Agora vai? Governo português inicia nova tentativa de vender a TAP


Agora vai? Governo português inicia nova tentativa de vender a TAP
Em mais um capítulo da longa novela envolvendo a privatização da TAP, o novo governo português, eleito em maio, decidiu que venderá apenas 49% da companhia aérea portuguesa, no que chama de “primeira fase”. Isso porque a resistência de partidos de oposição como o Chega e o Partido Socialista tem impedido que avancem propostas de privatização completa.
Na prática, isso significa que o governo ainda seria o acionista majoritário da TAP, pelo menos em um primeiro momento. Além disso, segundo o jornal português Diário de Notícias, a ideia é que o centro de operações da TAP continue sendo em Lisboa e que os voos para o Brasil, de longe o maior mercado internacional da companhia, sejam mantidos.
A nova tentativa de privatização da TAP estava marcada para começar no primeiro trimestre deste ano e ser finalizada até o fim de 2025 ou início de 2026. Em março, porém, o então parlamento foi dissolvido, e novas eleições ocorreram apenas em maio. Agora, a expectativa é que as negociações avancem durante o segundo semestre deste ano.
Há três grupos de companhias aéreas na corrida pela compra da TAP: Air France-KLM (que também é dono da Transavia), IAG (que controla British Airways, Iberia, Vueling, Aer Lingus e Level) e Grupo Lufthansa (que também tem no seu guarda-chuva Swiss, Austrian, Brussels Airlines, Discover Airlines, Eurowings e ITA Airways).
Privatização da TAP: mais de 30 anos de tentativas
A privatização da TAP não é assunto de hoje. As discussões em torno da venda do controle da companhia para o capital privado começaram ainda nos anos 80. Em 1991, Portugal deu o primeiro passo concreto neste sentido, com um decreto que tornava a companhia aérea uma Sociedade Anônima – ou seja, uma empresa com ações, que neste caso estavam totalmente nas mãos do governo. Isso abriu caminho para atrair investimentos privados.
Em 1998, o governo português chegou a aprovar a aquisição de 34% da TAP pela empresa que controlava a companhia aérea Swissair. No entanto, em 2001, em razão de dificuldades financeiras do comprador, o negócio foi cancelado.
Anos 2010: muita especulação e finalmente a privatização
Em 2011, o governo português deu início a uma nova tentativa de privatização. Até mesmo a Gol e a Latam foram mencionadas como potenciais participantes na compra da companhia aérea portuguesa. De forma mais concreta, a lista de interessados incluía Lufthansa, IAG, Qatar e Avianca. Mais uma vez, a tentativa de venda da TAP naufragou.
Pouco anos depois, em 2014, o governo português voltaria a receber propostas de privatização da TAP. As negociações avançaram para valer, e em 2015, a Atlantic Gateway – um consórcio formado pelo empresário português Humberto Costa e por David Neeleman, fundador da Azul – passou a controlar 61% da companhia aérea.
A lua de mel durou pouco. Em um intervalo de três meses, Portugal teve uma mudança de governo, e a chegada dos novos mandatários fez também chegar à mesa de discussões a proposta de o Estado passar a ter 50% da participação na TAP.
Em 2019, um novo acordo foi firmado, concretizando o interesse do governo e derrubando a participação da Atlantic Gateway na TAP a uma fatia de 45%.
Anos 2020: pandemia, estatização e nova tentativa de privatização
A pandemia fez com que a estatização se tornasse inevitável. Como várias outras companhias aéreas, a TAP também buscou empréstimo para sobreviver. O governo acenou com uma cifra bilionário, mas as condições impostas foram recebidas negativamente pelo Conselho de Administração da TAP. Neste cenário, o empresário David Neeleman vendeu sua parte na TAP.
Em 2023, a privatização voltou ao radar. A ideia do então governo era vender 95% da empresa, com os outros 5% sob controle dos trabalhadores da TAP. Desde então, oficialmente os interessados são Air France-KLM, Lufthansa e IAG. A proposta de 2023 foi colocada em compasso de espera por causa da dissolução do parlamento e eleições antecipadas em março de 2024.
A proposta do novo governo, que caiu um ano depois, em março de 2025, já desconsiderava a ideia de venda completa da TAP, justamente para conseguir apoio dos partidos de oposição. Agora, uma proposta semelhante volta à mesa, com os três maiores grupos europeus de companhias aéreas de olho em ampliar sua influência e, de quebra, abocanhar o enorme mercado brasileiro.