Como é voar na Transaero
Como é voar na Transaero
A Transaero é uma companhia aérea russa com sede em Moscou, que opera voos para 156 destinos incluindo países na África, américas, Ásia e Europa. Há algum tempo, a companhia chegou a anunciar um voo de Moscou ao Rio de Janeiro e chegou a solicitar a autorização à Anac, mas acabou desistindo da rota e hoje voa para Estados Unidos, Canadá e México, além de Cuba e vários destinos no Caribe. Nosso leitor Rodrigo Ramos Margon Vaz usou a companhia para voar da Itália para a Rússia e nos conta nessa avaliação como foi sua experiência:
Acabei escolhendo a companhia Transaero (a qual nem sabia existir) por eliminação.Na data escolhida estaria próximo a Veneza e procurava por um voo o mais rápido possível para Moscou. A Transaero era a única companhia que possuía voo direto.
Havia outras companhias que faziam o voo por preço parecido, porém, todas faziam conexões em seus HUBs. Voos pela AirBerlin ou Turkish Airlines demorariam mais de oito horas contra 03h30min da Transaero.
Compra
Após pesquisa em sites de buscas de passagens, tentei comprar direto no site da Transaero (que possui versão em inglês), porém, o preço estava superior ao das pesquisas.Diante disso, comprei no site Tripsta.net.
Lembro-me que tive que tentar umas três vezes até conseguir finalizar a compra, mas nada de muito anormal.
O ponto negativo era o preço, paguei mais de 260 euros por um voo só de ida e comprado com quase dois meses de antecedência.
Check-in e embarque
O horário do voo era 11h40, logo, chegamos ao aeroporto com mais de duas horas de antecedência. De cara, já vimos no painel que o voo estava então previsto para as 14h40, sendo o único de todo o dia com algum atraso.
Fizemos o check-in sem maiores problemas com uma funcionária terceirizada que com cara de enfado se limitou a dizer que o avião estava atrasado devido a ¨problemas técnicos¨.
Neste ponto estávamos a umas cinco horas da saída do voo e ao lado de Veneza, cidade que minha amiga não conhece, mas devido à dificuldade para se chegar e sair da cidade, ainda mais sendo um sempre lotado domingo, por precaução resolvemos ficar no aeroporto.
Ato contínuo, passamos para a área de embarque do Aeroporto Marco Polo e ficamos nos entretendo com as várias lojas que lá existem.
De repente, vimos no painel que o voo havia sido mudado para as 15h40. Mais um tempo, 16h40,17h40 e finalmente 18h40.
Bom, como teríamos que passar a tarde toda no aeroporto e este horário de saída significava que chegaríamos muito tarde a Moscou, cogitei aproveitar Veneza e embarcar no dia seguinte.
Com alguma dificuldade consegui que me deixassem sair da área de embarque e voltar para o saguão. Lá procurei por algum responsável pela Transaero, mas este não existia. Fui até a administração do aeroporto e relatei minha situação, onde confirmaram que a empresa não tinha escritório no aeroporto mas tinha uma pessoa contratada que se encontrava no portão de embarque previsto para o voo. Inclusive ele estaria entregando um voucher de 20 euros para os passageiros se alimentarem.
Dirigi-me ao portão referido mais interessado em explicações do que no voucher – 20 euros para quase 10 horas de espera em um aeroporto, não ajudam muito.
Entretanto, este portão se encontrava em uma parte do aeroporto destinada a voos para fora da União Européia e necessitava fazer controle de passaportes.
Expliquei para os oficiais alfandegários que só precisava buscar uma informação, mas estes foram categóricos: se passar, não volta!
Bem, como tinha acesso a um lounge do meu cartão de crédito, não iria deixá-lo pra ficar vendo o tempo passar no saguão de posse do meu ¨vale-lanche¨. Optei por engolir a frustração e esperar.
Ah, detalhe: toda a rede de internet do aeroporto Marco Polo (que é paga) estava fora do ar e assim ficou por toda a tarde, dificultando muito informar nossos parentes sobre o atraso.
Neste citado lounge puxei papo com um russo que havia obtido a informação que outro voo estaria vindo de Moscou para nos buscar. Acabou sendo isso que aconteceu e embarcamos finalmente às 19:00.
Até então, apesar de chata, a situação era cotidiana em aeroportos por todo o mundo. Agora é que iria começar realmente a parte pitoresca da viagem.
Avião
O voo se deu em um avião Boeing 737-800 muitíssimo mal conservado. Só não digo que tinha uns 30 ou 40 anos, pois pesquisei e li que este modelo é dos anos 90. Mas acreditem, parecia muito velho.
Havia uma pequena classe executiva configurada em 2-2 e fomos acomodados logo atrás (passando por uma cortina) em uma configuração 3-3.
De cara, fiquei bem impressionado com o espaço entre as poltronas bem superior a qualquer classe econômica que já voei.
Mais tarde, ao ir ao toilette, vi que na verdade tive sorte. Até onde eu entendi, aquela aeronave fora já usada com três classes, atualmente, só com duas]. A antiga primeira virou executiva, a executiva se tornou o começo da econômica (onde eu estava) e após outra cortina, havia a econômica de sempre, super-apertada igual a qualquer voo da GOL.
O voo estava lotado e, pelo que percebi, eu a minha amiga éramos os únicos não russos ou com esta ascendência em todo o avião.
Certa hora ao me levantar, o assento no qual estava simplesmente se descolou e caiu no chão, deixando à mostra só a estrutura da poltrona. Como a dificuldade de comunicação era tremenda e não tinha como me realocarem, nem falei nada, só coloquei no lugar e usei meu peso pra segurá-lo.
Logo, começaram os avisos de praxe – em russo, que mal sei umas cinco frases – que foram seguidos de uma gargalhada coletiva e muitas palmas dos passageiros.
Por um momento, imaginei que a companhia havia ofertado uma passagem extra em compensação pelo atraso excessivo. No que perguntei para a passageira ao lado, esta nos explicou que a comissária de bordo, em sua apresentação, havia se referido à Transaero como ¨a melhor empresa no que faz¨.Hehehehe.
Depois dos avisos em russo, o piloto sempre falava em inglês, mas era tão rápido e o sotaque tão carregado que muito pouco conseguia entender.
Serviço
O serviço de bordo era ok. No começo do voo, foi entregue um kit de higiene bacana, até tinha enxaguante bucal. Também havia um cobertor com aquelas estampas bem antigas, que usávamos na casa da vovó.
Chamou atenção o fato de que fomos atendidos somente por um comissário de bordo e bastante jovem. Creio que havia mais uns três, mas em outros pontos do avião.
Apesar dele forçar um sorriso tímido, parecia constrangido. Depois de tanta espera, o estado de ânimo dos passageiros não era dos melhores e vi que ele recebia reclamações o tempo todo.
E…não falava absolutamente nada em inglês. Termos como gelo ou suco de laranja (em inglês, claro) eram totalmente ininteligíveis pra ele. Ainda bem que quase não tive opções pra fazer durante o serviço, pois sempre tive que me virar apontando ou na base da mímica.
Refeições
A parte das refeições acabou sendo igual a qualquer outro voo da mesma duração/categoria.
De início, nos serviram uma bebida acompanhada de amendoim e logo em sequência já passaram com o jantar (que era pra ter sido almoço) que continha uma fatia de salmão defumado (muito boa), uma salada de bacalhau com batata, um pão e, no meu caso, peixe com batatas.
Havia também opção de uma massa. Nada estava bom demais nem ruim. Aquele ¨gosto¨ de comida de avião que conhecemos. De sobremesa tinha um bolinho que era puro chantilly.
Engraçado é que havia esta abundância de peixe, o que foi bom pra mim, mas que minha amiga não come, logo, teve que se virar só com a massa e o pãozinho com manteiga…
Citando as bebidas havia água, refrigerantes, sucos e vinhos tinto e branco. Entre os sucos além do de laranja, havia o de tomate, muito apreciado na Rússia.
Após o jantar serviu-se chá, que não tomei.
Entretenimento
Isso foi o mais surreal.
Não havia qualquer revista de bordo, escrita em russo ou não.
O ¨entretenimento¨ se limitou a baixarem uma telinha que servia a cada seis ou nove lugares, que estavam com as cores bem opacas e que passava somente programação falada em russo, sem legenda ou opção de outra língua.
O mais incrível foi que passou por quase todo o voo um filme comédia pastelão italiano dublado, mas pasmem, dos anos 70! Por umas das fotos dá pra identificar pelas roupas que trajavam.
Não era um clássico nem havia qualquer ator famoso. Aí eu me pergunto, onde é que arranjaram isso???
Ainda bem que sempre carrego um livro e foi esta minha salvação.
Chegada
A chegada foi tranquila e como já era mais de meia-noite (Moscou estava com duas horas a mais de fuso em relação a Veneza), o aeroporto estava vazio e pegamos as malas rapidamente.
O mais memorável de toda a viagem foi que ao desembarcarmos, fui pedir informações para o passageiro que havia conhecido e ele, acompanhado de sua esposa, falou pra dividirmos o táxi.
O aeroporto é bem distante e mesmo sem trânsito demoramos mais de 40 minutos pra chegar aonde iria me hospedar. E ao chegar lá, ele simplesmente não deixou que eu pagasse!
Eu insisti, mas ele não aceitou. Fiquei comovido. Tinha preocupação com segurança e comunicação. Além dele me livrar de tudo isso, ainda não paguei uma corrida que daria uns 100 dólares.
Uma viagem que tinha tudo pra começar mal, me traz a lembrança desta pessoa muito gentil. Depois que voltei já enviei e-mail lhe agradecendo e me disponibilizando a recebê-lo caso venha ao Brasil.
Conclusão
Concluindo, viajar novamente pela Transaero, jamais. Cara, com aviões mal-cuidados, sem estrutura de apoio e com um atraso que me custou um dia e até agora não foi explicado. O camarada russo que citei me disse que ela é até pior que a famigerada Aeroflot! Quando comprei era a opção mais sensata, mas sabendo o que sei hoje, tentaria um aeroporto maior que Marco Polo, com mais opções de voo para Moscou, só para escapar da Transaero.
Agradecemos ao Rodrigo por esse excelente relato, que com certeza vai ajudar aos demais leitores a escolher – ou passar bem longe – da Transaero. E você? Já voou com a companhia russa? Conte como foi sua experiência nos comentários e participe! Você pode conferir todas as avaliações que publicamos aqui no Melhores Destinos neste post – já são mais de 140 avaliações!