Como é voar na classe executiva da TAP (modelo antigo)
Como é voar na classe executiva da TAP (modelo antigo)
No dia 15 de dezembro de 2018 a TAP Air Portugal se tornou o primeiro operador oficial da nova aeronave da Airbus, o A330neo. Mas para estar presente neste voo, precisávamos chegar à Lisboa, já que o voo partiu de lá. E foi uma ótima maneira de comparar o cabine atual com a nova. Vejam como foi o voo a bordo do modelo anterior do A330:
Resumo do review
TAP Air Portugal Voo TP-88
São Paulo (GRU) – Lisboa (LIS)
Quinta, 13 de dezembro de 2018
Partida: 22:25
Chegada: 11:07
Duração: 9h18
Milhas: 4.916
Aeronave: Airbus A330-200
Assento: 2A (Executiva)
Destaques positivos: refeições
Pontos a melhorar: poltrona, embarque, falta de wi-fi
Antes de falar no voo da TAP é preciso abrir um pequeno parêntesis para contar um pouco do voo que me levou a São Paulo. Como moro em Florianópolis, precisei tomar um voo doméstico antes, que foi comprado separado do voo internacional.
No dia caiu um temporal em São Paulo que acabou fechando o Aeroporto de Guarulhos por algumas horas, o suficiente para atrasar toda a programação de pousos e decolagens, o que teve um efeito cascata sobre toda a malha aérea nacional.
Meu voo esteve entre os afetados e o que era pra ser uma viagem de pouco mais que uma hora acabou levando quatro horas (com direito a “finger” quebrado em Guarulhos). Vi muita gente desesperada pois estava na mesma situação que eu (bilhetes separados) mas com um itinerário mais apertado.
Não há nada de errado em comprar passagens separadas, muitas vezes acaba compensando (e muito!) na questão financeira, principalmente pra quem mora em cidades menores. Mas a dica de ouro nesta situação é: deixe uma margem enorme de segurança no tempo de conexão. Como eu tinha deixado bastante tempo, não perdi meu voo mas vi isso acontecer com várias pessoas e é uma situação bem triste.
Feito o relato e dado o conselho, vamos ao que interessa!
Check-in
Meu voo doméstico chegou no Terminal 2 e a TAP opera no Terminal 3, assim tive que caminhar por cerca de 30 minutos (num passo acelerado). Digo isso para que você se lembre de levar em conta esse trajeto quando for calcular o tempo de conexão.
O check-in foi realizado sem maiores problemas por uma simpática funcionária da TAP que me lembrou que eu teria acesso à Sala VIP da Star Alliance, aliança da qual a TAP faz parte.
Sala VIP
Lá chegando apresentei meu cartão de embarque ao atendente e pedi para entrar na fila para utilizar o chuveiro. A sala conta com poucas cabines de banho e ao entrar na sala (lotada) percebi que não seria daquela vez que eu faria uso do serviço. Apesar de ser o maior lounge do aeroporto, à noite, quando sai a maior parte dos voos, fica bem congestionada. Não ao ponto de ficar desagradável, pois felizmente há bastantes opções para sentar e o bufê é reabastecido constantemente.
Um ponto interessante sobre a sala é que os voos das cias da Star Alliance são chamados pelo auto-falante. Assim você sabe quando tem que se dirigir ao portão de embarque, o que é bem ótimo quando seu voo atrasa (como foi meu caso).
Como ainda queria fazer alguma fotos do avião em solo, fui para o portão de embarque antes mesmo do anúncio do voo e foram uns bons 15 minutos de caminhada – o portão de embarque era um dos últimos do terminal.
Quando o embarque finalmente iniciou, quase duas horas depois do horário previsto, foram respeitadas as prioridades estabelecidas pela Lei 10.048 (pessoas com deficiência, idosos com idade igual ou superior a 60 anos, gestantes, lactantes, pessoas com crianças de colo e os obesos – essa última prioridade eu não conhecia, mas consta da lei) mas o procedimento poderia ter sido melhor organizado.
Houve inclusive um princípio de confusão mal gestionado pelo funcionário da TAP como eu conto a seguir.
Uma vez conferidos os documentos era hora de conhecer o Infante D. Henrique, Airbus A330-200 de prefixo CS-TOF com seus quase 20 anos de atividade.
Cabine
De antemão já sabia que não se tratava de uma aeronave nova. Ela foi entregue à Swissair em 1999 e depois de passar pelas mãos de algumas companhias veio integrar a frota da TAP em 2006. Então o interior antigo, com fileiras na disposição 2-2-2, não foi uma surpresa. Embora datado, é preciso ressaltar que a cabine estava limpa e organizada.
Os assentos lembram os dos ônibus leito de antigamente (já aprendi, graças aos leitores do MD, que hoje existem ônibus com assentos-cama que reclinam 180 graus) e, assim como eles, não deitam completamente. Quando se coloca na posição “horizontal” para dormir é comum que o corpo do passageiro vá escorregando, razão pela qual muitos chamam esse assento de “tobogã”.
O espaço para as pernas é muito bom, mas essa configuração de cabine obriga ao passageiro que está na janela a saltar o passageiro que está na poltrona do corredor, praticando um esporte que eu chamo de salto sem vara em cabine, perigosíssimo! Você pode tropeçar no colega ao lado e cair no corredor, pode cair sobre o colega, pode deixar cair algo em cima dele, enfim, acho que vocês percebem o quanto este esporte é arriscado.
Mas sou destemido e mesmo sabendo das limitações, escolhi o assento 2A. Além de sempre preferir o assento na janela (durmo melhor ali em qualquer cabine), adoro tirar fotos durante o voo, então o jeito foi aperfeiçoar minhas técnicas de salto sem vara em cabine. Posso dizer que sou craque e estou aguardando minha convocação para as Olimpíadas de Tóquio 2020.
Se você não domina o esporte como eu e viaja sozinho, sugiro que escolha um dos assentos do meio, com acesso livre ao corredor. De preferência no lado esquerdo do avião e o mais à frente possível (já, já eu explico o porquê).
Continuando o tour pelo assento, fixei minha atenção na tela de entretenimento, ou na ausência dela. É fácil passar batido com uma tela que tem praticamente o tamanho da minha mão. Mas já, já eu volto à ela.
No assento já estava o fone de ouvido, com aspecto de novo (com sistema de cancelamento de ruídos externos -noise-cancelling), que realmente cumpriu bem com o proposto.
Também no assento estavam o cobertor, travesseiro e o colorido e recheado kit de amenidades da TAP, produzido pela Castebel – firma portuguesa de produtos perfumados para o corpo e casa.
Os assentos contam ainda com tomadas universais que estavam funcionando já em solo, algo que nem todas as cias aéreas permitem – ponto positivo.
Ainda em solo foi oferecido um welcome drink que podia ser água, suco de laranja ou vinho espumante.
Entretenimento
Depois da decolagem, já em velocidade e altitude de cruzeiro, enquanto esperava o jantar resolvi ir até o banheiro lavar as mãos. Ao cruzar a galley (cozinha do avião) reparei que havia um compartimento aberto com diversas telinhas e fui ver o que era. Descobri que se tratava dos filmes disponíveis a bordo, cada um rodando ali em o que pareciam ser video-cassetes (essa só os leitores mais vividos vão lembrar).
Ao retornar ao assento confirmei: você até pode escolher o filme/seriado que deseja assistir, mas vai pegar do ponto onde estiver passado (como na televisão aberta). Isso sem falar na resolução da tela, que lembrou as velhas tevês de tubo – só faltou o bombril ;).
Fora isso o único entretenimento era a revista do Duty Free a bordo, a revista da TAP e a janela do avião. Wi-fi? Nem pensar.
Serviço de Bordo
Enquanto aguardava o início do jantar, aproveitei para dar uma olhada no conteúdo do bonito kit de amenidades da TAP. Ao abrir a necessaire um aroma agradável subiu. Além de itens básicos como tapa olhos, meias (muito estilosas, por sinal!), protetor auricular, pente e cremes, havia uma caneta (algo que é muito útil para preencher formulários de imigração), um marca livro (acho que foi a primeira vez que vi um dentro de um kit) e uma “saqueta” perfumada, razão do bom cheio do kit.
Os kits são colecionáveis e ilustram diversos destinos turísticos portugueses. Esse era da Madeira. Se quiser concorrer a um kit igualzinho ao da foto corre lá no meu Instagram @joaogoldmeier que vou sortear um para vocês:
Uma hora após a decolagem, teve início o serviço de bordo com a distribuição dos menus e toalhas quentes (oshibori), sendo o pedido tirado logo a seguir. Para minha surpresa o menu trazia pratos tipicamente brasileiros como o picadinho de carne, moqueca e frango assado. Eis o menu:
Novo parêntesis aqui para explicar o porquê da indicação para escolha de um assento no lado esquerdo do avião, mais à frente: em todos os quatro voos que fiz com a TAP foi por lá que o serviço teve início e em dois voos o serviço foi feito com apenas um carrinho. Ou seja, primeiro foram atendidos os passageiros daquele lado para só então serem atendidos os passageiros do lado direito. Pra piorar o mesmo carrinho também servia as bebidas, o que deixou o serviço lento.
Quando o lado direito foi atendido eu já estava terminando a refeição e pronto pra dormir, o que é o objetivo de muitas pessoas que viajam na classe executiva: chegar descansado ao destino.
Escolhi o picadinho, que foi servido junto aos acompanhamentos em uma única bandeja. Também foi oferecida sopa (que vem em garrafas térmicas) e pão, que estava quentinho. No geral a comida agradou bastante, principalmente o picadinho que estava bem saboroso. Apenas senti falta de um azeite para temperar a salada (não tinha nem pedindo), algo no mínimo estranho em uma cia portuguesa, país com incontáveis azeites de qualidade. Para acompanhar fui de tinto português: Pinhal da Torre 2 Worlds Premium 2009 (como os portugueses gostam de nomes compridos, não é mesmo?), também muito bom.
Na sequência os comissários passaram oferecendo chá, café ou vinho do porto, que vinham acompanhados de um chocolate artesanal (bem bom!).
Satisfeito, arrumei a poltrona para dormir e aí começou a saga para encontrar uma posição confortável. Além do acolchoamento do assento ser fino (era possível sentir peças de ferro da estrutura do assento), a inclinação faz com que você vá escorregando. Apesar de bastante cansado eu só consegui dormir algumas horas.
Aproveitei o resto do voo para organizar as fotos do celular (a gente nunca tem tempo pra fazer isso em solo, não é mesmo?) e anotar alguns pontos importantes do voo para esta avaliação.
Faltando uma hora e meia para o pouso teve início o segundo serviço, com o café da manhã, novamente iniciando do lado esquerdo em um único carrinho. O desjejum foi servido em uma única bandeja e estava bem sortido. Apesar da ausência de um prato quente, fiquei satisfeito com a refeição e gostei da opção pelo iogurte grego:
Mas vou dar uma dica valiosa pra quem voa na executiva da TAP: eles possuem uma máquina de café expresso a bordo! O café estava delicioso:
Comissários e equipe de solo
Em solo tive duas experiências distintas: no check-in sou só elogios pela presteza e atendimento recebidos, mas durante o embarque vi algumas cenas desnecessárias de funcionários da TAP batendo boca com passageiros. Qualquer que seja o motivo, quem trabalha nessa área tem que ter sangue frio e saber levar as coisas de outra maneira. Ainda que não tenha acontecido comigo diretamente, isso afeta a percepção que se tem da cia como um todo (a discussão era boba, algo relacionado com mudança de aeronave e assentos pagos que não estariam disponíveis no novo avião).
No ar, destaque para o chefe de cabine que foi muito simpático durante todo o voo. Os demais comissários foram apenas corretos, sem nenhum brilho ou falha.
Programa de Fidelidade
A TAP como um todo vem passando por profundas mudanças desde que David Neeleman assumiu o controle da cia aérea em 2015. Neste ano o programa de milhagens da TAP também foi reformulado, passando a se chamar Miles & Go.
Apesar do programa fazer promoções frequentes, ele vem sofrendo alterações profundas sem aviso prévio e cobra taxas de combustível elevadas nas emissões – tenha isso em mente.
Como alternativa você pode creditar as milhas voadas em qualquer outra cia da Star Alliance como Avianca Brasil, United ou Air Canada. Além disso a TAP tem parcerias com o TudoAzul e o Smiles, que também são boas opções.
Conclusão
Com menos de uma hora de atraso (o voo saiu quase duas horas depois do horário previsto) o avião pousou no Aeroporto Internacional Humberto Delgado ou Aeroporto da Portela, como é conhecido. Foi um voo interessante para conhecer o produto que tantos criticam (com razão) para voar dois dias depois no produto que deverá ser o padrão da companhia para os próximos anos.
A cabine deste avião não está à altura do que se considera o padrão mínimo de uma classe executiva nos dias de hoje. Nem tanto pelos itens periféricos como entretenimento “on demand”, internet a bordo, dentre outros, mas principalmente pelo assento.
Quem paga o preço de uma classe executiva espera chegar descansado ao seu destino e isso não acontece com o assento tobogã, pelo menos em minha experiência.
Felizmente em breve isso será passado e as novas cabines são um salto gigantesco de qualidade. Por uma feliz coincidência pude avistar o novo avião logo na chegada à Portugal:
Mas isso você só confere na próxima avaliação. Até lá!
O Melhores Destinos viajou a convite da TAP e da Visit Alentejo.
Nota final.
TAP
São Paulo - LisboaVoo TP-88