Acidente da Air India: existe mesmo um assento mais seguro?


Acidente da Air India: existe mesmo um assento mais seguro?
O acidente aéreo com o Boeing 787-8 da Air India, que caiu logo após a decolagem nesta semana em Ahmedabad, na Índia, acendeu uma discussão nas redes sociais sobre o assento mais seguro de um avião. Isso por conta de Vishwash Kumar Ramesh, o único passageiro sobrevivente, que aparece em vídeos publicados na Internet após a tragédia caminhando por uma rua próxima ao local do acidente.
Encaminhado a um hospital, logo se descobriu que ele saiu por conta própria do avião em meio aos destroços, e estava acomodado no assento 11A no momento da queda. O fato disparou uma onda de posts e discussões a respeito do assento ideal para sobreviver a um acidente.
Neste post, vamos entender um pouco mais sobre alguns aspectos em torno desse assunto.
Afinal de contas, há um assento mais seguro?
A resposta objetiva é não. Isso porque cada acidente tem uma característica única. A forma como o avião cai, os pontos de contato com o solo, o tamanho do impacto e outros aspectos são determinantes. Por isso, tentar escolher um assento pensando no pior não é de muita utilidade. Atualmente, é mais fácil optar por um lugar que vá garantir o melhor conforto e espaço a bordo – e por onde o carrinho de comida vá passar primeiro.
No caso do acidente da Air India, segundo o mapa de assentos do Boeing 787-8 da companhia aérea disponível no SeatGuru, o assento 11A está localizado na janela, e é a primeira fileira da classe econômica, com a galley – espaço onde os comissários de bordo preparam as refeições – separando-a da classe executiva. É um assento de saída de emergência que tem mais espaço para o passageiro.
O assento 11A pode aparecer em muitas outras posições, já que as companhias aéreas adotam inúmeras configurações diferentes entre suas classes de serviço.
Estudos tentam prever lugares com maior probabilidade de sobrevivência
De toda forma, imaginar é sempre válido e é de graça. Toda vez que um acidente é registrado, e principalmente quando há um ou mais sobreviventes, pipocam estudos sobre o assento mais seguro de um avião.
Um levantamento feito pela revista Time, com base em dados da Federal Aviation Administration (órgão de aviação dos Estados Unidos equivalente à nossa Agência Nacional de Aviação Civil), mostrou que assentos do meio na traseira do avião dariam mais chances de sobrevivência em caso de acidente. A taxa de fatalidades nesta seção era de 32%, comparado a 39% na parte central do avião e 38% na parte da frente. No fim das contas, números bastante próximos.
Já um estudo da Universidade de Greenwich publicado em 2008 mostrou que, depois de um acidente, sobreviventes próximos a uma saída têm mais probabilidade de deixar o avião em segurança.
Outro estudo, publicado em 2007 pela Popular Mechanics, trouxe dados a partir de 1971 para apontar que passageiros na parte traseira do avião têm mais chances de sobrevivência – um resultado parecido com o do estudo da revista Time. No entanto, alguns especialistas afirmam que a região das asas pode ser mais segura por supostamente oferecer mais estabilidade.
Segurança da aviação
Mesmo com tanto sensacionalismo e desinformação espalhados quando há um acidente, é importantíssimo deixar claro que o avião é o meio de transporte mais seguro que existe. Em um setor altamente regulado, fabricantes, companhias aéreas e passageiros são obrigados a seguir uma série de normas que existem para garantir a segurança de todos os envolvidos em um voo. Fica a dica: não é à toa que os comissários de bordo perguntam aos passageiros sentados em saídas de emergência se eles se sentem aptos a operá-las.
Ao longo das décadas, os padrões de segurança vêm sendo aprimorados, mas não são perfeitos. Acidentes aéreos infelizmente continuam existindo, e se tornam objeto de estudo de especialistas para entender onde há margem para melhoria. Uma ocorrência dessas sempre é resultado de uma série de falhas, que provavelmente começou antes mesmo da decolagem.
Segundo a Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO, na sigla em inglês), o número de acidentes e incidentes aéreos em voos comerciais vem em ritmo de queda desde 2005. Se há 20 anos o número era de 4,4 ocorrências para cada milhão de decolagens, em 2023 – último dado disponível – era de 1,9 para cada milhão de decolagens.
Cabe ressaltar que a ICAO considera nessa conta não apenas as quedas, mas também casos como simples danos, necessidades de reparos ou desaparecimentos de aviões. De toda forma, os números não mentem: a aviação está cada vez mais segura, e tende a seguir esse caminho.
É evidente que eventos como o desta semana, e outros que ocorreram há pouco tempo, como o da VoePass, aqui no Brasil, e da Jeju Air, na Coreia do Sul, assustam, mas não há motivo para deixar de voar ou acreditar que um avião é mais ou menos seguro do que outro.
Problemas com a Boeing
Não podemos, porém, simplesmente fechar os olhos para alguns problemas recentes, especialmente com a fabricante Boeing. A empresa vem sendo alvo de escrutínio há alguns anos por falhas de segurança. Para piorar, em janeiro do ano passado, ficou famoso o caso da porta de um Boeing 737 MAX da Alaska Airlines que simplesmente se desprendeu da aeronave em pleno voo.
O episódio trouxe à tona uma série de falhas internas no processo de fabricação de suas aeronaves, sobretudo com relação à qualidade dos materiais. Os problemas, porém, já vinham de antes: em 2018, duas aeronaves do mesmo modelo se envolveram em acidentes fatais em um intervalo de poucos dias.
A produção do Boeing 787, cujo primeiro acidente com vítimas fatais foi justamente o da Air India, também está na mira das autoridades de aviação há algum tempo após denúncias de falhas nos processo de fabricação de alguns modelos. Após a tragédia desta semana, a Índia determinou uma inspeção em todos os Boeing 787 que decolarem do país a partir deste domingo (15/06).
Destacamos, porém, que isso não faz dos aviões da Boeing (ou de qualquer outra fabricante) necessariamente inseguros, mas quem sabe seja a oportunidade de a companhia norte-americana aprender com as falhas, especialmente as mais recentes, para aprimorar ainda mais os seus padrões de segurança.