso está na inteligência artificial, tema do momento e que já está penetrando nas tarifas de bilhetes aéreos. Pelo menos na Delta Airlines, dos Estados Unidos, a realidade é cada vez mais essa: a empresa pretende definir o valor de 20% de suas passagens com base em IA até o fim deste ano!

Este cenário foi apresentado pela empresa na sua última conferência com investidores. O presidente da Delta, Glen Hauenstein, disse que os resultados iniciais mostram “unidades de receita incrivelmente favoráveis”. Atualmente em fase piloto, o projeto da companhia atualmente é capaz de precificar 3% de todos os seus bilhetes à venda com base em IA – nove meses atrás, quando os teste começaram, era 1%.
Para os próximos anos, Hauenstein comparou a inteligência artificial na precificação de passagens como um “super analista” que vai trabalhar 24 horas por dia para simular em tempo real qual seria o valor máximo que um passageiro estaria disposto a pagar.
Como funciona a dinâmica de preços atualmente?

De forma geral, a maioria das companhias aéreas trabalha com preços “estáticos” em um sistema que separa os valores das passagens em até 27 classes tarifárias (não coincidentemente, todas as letras do alfabeto).
Cada letra reúne um determinado número de assentos a um determinado preço. A venda começa, geralmente, com as tarifas mais baixas. Quando todos os lugares são comercializados naquela “letra”, aquela tarifa deixa de existir. E, assim, o custo do bilhete vai subindo.
Isso não quer dizer, porém, que as empresas não mexam nos preços das passagens durante a venda de um voo. Na verdade, acontece com certa frequência, observando a relação oferta X demanda, mas sempre limitado às 27 classes tarifas ou àquelas ainda restantes nos sistemas das empresas. Com a IA, a flexibilidade será uma regra, e o céu será o limite para as empresas em termos de preços das passagens e oferta de outros serviços.
E a definição de preços de passagens por IA?

Você talvez conteste a afirmação inicial deste post dizendo que as diferenças de tarifa em uma pesquisa feita ao mesmo tempo já existem. E essa é uma verdade, mas a IA poderá personalizar ainda mais a precificação.
Embora detalhes sobre esse modelo ainda não estejam publicamente disponíveis, podemos imaginar algo como o seguro de automóvel, em que decisões são tomadas com base em inúmeros dados pessoais de potenciais clientes para definir o preço de uma apólice.
Neste mesmo sentido, as companhias aéreas poderiam atuar em um formato que permita identificar padrões de comportamento dos passageiros com base em suas experiências de viagem ou outros tipos de preferências, e assim mostrar preços mais ou menos agressivos.

A atitude da Delta tem atraído críticas de especialistas e políticos. “Eles estão tentando ler a mente das pessoas para ver o quanto estão dispostas a pagar. Eles estão basicamente hackeando nossas mentes”, disse Justin Kloczko, da Consumer Watchdog, uma organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos. O senador democrata do Arizona, Ruben Gallego, disse que a prática da Delta configura “precificação predatória”.
Essa moda pode chegar ao Brasil?
A empresa israelense Fetcherr é parceira da Delta para IA, e também está ao lado de outras companhias aéreas, como WestJet, Virgin Atlantic e VivaAerobus. No Brasil, a Azul é cliente.

Em realidade, a companhia aérea usa a inteligência artificial desde 2022, mas não da forma como a Delta tem testado. Trata-se, na verdade, de um modelo que prevê e analisa a demanda 24 horas por dia sem necessariamente olhar para informações específicas de cada passageiro – pelo menos não neste momento.
Mas o passo dado pela Delta, caso dê o resultado positivo que a empresa espera para sua receita financeira, certamente será o início de uma festa da qual nenhuma companhia aérea vai querer ficar de fora. Isso no Brasil e em todo o mundo.
Com informações da revista Fortune