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Por que o preço das passagens com pontos aumentou tanto? Dez dicas para se proteger da inflação das milhas!

Leonardo Cassol
12/09/2019 às 4:59

Por que o preço das passagens com pontos aumentou tanto? Dez dicas para se proteger da inflação das milhas!

Quase toda a semana recebemos reclamações de leitores relacionadas ao preço das passagens aéreas em pontos ou milhas. O custo, que já vinha subindo nos últimos anos, disparou em diversas rotas, dando uma sensação de grande desvalorização para quem utiliza os programas de fidelidade em geral. Mas, o que está por trás da inflação das milhas? Esse aumento veio para ficar? Como fazer para se proteger? Confira essas e outras dúvidas nesse post exclusivo!

Já se foi o tempo em que era possível saber quantas milhas são necessárias para viajar para um determinado lugar. Com a precificação dinâmica, o preço de uma passagem aérea em pontos varia tanto quanto a passagem tradicional, vendida em reais. Hoje, infelizmente, é comum encontrar voos nacionais custando até 60.000 pontos, ou trechos internacionais custando mais de 150.000 pontos. Mas o que está acontecendo com os resgates de passagens com milhas?

Por que as passagens aéreas com pontos e milhas estão ficando tão caras?

São diversos fatores. Vamos falar dos principais! O primeiro é uma disputa bilionária que está em curso que envolve, de um lado, os programas de fidelidade das companhias aéreas e, de outro, as principais instituições financeiras nacionais.

1) Bancos x Programas de Fidelidade

De olho nos bilhões de reais gastos pelos bancos todos os anos com a compra de milhas para fidelizar seus clientes, os programas de fidelidade começaram, há alguns anos, a oferecer bônus para incentivar a transferência de pontos dos cartões de crédito. Quase sempre os próprios programas arcam com o custo dessas bonificações. Essas ações acabam obrigando os bancos a comprar mais e mais pontos, e os programas recuperavam parte do investimento na hora de negociar o preço dos pontos com eles. O restante do custo dessas promoções acabava sendo compensado com a venda de milhares de assinaturas de clubes de milhas (a receita por milha é maior do que o valor pago pelos bancos) e outros serviços (venda direta de pontos, transferência de pontos entre contas, renovação de milhas etc.), bem como com o aumento no preço das passagens em pontos.

Essa prática deu tão certo que, depois de tentar cobrar pela transferência de pontos, prática que foi proibida pelo Banco Central, alguns bancos passaram a proibir campanhas de incentivo sem sua autorização prévia, além de aumentarem a quantidade mínima de pontos necessária para transferir para os programas de fidelidade das companhias aéreas. O caso mais comum, mas não o único, é o do Santander, que acaba ficando de fora de várias ofertas de transferência bonificada… Mas volta e meia acontece com clientes do Itaú, Credicard, Banco do Brasil e cartões Bradesco.

Acontece que com o tempo os bancos foram percebendo que a política de não participar das promoções e de impor limites para as transferências não é assim tão eficaz. Enquanto os programas vendiam clubes e propagavam suas ofertas, as instituições financeiras ficavam com o ônus de clientes insatisfeitos.

A mudança de postura começou silenciosa, com a criação da Livelo. O programa foi pioneiro na venda pontos diretamente para os clientes e ao criar seu próprio clube de pontos. Notem que toda a vez que há alguma oferta bonificada envolvendo a Livelo, ela oferece descontos de 40% na compra de pontos, podendo chegar a 50% em alguns casos. Mesmo com o desconto, a venda de pontos gera uma receita média superior ao que ela paga para Multiplus, Smiles e TudoAzul por cada milha. Por isso, os volumes são generosos, e podem passar de 3,5 milhões de pontos por cliente a cada ano.

Considerando que os programas na maioria das vezes arcam com o custo da bonificação, os bancos descobriram um jeito de virar o jogo e fazer dinheiro em cima dos programas de fidelidade das companhias aéreas. Não é à toa que o Itaú também passou a vender pontos Sempre Presente no final de 2018 e começou a oferecer descontos e volumes mais generosos (temporariamente a venda foi suspensa para melhoria da plataforma). Já o Santander contratou no ano passado o principal executivo da Livelo e está fazendo uma reestruturação completa no Esfera, para começar a vender pontos e ter seu próprio Clube, entre outras novidades previstas para outubro.

O fato é que, com os quatro maiores bancos do país vendendo pontos (considerando que a Livelo pertence ao Bradesco e ao Banco do Brasil), esse jogo vai mudar pra valer. Multiplus, Smiles e TudoAzul não terão muitas opções a não ser limitar a bonificação e/ou aumentar os preços dos resgates, duas ações que já vem acontecendo simultaneamente. Afinal, a oferta de voos não está sob controle desses programas e nunca vai crescer no mesmo ritmo da fabricação de pontos, cuja taxa de crescimento, ultimamente, é exponencial.

2) Aumento nos custos do setor aéreo

A disparada do dólar e o preço recorde do querosene de avião são dois fatores que impactaram fortemente o custo de operação das companhias aéreas no mundo todo. Em algum momento esse ônus vai sendo repassado para os programas de fidelidade, chegando ao preço das passagens em pontos ou milhas, no caso dos programas que possuem modelos flexíveis, e/ou por meio de taxas adicionais, no caso dos programas que adotam tabelas fixas.

3) Desequilíbrio entre oferta e demanda 

Desde 2017 as companhias aéreas que atuam no Brasil vem reduzindo a oferta de voos. Com a paralisação das operações da Avianca Brasil, em maio desse ano, a oferta caiu abruptamente, fazendo com que a ocupação geral dos voos de GOL, Latam e Azul batesse recorde histórico. Com aviões lotados as empresas não têm incentivo para liberar tarifas promocionais e o preço das passagens (tanto em dinheiro, como em pontos ou milhas) acaba subindo rapidamente.

Após a saída da Avianca Brasil houve uma mudança de tendência no mercado doméstico, onde gradativamente as companhias aéreas nacionais estão lançando novos voos para recompor, pelo menos em parte, as rotas que eram atendidas pela empresa. Até o início de 2020 a oferta deve seguir crescendo, abrindo oportunidades para preços um pouco menores nas passagens aéreas.

Já no mercado internacional o cenário não é muito otimista. Os problemas do Boeing 737Max (que afetaram diretamente a GOL e a Smiles na oferta de voos para os Estados Unidos), a quebra da Avianca Brasil (que deixou de voar para Miami e Nova York) e do Programa Amigo (membro da Star Alliance, cujos pontos viraram pó), a saída da Aigle Azur (o TudoAzul oferecia resgates dos voos da empresa para Paris), e a redução de frequência de voos para o Brasil de vários parceiros importantes, como a Delta (parceira da Smiles) e a American Airlines (parceira da Multiplus/Latam) reduziram as possibilidades de resgate e ajudaram a desequilibrar a oferta.

Ou seja, quando tivemos uma ampliação significativa na fabricação de pontos e milhas, houve uma redução na oferta de voos. O resultado, não poderia ser diferente. Preços das passagens mais altos!

4) O mercado paralelo de compra e venda de milhas

O mercado de compra e venda de milhas cresceu muito e se profissionalizou, atraindo empresas e pessoas que se especializaram no acúmulo de pontos e na venda de passagens emitidas com milhas. Isso aconteceu com o consentimento das companhias aéreas e dos programas de fidelidade que, apesar do discurso contrário a venda de milhas, foram complacentes com o acúmulo ilimitado de pontos, vendendo, direta ou indiretamente, quantias vultosas para cada cliente. No mínimo, foram incompetentes para desenvolver regras e promoções que não pudessem ser facilmente exploradas por mega acumuladores, sem prejudicar o usuário comum.

Esse mercado cresce não apenas porque há um desinteresse dos programas em regular os acúmulos milionários de pontos, mas porque ainda existe uma grande assimetria entre a precificação das passagens aéreas em reais e das passagens vendidas com pontos. A definição dos preços das passagens em reais, é feita por uma equipe com o auxílio de softwares sofisticados, que permitem a atualização de preços seja feita a cada minuto. Já as passagens com pontos não contam com essa tecnologia, dependendo, em muitos casos, de cadastros manuais.

Quando se aproxima a data da viagem, ou conforme o voo vai sendo ocupado, as empresas aéreas aumentam os preços das passagens em reais, especialmente de olho no passageiro que viaja a negócios. Já as tarifas em milhas tendem a subir em função do número de assentos vendidos com milhas em cada voo, e também da ocupação das aeronaves. Logo, há um descasamento de preços, especialmente em datas próximas ao dia da viagem, em voos cuja ocupação não esteja tão alta. O preço em reais tende a aumentar muito mais comparativamente ao preço em milhas.

Nesse cenário, as duas maiores companhias aéreas do Brasil tentaram renegociar seus contratos com os programas de fidelidade. Mas não tiveram sucesso! Eram acordos de longo prazo e havia um conflito de interesses entre os acionistas da empresa. Em 2018, Latam e GOL decidiram então retomar o controle dos seus respectivos programas. A Latam conseguiu reincorporar a Multiplus, mas a GOL não conseguiu um acordo ($$) com os acionistas da Smiles, cujo valor de mercado superou o da companhia aérea. Já a Azul desistiu de abrir o capital do TudoAzul, para manter o controle total sobre o programa.

Outra ofensiva dos programas e companhias aéreas foi o controle dos resgates, limitando os beneficiários das passagens com milhas a cada ano, sob ameaça do bloqueio ou até o cancelamento das contas.

O fato é que gradativamente a precificação das passagens aéreas com pontos/milhas está sofrendo mudanças, parte delas com o objetivo de combater o comércio paralelo de milhas. Uma pena é que o usuário comum seja prejudicado por um problema que não é dele!

Os preços mais altos vieram para ficar?

Parte deles, sim, infelizmente. Mas há espaço para reduções caso a oferta de assentos em voos tenha uma recuperação e haja uma redução nos custos da aviação, especialmente no combustível e na cotação do dólar, já que o leasing de aeronaves, peças de manutenção e diversos outros custos das companhias aéreas seguem a cotação da moeda norte-americana.

O que fazer para se proteger da inflação das milhas? Dez dicas para te ajudar a aproveitar melhor seus pontos!

Primeiro, é ter a clareza de que seus pontos são uma moeda, cujo poder de compra (o valor de troca por passagens aéreas ou outros produtos) não depende de você, mas sim dos programas de fidelidade e da dinâmica de mercado. Enquanto você acumula os pontos, podem haver mudanças nas regras do programa que restrinjam o uso ou diminuam o valor de suas milhas. Portanto, você só vai ter certeza que conseguiu aproveitar melhor os seus pontos na hora em que usá-los!

A boa e velha estratégia de “earn and burn” (acumular e queimar rapidamente os pontos) continua mais válida do que nunca. Afinal, ficar juntando pontos sem um propósito é um “investimento” arriscado. Por exemplo, milhares de usuários assistiram seus pontos do programa Amigo perderem totalmente o valor. Quem manteve grandes quantias de pontos nos programas nacionais também viu o poder de compra deles diminuir ao longo dos últimos anos.

Mas, se você não tem um objetivo de viagem definido, temos algumas dicas e cuidados que são essenciais para que suas milhas não percam o valor com tanta facilidade:

  1. Mantenha os pontos no cartão de crédito até ter um uso definido para eles. Isso permite que você se proteja de mudanças nas regras dos programas de fidelidade das companhias aéreas e aproveite aquele que oferecer a condição mais vantajosa para o resgate que você deseja, no momento certo.
  2. Fique atento à validade das milhas. O prazo de expiração dos pontos costuma ser de 2 ou 3 anos no cartão de crédito e mais 2 ou 3 anos nos programas. Quando você transfere os pontos do cartão de crédito para os programas de fidelidade das companhias aéreas a validade é renovada e passar a valer as regras do programa de fidelidade. Fique atento para não ter prejuízo! Existem aplicativos que ajudam a controlar a validade.
  3. Planeje sua viagem com antecedência. Deixar para a última hora quase sempre é sinônimo de pagar mais caro para viajar.
  4. Aproveite as promoções. Apesar da mudança de tendência, ainda existem bônus generosos para a transferência de pontos de cartão de crédito, bem como promoções agressivas no resgate de passagens com pontos. Fazendo as contas a diferença pode até compensar qualquer aumento no preço das passagens. Aqui no Melhores Destinos você fica sabendo das ofertas mais relevantes, podendo ser avisado através de nosso app gratuito sempre que uma nova promoção for lançada.
  5. Compare as condições de cada programa. Hoje em dia é difícil falar dos programas. Todos têm problemas (muitos) e virtudes, num ambiente competitivo. A resposta de qual é o melhor programa vai depender quase sempre do seu perfil de viajante, bem como de onde você mora e para onde quer viajar. Também pode entrar na conta oportunidades, como bônus ou ofertas para adquirir as milhas, se for o caso.
  6. Se puder, evite a alta temporada. As férias escolares e períodos de feriados prolongados são os períodos onde os resgates custam mais caro. Um problema comum aos viajantes brasileiros é que a grande maioria quer a mesma coisa: acumular milhas para viajar em dezembro, janeiro, julho ou no Carnaval. Sabendo disso, e por ser um período de altíssima demanda nas passagens em reais também, as companhias aéreas costumam pedir os preços máximos nesses períodos. Viajando em outras datas você tem chances de economizar até 80%.
  7. Abra a mente para novos destinos. Muitas vezes ficamos com uma fixação por um destino A ou B e esquecemos de pesquisar a viagem de uma forma mais ampla. Por exemplo, os resgates para Orlando costumam ser bem mais caros que para Miami. Na Europa, a diferença também pode ser grande de uma cidade para outra. Mudar o destino pode render uma boa economia e uma viagem incrível!
  8. Pesquise saídas de outras origens. Especialmente quem mora fora do eixo São Paulo-Rio, pode ser muito vantajoso resgatar a passagem com milhas saindo de São Paulo e comprar o trecho interno à parte. Tenha em mente o custo com o despacho de bagagens nos voos nacionais (quando é uma única passagem vale a franquia da viagem internacional, mas se forem bilhetes diferentes essa regra não se aplica), além de uma grande margem de segurança caso o voo interno atrase. Ainda assim, a economia pode compensar com folga esse esforço.
  9. Se encontrar um preço bom na passagem aérea em reais, consulte quando fica resgatar direto pelo programa de fidelidade do seu banco. Cada vez mais os bancos estão investindo em plataformas próprias de resgate de passagens, para convencer os clientes de que não é preciso transferir pontos para os programas de fidelidade das companhias aéreas. Nesses casos, os preços em reais são convertido em pontos, o que permite acumular milhas com esses bilhetes. Algumas promoções podem tornar esses resgates ainda mais vantajosos. Mas, compare sempre, considerando o bônus que você poderia ter transferindo para outro programa.
  10. Compare o valor de resgate da passagem com pontos com o valor da tarifa em reais. Tem vezes que compensa usar as milhas em outra oportunidade e aproveitar a promoção de uma passagem tradicional, em reais. O importante é sempre comparar as alternativas e avaliar qual é mais vantajosa.

E você, o que tem achado do preço das passagens aéreas nos últimos meses? Tem alguma outra dica para economizar? Comente e participe!

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