9 coisas que você precisa saber antes de viajar para Ouro Preto
9 coisas que você precisa saber antes de viajar para Ouro Preto
Costumo brincar que existem dezenas de cidades históricas no Brasil e existe Ouro Preto. No meu ponto de vista, esse pedacinho de Minas realmente está em outro patamar. Morei por lá durante 4 anos, enquanto cursava Turismo na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e sou apaixonada pela cidade.
Compartilho aqui dicas sobre o que você precisa saber antes de viajar para Ouro Preto, desde indicações de atrativos até percepções muito particulares de quem conhece bem o destino. Tudo isso costurado com curiosidades históricas que vão enriquecer sua visita antes mesmo de chegar.
1. É uma das cidades mais importantes da história do Brasil
Enquanto extraíam toneladas de ouro das minas, os portugueses foram levantando igrejas e construindo pequenos arraiais próximos uns aos outros. Quando todos se fundiram em um só, nasceu Vila Rica, mais tarde rebatizada como Ouro Preto.

Igreja de São Francisco de Assis vista a partir da antiga Casa do Ouvidor, atual Secretaria de Turismo da cidade
A cidade foi capital de Minas Gerais por mais de 170 anos e, no auge do Ciclo do Ouro, isto é, na primeira metade do século XVIII, chegou a ser o maior centro urbano do país. Por suas ruas circularam personalidades importantes: Tomás Antônio Gonzaga, poeta do Arcadismo; Tiradentes, mártir da Inconfidência Mineira; e Aleijadinho, escultor e arquiteto do Barroco e do Rococó.
As igrejas imponentes e o casario colonial branco de portas e janelas coloridas são testemunhas dessa época e nos fazem voltar no tempo. Não por acaso, o conjunto arquitetônico do Centro Histórico de Ouro Preto foi o primeiro no Brasil a receber o título de Patrimônio Mundial pela Unesco, em 1980.
2. Chegar é mais fácil do que parece
No século XVIII a Coroa Portuguesa precisou abrir caminhos para escoar o ouro e o diamante das minas até o porto do Rio de Janeiro. Mais de três séculos depois, o movimento é inverso: visitantes querem chegar até lá.
A partir da capital, Belo Horizonte, são 100 km de distância, percorridos em cerca de 2 horas. Se estiver chegando de avião, adicione mais uma hora no percurso, uma vez que o aeroporto de Confins fica a 40 km da capital.
- Rua Direita
- Detalhes da arquitetura colonial
De ônibus, é a Pássaro Verde quem opera a rota Belo Horizonte – Ouro Preto, com saídas praticamente de hora em hora.
Ouro Preto está relativamente próxima de outros centros urbanos:
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- Rio de Janeiro: 400 km
- Vitória: 440 km
- São Paulo: 650 km
- Brasília: 830 km
É possível chegar a Ouro Preto de ônibus a partir dessas quatro capitais. As rotas, operadas pela Útil, Gontijo e Pássaro Verde, variam de 8 a 14 horas. Nada mal para uma cidade do interior com 74 mil habitantes, né?
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3. Todos os caminhos começam pela Praça Tiradentes
Você vai sentir que chegou mesmo a Ouro Preto quando estiver descendo a ladeira que leva à Praça Tiradentes. De lá, construções coloniais imponentes, uma estátua no centro, algumas igrejas próximas e as montanhas que cercam a cidade compõem o cenário. É uma vista que nunca deixa de me impressionar.
- A ladeira ao lado da Igreja das Mercês, que leva até a Praça
- A vista que se descortina do largo em frente a essa mesma igreja
Ao contrário de outras cidades históricas, a praça principal de Ouro Preto não tem uma igreja. A construção de destaque é o Museu da Inconfidência, antiga Casa de Câmara e Cadeia, transformada em museu na década de 1930, e visita obrigatória. Em frente está a estátua de Tiradentes, erguida no centenário de sua morte no exato local onde esteve exposta sua cabeça. Pois é, tem um quê de macabro, mas é verdade.
- Museu da Inconfidência
- Detalhes da fachada do museu
- Estátua de Tiradentes
No outro lado da praça, o prédio branco que chama atenção já foi o Palácio dos Governadores, na época em que Ouro Preto era capital de Minas. Hoje pertence à UFOP e abriga o Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas.
E sabe por que não existe uma igreja aqui? Porque a praça foi construída depois do surgimento dos pequenos arraiais que deram origem a Vila Rica. E propositalmente no local mais alto e central. Quando eu digo que todos os caminhos levam à Praça Tiradentes não é força de expressão.
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4. As igrejas revelam costumes da época
Quem visita Ouro Preto pela primeira vez logo se pergunta: por que tantas igrejas?
A explicação é complexa, mas um dos fatores que contribuíram é o fato de que cada classe da sociedade frequentava sua igreja. Assim, havia aquelas frequentadas apenas por brancos ricos, outras por pardos e outras ainda por negros escravizados e libertos. A igreja matriz seria o local onde, em tese, todos eram bem-vindos.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Antônio Dias
Entre capelas que remontam ao início da colonização e igrejas erguidas já no período de declínio da extração do ouro, existem mais de 20. Saber o nome e a localização de todas já é tarefa difícil, que dirá visitá-las. Vale priorizar as mais importantes:
- Basílica Matriz de Nossa Senhora do Pilar: toda folheada em ouro por dentro, é uma das duas igrejas matrizes de Ouro Preto. Recebeu do Vaticano o título de basílica, concedido a templos de importância artística, cultural ou arquitetônica.
- Igreja de São Francisco de Assis: considerada a obra-prima de Aleijadinho em Ouro Preto e reconhecida também pela pintura do teto, feita por Mestre Ataíde. Integra a lista das 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo.
- Igreja de Nossa Senhora do Rosário: marco do ponto de vista arquitetônico em função do seu formato oval, tanto na fachada quanto na construção principal.
- Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Antônio Dias: a outra igreja matriz de Ouro Preto é também o local onde Aleijadinho está sepultado.
- Basílica Matriz de Nossa Senhora do Pilar
- Igreja de São Francisco de Assis
- Igreja de Nossa Senhora do Rosário
5. Os atrativos vão além da história — tem natureza também
Quando os bandeirantes percorriam essa região em busca de ouro, uma formação rochosa que se destacava na linha do horizonte servia como ponto de orientação: o Pico do Itacolomi. Com 1.772 metros de altitude, hoje ele é visível de vários pontos do Centro Histórico de Ouro Preto.

Pico do Itacolomi se destaca na linha do horizonte do Centro Histórico
O Parque Estadual do Itacolomi é a pedida para quem gosta de aventura. Existem diversas trilhas demarcadas, mas a mais desejada é a que leva até o topo do pico. Seus 6 km de percurso (12 km ida e volta) podem ser percorridos em cerca de 5 horas de caminhada. Do alto, numa visão 360º, é possível avistar Ouro Preto, Mariana e as montanhas que desenham a região.
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O clima tá quente? Coloque roupa de banho na mala e inclua nos planos a visita ao Parque Natural Municipal das Andorinhas. A área protegida fica a menos de 5 km do Centro, mas é morro acima e por ruas bem íngremes. As cachoeiras e piscinas naturais, bem como os mirantes, garantem um dia de passeio muito diferente.
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6. Comer bem é fácil, difícil é escolher
Como falar de uma viagem a Minas Gerais sem pensar logo em feijão tropeiro, frango com quiabo, angu e couve feitos no fogão a lenha? A comida é parte da identidade cultural do estado e tem lugar garantido em qualquer roteiro.
Por sorte, em Ouro Preto existem inúmeros bons restaurantes — não só de culinária mineira. Juro que difícil mesmo é escolher onde ir em uma estadia de poucos dias. Volto à cidade todos os anos e continuo descobrindo novos lugares.
Para provar iguarias da comida mineira em sistema a la carte, vá ao Restaurante Chafariz ou ao Restaurante Conto de Réis. Mas se preferir experimentar de tudo um pouco, em formato self service, minha dica é o Adega Ouro Preto.
- Ambiente d’O Único Lugar do Mundo
- Risoto de funghi secchi com iscas de filé ao molho roti, servido no O Passo
- Vista da sacada d’O Passo Pizza Jazz
O meu restaurante favorito é O Passo Pizza Jazz que oferece pizzas, carnes, risotos e massas. Tudo absolutamente delicioso e servido em ambientes externos super agradáveis. A mesma família é dona do Tropea Cantina e Armazém, de cozinha italiana, e do Escadabaixo, que oferece pratos e petiscos da cozinha internacional com uma pitada mineira.
A pausa pro cafezim em qualquer hora do dia pode ser tanto no O Único Lugar do Mundo quanto no Café das Flores, ambos saborosos e proporcionando experiências muito diferentes. Vá aos dois. Se houver vontade de uma cervejinha, o Bar da Cervejaria Ouropretana é uma ótima pedida. Frequentado especialmente por moradores, oferece diversos tira-gostos que combinam com a cerveja artesanal fabricada na cidade.
7. Graças aos estudantes, a cidade segue pulsante
Descendo a Rua Direita você logo vai notar plaquinhas coloridas talhadas em madeira: República Tabu, República Gaiola de Ouro, República Éternamente. Quanto mais circular pela cidade, mais vai encontrar. Reparar nos nomes e nos desenhos das placas é divertido e faz parte da experiência da visita.
São os estudantes dos mais de 50 cursos de graduação da UFOP que moram nesses casarões. E tem sido assim há décadas, em algumas há mais de um século. O modelo de moradia universitária em Ouro Preto é único: são cerca de 60 repúblicas federais que pertencem à universidade, mas os estudantes têm autogestão e seu próprio processo seletivo para escolher quem lá reside.
- República Gaiola de Ouro e Éternamente, na Rua Direita
- República Consulado, com Igreja de Nossa Senhora das Marcês e Perdões ao fundo
- República Bem na Boca, meu lar por 4 anos e lugar para onde sempre volto
O modelo foi copiado e adaptado pelas repúblicas particulares que surgiram depois. É até difícil mensurar, mas estima-se que, no total, existam mais de 300. Quem se forma na UFOP enquanto mora na república se torna ex-aluno e passa a manter laços com a casa por toda a vida. É exatamente o meu caso. Em feriados como 21 de abril e 12 de outubro, quando acontecem festas republicanas tradicionais, volto à cidade para reencontrar meus amigos dessa fase da vida.
As repúblicas podem ser consideradas patrimônio imaterial de Ouro Preto em razão de tudo o que representam. Sem conhecer alguém que faça parte, pode ser difícil adentrar nesse universo paralelo. No entanto, me arrisco a dizer que se você tocar a campainha e pedir para conhecer a casa, vai ser muito bem recebido. Faz parte da hospitalidade — mineira e republicana.
8. Subir ladeiras é parte da programação
Ao comentar com qualquer conhecido que já tenha ido a Ouro Preto, é provável que você escute alertas como “prepare-se para as ladeiras!”. Imagine que a topografia é algo tão marcante que esse foi um dos motivos pelos quais a cidade deixou de ser capital. Seria inviável propor o desenvolvimento urbano esperado em um relevo tão acidentado.

Vista do Centro Histórico a partir do Mirante da Igreja de Santa Efigênia
A parte boa disso tudo? Como Ouro Preto ficou esquecida por um tempo, ninguém se deu ao trabalho de demolir o antigo para erguer o novo, por isso a cidade pôde ser preservada. Outra vantagem é que em razão dos diferentes níveis, existem muitos mirantes que permitem avistar o Centro Histórico de vários ângulos.
Para conhecer bem a cidade, é preciso caminhar por suas ruas estreitas e sinuosas. Não tem como fazer isso sem encarar uma subida vez ou outra. Portanto, calçado confortável no pé e disposição de sobra!
Percebeu? Te convenci que ladeira pode ser algo bom. E, adiantando a resposta de uma pergunta que ouvi muito ao longos dos anos: não, a gente não se acostuma. Pelo menos o visual compensa.
- Rua Randolpho Bretas, conhecida como Rua da Escadinha, uma das mais íngremes do Centro
- Do Mirante São Sebastião se avista o Centro Histórico, a Vila Aparecida e até o campus Morro do Cruzeiro da UFOP
- A Rua do Pilar liga a Basílica do Pilar à Praça Tiradentes, sempre ladeira acima
9. Ir na estação certa faz diferença
Basta buscar por informações relacionadas ao índice pluviométrico de Ouro Preto para entender porque existe uma época adequada para visitá-la. No verão, especialmente entre novembro e janeiro, chove muito. Nada impede você de visitar as atrações fechadas, mas garanto que subir e descer ladeiras não vai ser nada agradável.
Por isso, prefira vir entre abril e outubro, época em que chove pouco e aumentam as chances de dias de céu azul. Como a cidade está a 1.179 metros de altitude, no inverno faz frio de verdade. Delicioso para bater perna de dia e tomar um vinho à noite. Durante o mês de julho acontece o Festival de Inverno de Ouro Preto, cuja programação envolve shows e apresentações culturais.
- Museu de Mineralogia e Praça Tiradentes
- Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia
- Fim de tarde de inverno com vista para a Igreja de São Francisco de Paula
Cabe ainda fazer menção a outras duas datas festivas. O Carnaval, que tem público tanto para os blocos de ruas tradicionais quanto para as festas universitárias, e a Páscoa, marcada pelos tradicionais tapetes de serragem montados em frente às igrejas. Entre o profano e o sagrado, Ouro Preto encontra eco para se destacar em ambos.
- A população local monta os tapetes na noite anterior ao Domingo de Páscoa.
- O comércio fica aberto até tarde para atender a demanda de moradores e turistas.
- Os tapetes coloridos costumam ser sempre de motivos religiosos.
Tem outras dicas sobre Ouro Preto ou viveu algo especial por lá? Divide com a gente nos comentários!