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Roteiro no Canadá: 16 dias na natureza selvagem

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04/08/2017 às 15:43

Roteiro no Canadá: 16 dias na natureza selvagem

Tem viagens que são românticas, outras feitas para relaxar, tem aquelas imersões em culturas completamente diferentes, em cidades históricas, em paraísos tropicais… e tem viagens que são verdadeiras aventuras!

Já pensou passar quase um mês fazendo trilhas e pedalando em meio à natureza no Canadá e no Alasca? Noites de frio dentro da barraca instalada nas florestas, passeios na companhia de ursos, marmotas, carneiros-selvagens, dias e mais dias em surpreendentes paisagens de lagos e montanhas? Foi o que fez, em junho deste ano, o leitor Matheus Sovernigo, 30 anos – um aventureiro daqueles!

Por sorte nossa (do Melhores Destinos e todos os seus leitores), o Matheus compartilhou o roteiro desta viagem tão ousada quanto encantadora. Foram 29 dias de imersão na natureza, do Canadá ao Alasca – agora, retratados em texto e belíssimas fotos! Hoje trazemos a primeira parte, com o roteiro de 16 dias pelo Canadá. Na semana que vem, será a vez do Alasca. Inspire-se!

ROTEIRO DE 16 DIAS PELO CANADÁ

Por Matheus Sovernigo

Me chamo Matheus e, assim como vocês, sou apaixonado por viagens – facilitadas por sites como o Melhores Destinos. Desde o ano passado, quando deixei meu emprego de biólogo na Petrobras, viajo em tempo integral e mantenho o blog Rediscovering the World.

Em março deste ano, uma conjunção de fatores me levou a escolher as Montanhas Rochosas e o litoral sudoeste do Canadá, bem como o estado do Alasca, como meus próximos destinos: em 2017 os parques nacionais canadenses não cobrariam entrada, devido à comemoração dos 150 anos; o visto canadense também não seria mais exigido para quem tivesse o americano, havia passagens disponíveis por milhas a um custo reduzido para ambos destinos e o clima estaria ameno na época desejada.

Logo, minha passagem de ida foi emitida por 37 mil milhas do programa Smiles, de Florianópolis a Calgary, no Canadá. Como eu já tinha visto americano, precisei apenas do eTA, emitido pela internet em menos de 10 minutos usando o tutorial do Melhores Destinos, ao custo de apenas 9 dólares canadenses (cerca de R$ 23). Para o retorno, usei pontos no programa LifeMiles, da Avianca Internacional. De Anchorage (capital do Alasca) até Guarulhos, foram mais 30 mil milhas.

1º dia – A partida

Em 1º de junho de 2017, parti para minha aventura mais radical até então, de imersão na natureza. A primeira conexão, indo pela Gol, foi em Buenos Aires-Ezeiza. Ô aeroporto mais caro esse! – foram uns 20 reais para pedir um salgado. Ainda bem que tinham dado um sanduíche no voo, e eu também tinha levado comida junto. Ao menos a internet é liberada no terminal. Passei a noite no voo da companhia Aeroméxico até a Cidade do México. Só que peguei um avião meio velho e com refeições não muito boas.

2º dia – Do México ao Canadá

Longa escala no terminal 2 da Cidade do México. Até pensei em dar uma volta no centro, mas como eu já tinha estado por lá, achei melhor não arriscar ter minha câmera tomada. Para quem fica, há wi-fi livre no saguão. Passei o dia entre a leitura de um livro de aventura em meu leitor digital Kindle e as refeições de comida típica mexicana nas várias opções da praça de alimentação. Aqui os preços foram um alívio, cerca de 4 dólares num omelete de queijo branco e cogumelos + tortilhas com feijão + suco de tamarindo.

Já no final da tarde, voei na rota da Aeroméxico inaugurada no dia anterior até Calgary, com chegada após as 23 horas.

Na própria área externa do aeroporto paguei 10 dólares canadenses (cerca de R$ 25) numa máquina de cartão e esperei o ônibus nº 300 que vai até o centro da cidade, desembarcando a poucas quadras do HI-Calgary City Centre Hostel, um dos mais em conta. Lá, a hospedagem custou 34 dólares (+5% de taxa sobre todos produtos e serviços no país) com café da manhã. Tomei aquele banho e capotei.

3º dia – Calgary

Tive um café decente no albergue limpo e ajeitado. Em seguida, peguei a linha de bonde que cruza o centro. Se você saltar dentro de uma zona específica, ele é de graça.

Depois embarquei num ônibus com tarifa separada (3 dólares), pois era de outra cidade, até chegar ao shopping outlet CrossIron Mills ( o passe diário válido para os meios de transporte público apenas de Calgary custa 10 dólares). No mesmo modo dos outlets americanos, esse possui uma grande área horizontal, com lojas de marcas conhecidas e produtos com desconto. Mas eu vim aqui apenas para comprar equipamentos de camping na Bass Pro Shops, uma incrível loja com tudo que você pode precisar para atividades ao ar livre. Fiquei horas e gastei uma pequena fortuna. Mesmo que eu já tivesse o equipamento, precisaria ainda comprar o spray de pimenta para urso e o cartucho de combustível gasoso, pois não é permitido carregá-los no avião. O spray, inclusive, não pode nem ser portado por civis no Brasil.

Meu almoço foi no Subway (10 dólares pelo sanduíche de 30 cm), enquanto reparava na diversidade da população, composta por muitos imigrantes de várias partes do mundo. Regressei admirando as Montanhas Rochosas, cobertas de neve no fundo do horizonte, enquanto em Calgary fazia inacreditáveis 26 °C.

Em sequência, saí para caminhar pelas áreas verdes ao redor do centro, no Rio Bow. O principal parque fica na ilhota Prince’s Island e conta com atrações para toda a família. Havia bastante gente lá nesse sábado…

… Ao contrário do centro. É incrível como este é pequeno e silencioso para a 3ª cidade mais populosa do país, que tem cerca de 1,3 milhões de habitantes. Prédios altos e modernos escondem alguns menores e históricos. Entre os pontos de interesse está a Calgary Tower, torre de observação que não é mais o edifício mais alto da cidade.

Outro é a rua dos bares, a Stephen Avenue, que estava movimentada no final de tarde.

 

Depois de muito rodar, achei um lugar mais em conta para jantar, no fast food Tim Hortons. Vi o pôr do sol no parque do Fort Calgary. Seria interessante se não houvesse um bando de drogados consumindo suas desgraças por ali. E não foi o único parque em que vi essa cena lamentável.

4º dia – Banff

A fim de pegar o ônibus da Greyhound até Banff (18 dólares), acordei cedo. Foi uma hora e meia num ônibus decente, passando por paisagens cênicas.

Ao chegar pela rodoferroviária, fui direto ao centro de visitantes do Parque Nacional Banff, pois precisava fazer a reserva nos acampamentos dos dias seguintes. Para minha decepção, a trilha de 4 dias que tinha planejado (Sawback Trail) estava fechada devido a avalanches. Com isso, tive que improvisar, de acordo com as sugestões das atendentes. Deixei a mochila no Samesun Banff Hostel, minha hospedagem de 45 dólares, e fui conhecer a cidade. Para qualquer lado que se olhe, as vistas das montanhas nevadas e florestas de coníferas são incríveis. A isso, soma-se um pequeno centro charmoso, organizado e limpo.

Estava tendo dificuldade com as refeições, pois era tudo caro. Com sorte, esbarrei num Subway que estava com uma oferta de um sanduíche de 30 cm por apenas 6 dólares. Só para comparar, na hamburgueria ao lado, o sanduba mais barato custava 15!

Satisfeito, entrei no Banff Park Museum, que fica próximo. A entrada é gratuita em 2017, devido à comemoração dos 150 anos do Canadá. É basicamente uma porção de animais empalhados, representativos da fauna do parque.

Dali, caminhei até o distrito de Cave and Basin, do outro lado do Rio Bow (o mesmo que passa por Calgary, nomeado por ser de onde era tirada madeira pra construção de arcos pelos indígenas). Indo em direção à trilha Marsh Loop, consegui fotografar um coiote à distância, enquanto um cara que passou por mim viu um urso por ali!

A trilha em si, bastante frequentada por passeios em cavalo, é um banhado de águas razoavelmente quentes, devido às fontes termais surgentes na montanha logo acima. A descoberta dessas fontes no fim do século 19 por trabalhadores da ferrovia teve tamanha importância que ali foi fundado o primeiro parque nacional canadense, expandindo-se para o que é Banff hoje em dia.

Do ponto de vista biológico, esse local apresenta fauna e flora endêmicas, tanto pelo excesso de enxofre quanto pela temperatura boa até no inverno. A única cobra do parque vive ali. Já um pequeno caramujo é o xodó das fontes, por não existir em nenhum outro lugar do mundo. Você pode observá-lo na bacia ou na caverna do Cave and Basin National Historic Site, onde ficavam as antigas piscinas por onde brota a água termal sulfurosa.

Na volta, passei na Indian Trading Post, loja de souvenires que vende artigos produzidos no Canadá e até mesmo elaborado pelos índios nativos, chamados aqui de First Nations. Há variedade e os preços são um pouco melhores do que das outras diversas lojas desse tipo na avenida principal.

Nessa hora a chuva iminente desabou e não parou mais. Como estava perto do McDonald’s, jantei ali mesmo, gastando tão pouco quanto no Subway. Voltei ao albergue para resolver minhas coisas.

5º dia – Banff

Tomei um café razoável e parti no ônibus gratuito até o Lago Minnewanka, cheio de turistas. O dia estava ensolarado, mas só foi o tempo de eu chegar ao lago para tirar uma foto que uma chuva forte desabou. Foi a hora de testar meu traje à prova d’água da North Face comprado no Vietnã, que felizmente funcionou. Com isso, caminhei até a ponte do cânion Stewart. Não pude ir além porque a área foi fechada pela presença de ursos.

Caminhei mais um pouco pela rodovia até o começo da trilha Cascade. São 5 km e meio de cascalho, às vezes inundado, até o acampamento. Um pouco de subida no começo, que não facilitou nada pra quem tava carregando pelo menos 18 kg no lombo, já que havia comprado mantimentos pra trilha de 4 dias. Enquanto o tempo mudava constantemente, a paisagem de pinheiros, riachos, lagos e montanhas nem tanto. Passei por uns ciclistas no caminho. De animais silvestres, só um esquilo e alguns pássaros.

Ao cruzar a ponte do Rio Cascade, cheguei ao acampamento. Gravei um vídeo mostrando como funciona e que equipamentos levar para sobreviver por lá.
Entre os preparativos, como armar a barraca, tem-se o curioso içamento da comida por um cabo até uma altura que um urso não alcance.

Comi uns frutos e grãos desidratados e dei uma volta pra tentar achar algo pra fotografar. Nenhum bicho maior do que mosquito, infelizmente. De jantar, preparei um macarrão com queijo liofilizado em meu fogareiro compacto, junto com um cartucho de gás e a panela de titânio. Quando vi a cara da comida no pacote não botei fé, mas estava delicioso. Comi toda a porção dupla.

O camping possui apenas 5 pontos para colocar barracas. Tive outros 3 vizinhos, sendo uma dupla de caras, duas canadenses e um pai e uma filha americanos, com os quais fiquei batendo um papo ao redor da fogueira enquanto esperava a noite surgir. Pelas 23h, quando fui dormir, o céu ainda não estava preto, apenas no crepúsculo.

Total caminhado no dia: cerca de 11,5 km.

6º dia – Banff

Acordei algumas vezes passando frio e tendo que colocar mais camadas de roupa, pois fez em torno de -1 ºC nessa madrugada. A escuridão não chegou em momento algum, nem mesmo quando a lua quase cheia se foi. Ao contrário da janta, meu café estava bem ruim, quase não consegui tomar o leite com granola e morango liofilizado, que em teoria deveria ser bom.

Desfiz acampamento e regressei, sem nada de novo a ver na trilha… até chegar ao fim/início dela. Nada menos que um uapiti (Cervus canadensis), espécie de cervídeo de grande porte, surgiu em minha frente e ficou ali pastando por um bom tempo. Logo que comecei a fotografar, muitos curiosos apareceram, já que estava bem próximo da estrada.

Vi ainda uma engraçadinha marmotazinha ao redor de sua toca subterrânea, antes de voltar pra cidade no ônibus gratuito. E de dentro do ônibus, vi um carneiro-selvagem, aquele que tem os chifres curvados. Parei no Subway pra matar a fome e usar o wi-fi. Em seguida, caminhei em direção à entrada da trilha do Rio Spray, passando pelas quedas Bow Falls no caminho.

Essa trilha começa no campo de golfe do luxuoso hotel Fairmonts. No caminho você vê o teleférico que leva das fontes Upper Springs até o topo da Sulphur Mountain. A passagem é mais bonita do que a da trilha da manhã. Assim como aquela, é frequentada por ciclistas. Vi praticamente a mesma fauna e flora de lá, até chegar ao camping, já com o sol sumido atrás da montanha.

Os únicos que estavam lá na beira do rio com a barraca armada eram os dois americanos que acamparam no mesmo lugar que eu na noite anterior.
Ao checar a área de preparação de comida e estocagem, adivinha quem estava por lá procurando alimento? Sim, finalmente consegui ver um urso! Mais precisamente dois, dos negros. Um deles ficou me encarando à distância, mas como estava meio escuro e ele escondido, tentei chegar mais perto pra foto – uma mão na câmera e outra no spray de pimenta. Só quando fui em direção a ele, o mesmo se mandou morro acima.

Outro avistamento que tive foi enquanto preparava minha janta de galinha à la mesquite (seja lá o que for isso) com feijão e arroz. Do nada apareceu outro uapiti, que nem demonstrou medo enquanto comia grama perto de mim.

Contente com o dia proveitoso, fui pra cama após os americanos fazerem o mesmo. Dessa vez me preparei melhor pra outra noite abaixo de zero graus. Usei 2 camadas de roupa na cabeça, 2 nas mãos, 2 nos pés, 3 nas pernas e 4 (!) no tronco. Meu vizinho ainda me emprestou uma lona para enrolar ao redor do meu saco de dormir, mas isso só fez com que ele ficasse úmido, já que a transpiração de meu corpo não conseguiu passar pelo alumínio da lona.

Total caminhado no dia: 13,5 km.

7º dia – Canmore

Dei adeus à dupla e conheci outra, de adolescentes cicloturistas canadenses. Assim que eles deixaram o acampamento, vi dois veados passeando pela outra margem do rio. E quando eu estava a partir, passei pela cozinha do acampamento, e o mesmo uapiti do final do dia anterior estava lá (eu sei que é o mesmo porque havia marcação nele).

Em seguida, parti colina acima, cruzando a ponte para seguir pela Goat Creek Trail até a cidadezinha de Canmore. A trilha é longa, meio monótona e bastante inclinada. O mais recomendado é fazer no sentido contrário ao que fiz – e de bicicleta.

Parei para almoçar num trecho do rio que acompanha a trilha. Enquanto eu espantava as mutucas, ou seus equivalentes canadenses, fui preparar a quarta refeição com o pequeno cartucho de gás de 100g. Somente​ ao abrir o pacote de macarrão que fui perceber que ele já estava vencido há alguns meses… Azar, no máximo eu mandaria os restos dele embora mais cedo que o previsto (o que não ocorreu).

Ao sair do parque, algumas horas depois, as coisas ficaram mais interessantes. Nesse ponto vi uma lebre, e o cenário a seguir, na mais alta elevação da trilha a 1.650 metros, era deslumbrante. Montanhas cobertas de neve, paredões de rocha, florestas, lagos, cachoeiras e a vista da cidade no vale abaixo.

No desfiladeiro ao lado do Whitemans Pond, um bando de carneiros-selvagens estava à toa, escalando e comendo o mato.

 

A trilha para descer até Canmore é uma de verdade, com pouca abertura e desníveis e obstáculos constantes, e não aquela estrada de chão da Goat Creek Trail. Quase torci meu pé e deslizei na descida, mas ainda assim prefiro desse jeito. O nome dessa rota é Grassi Lakes Trail, em homenagem ao homem que a criou nos anos 20. Vários escaladores estavam praticando naquele momento sobre os lagos turquesas da rota.

Continuei até o centro da cidade, com o corpo quase todo dolorido e com feridas nos dedos do pé, mas satisfeito.

Dormi no Banff International Hostel, já que não havia mais vagas no que fiquei anteriormente. Estava bem salgado o preço, 55 dólares!

Total caminhado no dia: 23 km!

8º dia – Banff

Ao menos o café da manhã foi ótimo. Pão com geleias de vários sabores, suco, algumas frutas, brownie, bolo e cereais.

Enquanto fazia a digestão, peguei o translado gratuito que sai a cada 20 minutos do Elk + Avenue Hotel em direção ao teleférico Banff Gondola. Para quem não quiser subir a pé, o ingresso ida e volta custa 62 dólares. Chegando lá, comecei a caminhada íngreme ao topo da Sulphur Mountain. A trilha possui cerca uns 5,5 km de extensão e mais de 650 m de desnível. Apesar do tempo indicado para vencê-la ser de 3 a 4 horas, levei uma hora e meia, incluindo paradas.

O sendeiro é um ziguezague sem fim sob o teleférico e entre pinheiros. Em uma parte há vista para uma cascata de degelo. Fora isso, só vi uns carneiros-selvagens e esquilos terrestres.

O melhor fica no topo. O centro de visitantes, além dos já esperados restaurantes, mirantes, banheiros e lojas, inclui ainda um centro de interpretação bem interessante.

Do lado de fora fica ainda um tablado que leva ao pico Sanson (2280 m), onde jaz a cabine da antiga estação meteorológica. O local já abrigou também um importante receptor de raios cósmicos.

Nessa parte exterior a vista 360º é totalmente demais. Várias montanhas, lagos e a cidade de Banff estão na mira. Além disso, tive a sorte de ver e fotografar uma gorducha marmota branca (Marmota caligata).

Porém, quando eu olhei pro relógio, tomei um susto. Já era 16h, sendo que o último ônibus grátis para a vila de Lake Louise sairia em uma hora! Sem pensar muito, levei meia hora pra descer correndo o mais rápido que pude a montanha. Ainda contei com a sorte do ônibus pro centro da cidade estar saindo no momento em que cheguei. Corri de novo até a hospedagem a fim de pegar minha mochila e de lá pra estação rodoferroviária, chegando no exato instante em que ele estava para partir! Que sufoco!

Entrei no ônibus mais ensopado do que se tivesse tomado um banho e tentei relaxar pelos 64 km seguintes. A rodovia é cheia de corredores de fauna, que são passagens com vegetação como se fossem pontes verdes sobre ou sob as vias, para que os animais possam cruzar livremente sem ser atropelados ou atrapalhar o trânsito.

Fiquei novamente hospedado em um albergue da rede HI, dessa vez o Lake Louise Alpine Centre, de 45 dólares. O lugar é simpático, mas fica ao lado da ferrovia, e os trens de carga não deixam o ambiente muito silencioso.

Assim que botei os pés no albergue, caiu um temporal e a luz junto. Consegui ainda tomar um banho quente, mas nada da eletricidade voltar. Aproveitei pra lavar a roupa. No meio tempo, chegaram 2 brasileiros no meu quarto (Larissa e Rafael). Passamos o resto da noite conversando e comendo o que nos sobrou.

Total caminhado (e corrido!) no dia: 15 km.

9º dia – Banff

Ainda sem eletricidade, não consegui achar um lugar sequer no vilarejo pra comprar comida, terminando com a minha estocada. A cada 15 minutos sai um ônibus gratuito do vilarejo pro lago, que fica a alguns quilômetros subindo
morro. Embarquei num desses. Fazia um frio maior do que eu esperava, lá em cima. O vento mesmo, era estraçalhante. Subi quase correndo a trilha do mirante pro hotel Fairmont, o único que fica em frente ao grande Lago Louise. Nesse trecho já havia várias faixas de neve e gelo.

Mas a vista para o lago em si não é das melhores, já que os pinheiros cobrem a visão.

Na beira do lago há um caminho bem acessível que circunda boa parte dele, onde fica lotado de turistas. Dali a visão do lago glacial cercado de montanhas íngremes semi-vegetadas e com a geleira Victoria ao fundo, é muito bonita.

Entrei um pouco no hotel para me esquentar. Lá há uma lanchonete de comida saudável, que foi onde almocei. Uma tigela de açaí por 12 dólares – caro, mas o restaurante seria ainda mais. Fui até o final da via pedestre do lago. Podia ter pegado uma trilha bem inclinada até o belo Lago Agnes, mas o tempo cronológico e o estado do meu corpo não permitiram.

Com isso, fui até metade do sendeiro que inicia no fim do lago, o Six Plains Glacier Trail. Passei deslizando por cima de pequenas avalanches e parei ao longo do rio formado pelo degelo dessa baita geleira, onde ocorre a zona de mistura das cores da água.

Tive que voltar a passos rápidos para novamente pegar o último ônibus, das 18h. Como a luz tinha voltado, dei uma volta no centro comercial da vila. Ali ficam restaurantes, lojas de equipamentos esportivos, de souvenires e um mercado. Esse, até que tem boa variedade e preços. Arranjei meu jantar.

Fiquei enrolando no albergue até o suposto ônibus que me levaria pela noite toda até Vancouver. Mas… lembram da tempestade que acabou com a eletricidade? Pois bem, ela também interditou um pedaço essencial da rodovia. Com isso, o trajeto foi cancelado. O pior de tudo foi que a irresponsável empresa Greyhound nem chegou a enviar um email avisando! O resultado foi que tive que passar a noite no sofá do albergue pra não ter que pagar uma tarifa de hospedagem absurda de última hora.

Total caminhado no dia: 12 km.

10º dia – Vancouver

Expliquei a situação ao motorista, que me deixou tomar o primeiro ônibus a Calgary, onde meio que resolvi a situação: passar o dia na cidade, embarcar à noite para Edmonton, e em seguida a Vancouver, indo por uma rota bem mais distante. Se fosse no Brasil, toda essa confusão daria causa ganha num processo…

Deixei a mochila no guarda-volumes e, com o dia chuvoso e frio, peguei o bonde e passei a tarde no shopping Chinook Centre. É como um outro qualquer, com lojas de marca e praça de alimentação. No fim da tarde, parti pra Edmonton. O trajeto é todo rural, por um rodovia remendada. Aproveitei para ler o trecho final do “AWOL on the Appalachian Trail”, o relato de uma trilha longa de verdade.

Chegando lá, esperei um pouco e embarquei até Vancouver. Os ônibus da Greyhound, assim como os da Megabus, não são os mais confortáveis para passar a noite. Nesse quesito os brasileiros ganham. Ao menos há tomada e wi-fi.

11º dia – Vancouver

Até que dormi bem, apesar das paradas constantes. Apenas às 16h30 o veículo chegou a Vancouver. Como ainda tinha um tempo até o ônibus seguinte, saí para caminhar. Passei pela Carrall Street, que atravessa a Chinatown e a Gastown, bairros históricos com mais de um século de existência e artefatos, como o primeiro relógio a vapor.

Infelizmente, havia uma alta concentração de sem-tetos, como não lembro de ter visto antes em lugar algum. Lixo também abundava pelas ruas. Desapontado com a primeira vista de Vancouver, apenas tomei um milkshake de bordo (a árvore que está na bandeira do Canadá) na sorveteria orgânica Soft Peaks, passei na feirinha da Chinatown pra comprar um carregador (havia perdido o meu alguns dias antes) e voltei pra rodoviária.

Às 20h peguei a última condução da Greyhound com destino a Whistler, a duas horas de Vancouver. Saltei em Creekside Village, a área menos movimentada da cidade. Tanto que estava tudo fechado e quase sem luz na rua nessa hora. Tive que caminhar um pouco e subindo morro até chegar ao Whistler Lodge Hostel, que fica no bairro Nordic Estates, longe do agito.

O albergue é bem limpo, organizado, equipado e confortável, além de ser auto-gerenciado pelos hóspedes à noite, já que o staff não fica por lá depois das 21h30. O valor? 39 dólares por noite, sem café.

Cheguei já sendo bem recebido por um hóspede que estava indo embora e me deu sua cerveja. Como também estava com fome e não tinha o que comer, fiz bom uso da caixa de comida grátis.

12º dia – Whistler

Pela manhã, peguei o ônibus nº 1 (2,5 dólares – troco exato apenas) até o Whistler Village, a parte mais central e importante em termos turísticos da cidade. Lá, retirei meu ingresso do Whistler Blackcomb, a empresa responsável pelos teleféricos, trilhas na montanha, pistas de esqui, etc. Na internet paguei 84 dólares pelo passe válido para a temporada.

O complexo todo tem uma área enorme, maior que outros resorts de neve, mas pelo menos enquanto eu estive lá, estava subaproveitado, já que metade dos teleféricos e quase todas trilhas estavam desativados. Subi primeiro no bondinho fechado que leva à parte alta da montanha Whistler, onde ficam algumas das instalações. No caminho, reparei na quantidade de gente descendo as trilhas de downhill em bicicletas, nesse que descobri ser um dos principais parques para a prática desse esporte. Pena que o aluguel das bikes é absurdamente caro.

Lá em cima, depois de admirar a vista, brinquei um pouco na área reservada para escorregar na neve com uma bóia, como uma criança que não teve neve na infância.

Em seguida, subi a trilha Pika’s Traverse, uma estrada que passa entre paredes de neve até 3 vezes o seu tamanho! Da parte alta e final da trilha, a vista é ainda melhor. Lá fica um inukshuk, marco de pedra dos povos do Ártico.

De volta ao meio da elevação, embarquei no teleférico Peak 2 Peak, que vai até a montanha Blackcomb. Esse transporte é o recordista mundial em altura (436 m) e distância​ sem sustentação (3 dos 4,4 km)! Ainda assim, não deu medo algum.

Na tal montanha, era abundante a quantidade de marmotas, parentes grandes e gorduchos dos esquilos e que dão nome à cidade, devido a seus assobios de alerta. Esses estão domesticados a ponto de não terem mais medo dos humanos.

Desci em mais 2 teleféricos, com o diferencial de serem abertos por todos os lados. Assim ficou fácil admirar o terreno abaixo. Esses deram um friozinho na barriga, principalmente quando pararam subitamente comigo no ar, levando quase 10 minutos pra voltar a operar.

Quando saí já era quase 5 da tarde, hora em que os teleféricos param de operar. Então, decidi percorrer algumas das muitas trilhas do Lost Lake Park. Caminhei horas, mas só vi esquilos, além do tal lago e algumas plantas interessantes.

Ao retornar à vila, encontrei o supermercado IGA, que fica no setor chamado de Marketplace. Esse foi o mercado mais completo que vi em minha breve visita ao oeste do Canadá. Comprei todas as minhas refeições seguintes ali. Fica difícil ser saudável com tantas guloseimas norte- americanas, como cookies, brownies, muffins e cupcakes.

Total caminhado no dia: 15 km.

13º dia – Whistler

Voltei à estância Whistler Blackcomb. Visto da base da montanha, dessa vez havia uma​ névoa bem densa. No caminho dos teleféricos inferiores não se via quase nada. Mas como havia um outro aberto a mais que no dia anterior, fui lá pra cima assim mesmo.

O 7th Heaven te leva a mais de 2200 m na montanha Blackcomb, quase seu topo. Em seu caminho, muita neve e cada vez menos pinheiros, até chegar a haver apenas rochas e metros de camada de neve, já bem acima da névoa. Fazia um frio tremendo lá em cima e pra variar eu não tava preparado.

Tirei umas fotos e caminhei afundando, desci e vi mais umas marmotas. Descobri que num cantinho do prédio do meio da Blackcomb há uma sala da Nintendo com videogames (3DS e Wii U) e jogos. Joguei um pouco, atravessei a gôndola de uma montanha a outra, vi alguns passarinhos, mas nada de urso, apesar de não ser incomum vê-los de cima por ali.

Saí do complexo para caminhar ao redor do lago Alta, nas trilhas que o cercam. É bonito até, mas não tem nada de especial para turistas, ainda que seja ótimo para moradores praticarem um pouco de exercício.

Regressei ao albergue mais cedo, onde rolava uma zoeira.

Total caminhado no dia: 13 km.

14º dia – Vancouver

Com a empresa Epic Rides, voltei a Vancouver pela manhã (35 dólares ida e volta). Há vários food trucks pelo centro; acabei ficando com o cachorro-quente indiano (6 dólares).

Caminhei um bocado passando pelos pontos mais interessantes. Contornei a orla do centro de convenções, onde várias placas contam a história da cidade, até o grande parque Stanley, que conta com diversas atrações, como os totens das First Nations (indígenas).

Ao retornar fui pela gay-friendly Davie Street, uma rua comercial com pontos e lixeiras rosas e placas e faixas de pedestre com arco-íris.

No fim da rua, entrei na estação de metrô Yale-Roundhouse, onde peguei a condução até Bridgeport, de onde saem os ônibus para a terminal de balsas de Tsawwassen. O metrô custou 4 dólares e o ônibus 2,75 (troco exato ou cartão de transporte Compass). Já para a balsa até Swartz Bay, é uma hora e meia de tempo da sua vida e quase 17 dólares. O barcão, que supre todas as necessidades básicas como wi-fi, passa por algumas ilhas, até chegar a Vancouver Island.

Ao sair do terminal um garoto me deu um passe diário de transporte, então não precisei pagar os 2,5 dólares do ônibus nº 72, que me levou ao centro de Victoria, a capital do estado da Colúmbia Britânica. De cara já deu pra ver que aqui também há um problema sério com moradores de rua e drogados, quase todos caucasianos.

Tirei umas fotos na prefeitura, comi um Whopper no Burger King, já que estava em promoção naquele dia (3 dólares) e dei entrada no albergue Ocean Island Inn, onde coincidentemente fiquei no quarto com outros 2 brasileiros, que ali estavam para um congresso de química.

Total caminhado no dia: 13 km.

15º dia – Victoria

Só no café da manhã notei o quanto esse albergue era grande, pois brotava gente pra tudo quanto é lado em meio aos waffles de mirtilo com Nutella. O quarto também não era dos mais limpos, mas pela tarifa de 30 dólares, que incluía até jantar, não tive o que reclamar.

Como estava previsto chover o dia todo, comecei conhecendo a cidade por lugares fechados. Primeiro o Maritime Museum. Pequeno, mas conta histórias bem interessantes de explorações pelo Canadá e apresenta artefatos históricos. Entrada de 10 dólares.

O próximo foi um tipo de zoológico que nunca tinha visto em lugar algum. Este abrigava apenas invertebrados! Em terrários transparentes, insetos, aracnídeos, miriápodes e crustáceos de várias partes do mundo ficavam à vista de curiosos. Além de cartazes básicos, o staff explica muito bem e ainda deixa você pegar em alguns. Custou 15 dólares.

Continuando, o Royal B.C. Museum, de maior porte e preço (22 dólares). Um dos andares foca na história natural, demonstrando os ambientes, fauna e flora do estado da Columbia Britânica, além de climatologia e outras ciências. Representações dignas de um grande museu fazem parte das amostras, assim como dioramas completos de cada ecossistema.

O outro andar ensina sobre a história humana, sempre baseada no estado canadense. Uma boa parte é relativa às First Nations, as nações indígenas que, assim como as demais no mundo, sofreram muito com a chegada dos colonizadores britânicos. Suas culturas estão bem representadas, através de seus artefatos e as complicadas linguagens. Para a parte branca da história canadense, há até mesmo um vilarejo de época montado.

Faminto, achei pelo GPS um supermercado de comida natural. O excelente Thrifty Foods continha tudo que eu esperava e muito mais. Saí de lá com almoço, sobremesa e lanche do dia seguinte. O passo seguinte foi o Beacon Hill Park, um parque artificial erguido numa colina onde fica um sinalizador marítimo. O lugar é histórico, mas não achei tão interessante. Segui caminhando pela orla sul, sob leve chuva, protegido pelos meus trajes de Gore-tex comprados no Vietnã.

O último lugar que conheci foi o Fisherman’s Wharf, um ancoradouro localizado em Victoria Inner Harbour. Abarca, além de uma marina, restaurantes de frutos-do- mar e passeios aquáticos, uma vila com 33 belas casas flutuantes habitadas. Se der sorte, pode ainda ver alguma foca perambulando ao redor dos deques de madeira.

Voltei correndo pro albergue, chegando a tempo da janta de curry.

16º dia – De Victoria para o Alasca

Num dia ensolarado, caminhei até o Craigdarroch Castle. Essa mansão foi construída em 1890 para um magnata do carvão e ferrovia, mas ele nem pôde aproveitar pois morreu antes. Depois que a família se desfez da propriedade, a construção virou hospital para veteranos de guerra, universidade e escola de música, até virar o museu atual há algumas décadas.

Dentro da construção há diversos cômodos bastante mobiliados em 4 andares, além de uma torre voltada para o interior da ilha (seria mais interessante se tivesse virada para o mar). Há placas explicativas em todos os quartos, e para ver essa opulência toda você tem que desembolsar 14 dólares.

Depois da visita, caminhei pelos jardins da casa do governador do reinado (Lieutenant’s Governor Park), aberto ao público. Além de flores plantadas, resguarda uma área do ecossistema original da ilha, de carvalho Garry. Vi até mesmo um veado por lá.

Voltei ao centro para pegar minha mochila e partir para o aeroporto de Victoria, embarcando no ônibus nº 70 até Mctavish Exchange para tanto. Como a condução seguinte demoraria muito, resolvi ir caminhando os 2 km e meio finais. O aeroporto é relativamente pequeno e bem tranquilo. Ponto positivo pro wi-fi gratuito. No meio da tarde voei com a Delta para Fairbanks no Alasca, com conexão em Seattle.

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Paramos por aqui com a aventura, mas na semana que vem acompanharemos  a parte final desse super roteiro do leitor Matheus Sovernigo, agora pelo Alasca! Está imperdível! Quer mandar o roteiro de sua viagem para o MD? Entre em contato com a gente pelo e mail convidado@melhoresdestinos.com.br. Vamos ficar felizes por publicar!

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