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Roteiro no Alasca: 14 dias de bike de Fairbanks a Anchorage

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15/08/2017 às 17:34

Roteiro no Alasca: 14 dias de bike de Fairbanks a Anchorage

Na semana passada publicamos a primeira parte da viagem que o leitor Matheus Sovernigo fez pelo Canadá e Alasca – e foi o maior sucesso! E não teria como ser diferente, né? Um roteiro de 16 dias na “natureza selvagem” do Canadá, com direito a acampamentos em meio à floresta e passeios na companhia de ursos e outros animais, é na certa inspiração para muitos aventureiros de plantão!

Pois bem, na segunda parte do roteiro, Matheus fez um longo percurso de bicicleta pelas belas paisagens do Alasca! Foram aproximadamente 800 quilômetros! Teve trechos de travessia a pé em rios, noites mal dormidas devido ao risco de ataque de ursos e mais um monte de histórias que tornam este relato imperdível! Confira!

14 dias de bike pelo Alasca

Por Matheus Sovernigo

Me chamo Matheus e, assim como vocês, sou apaixonado por viagens – facilitadas por sites como o Melhores Destinos. Desde o ano passado, quando deixei meu emprego de biólogo na Petrobras, viajo em tempo integral e mantenho o blog Rediscovering the World.

Em março deste ano, uma conjunção de fatores me levou a escolher as Montanhas Rochosas e o litoral sudoeste do Canadá, bem como o estado do Alasca, como meus próximos destinos: em 2017 os parques nacionais canadenses não cobrariam entrada, devido à comemoração dos 150 anos; o visto canadense também não seria mais exigido para quem tivesse o americano, havia passagens disponíveis por milhas a um custo reduzido para ambos destinos e o clima estaria ameno na época desejada.

Logo, minha passagem de ida foi emitida por 37 mil milhas do programa Smiles, de Florianópolis a Calgary, no Canadá. Como eu já tinha visto americano, precisei apenas do eTA, emitido pela internet em menos de 10 minutos usando o tutorial do Melhores Destinos, ao custo de apenas 9 dólares canadenses (cerca de R$ 23). Para o retorno, usei pontos no programa LifeMiles, da Avianca Internacional. De Anchorage (capital do Alasca) até Guarulhos, foram mais 30 mil milhas.

1º dia – Do Canadá para o Alasca

Continuação (para ler a parte um clique aqui)
(…) Enquanto lia no voo a Fairbanks, observei um fenômeno estranho pela janela do avião. No início do voo o sol já estava se pondo, com aquele tom do céu magenta, mas conforme o avião seguia rumo ao pólo, o céu foi ficando amarelado e mais claro, e o sol subindo, como se estivéssemos voltando no tempo!

Pousamos na 2ª maior cidade do Alasca quase à meia-noite, mas nada da escuridão surgir, apenas o crepúsculo. Peguei um caro táxi de 22 dólares (daqui pra, dólares frente americanos), já que o ônibus urbano não operava aquela hora e minha hospedagem era distante para caminhar. Fiz o check in no muitíssimo bagunçado e meio sujo Aurora Lake Chalet Homestay (20 dólares a noite, com pagamento em papel), tomei um banho e dormi. Pelo preço não dava pra reclamar muito. Além disso, só havia eu no quarto, e a moça deixou usar a máquina de lavar roupas com sabão, algo muito útil naquele momento.

2º dia – Fairbanks

Cedo, um americano me trouxe a bicicleta usada que eu havia negociado no Craigslist, uma espécie de OLX dos EUA. Paguei 80 “trumps” naquela que seria minha companheira nas próximas duas semanas. Meia-boca, mas serviu.

Esperei a chuva dar uma aliviada para conhecer a cidade e comprar mantimentos. À primeira vista, é notável a quantidade de carros à venda e lojas de segunda mão. O centro de Fairbanks é bem ajeitado. Entrei no museu do gelo (Fairbanks Ice Museum). São 15 dólares por uma apresentação de vídeo que conta a tradição em esculturas de gelo da cidade, que possui até um campeonato
mundialmente famoso. Depois do vídeo, você entra numa sala abaixo de 0 grau com diversas esculturas, incluindo até um tobo-gelo. Por fim, há uma demonstração ao vivo do trabalho. Gostei.

Uma quadra adiante, ingressei no gratuito centro de visitantes Morris Thompson Cultural & Visitor Center. Além de alguns cenários montados representando a natureza e cultura do Alasca, há uma infinidade de informações escritas para consulta. Poderia ficar ali muitas horas. Mas como o dia não é infinito (apesar de quase ser nessa época do ano), continuei pedalando.

No meio da cidade, ainda na margem do Rio Chena, fica o Pioneer Park. Esse é o tipo de parque em que as famílias vão passar os fins de semana. Mas nem por isso deixa de ser uma atração turística. Há uma vila simulada da época da Febre do Ouro, quando houve a fundação da cidade no começo do século passado. Diversos museus também ficam na área – alguns deles gratuitos.

Como havia poucas opções de locais para comer, almocei mais adiante no Big Ray’s Eatery, um pequeno restaurante. Por 10 dólares comi uma sopa apimentada com carne e feijão, e tomei uma batida com mirtilos de verdade. Saborosos. Terminei de cruzar Fairbanks quando cheguei no jardim botânico, ao lado da universidade. O Georgeson Botanical Garden, grátis, não me empolgou muito. São jardins aleatórios com plantas da região, parte delas floridas nessa estação, mas não muito vistosas.

Subi o único morro do município para chegar à universidade e seu museu, que tem o custo de entrada de 14 dólares. Trata das pesquisas realizadas no ambiente polar do estado, com ênfase em natureza e cultura dos povos tradicionais indígenas e esquimós.

Retornei alguns quilômetros, sempre pelas ciclovias da cidade. No outro lado da mesma fica o refúgio de aves aquáticas migratórias Creamer’s Field. É uma área protegida de campo, floresta boreal e banhado, onde há um grande número de aves. Na pressa, vi apenas bandos de gansos canadenses, andorinhas, alguns passarinhos e uma nova ave pra mim: grou-canadiano (Grus canadensis).

Correndo, consegui entrar na loja de equipamentos para atividades ao ar livre REI, onde peguei as comidas liofilizadas e o cartucho de gás. Depois passei no gigante e 24h Walmart pra comprar o resto. Quando voltei à hospedagem, já estava virando o dia.

Total pedalado no dia: 49 km.

3º dia – Fairbanks a Nenana

Descansei bem e comecei a preparar o equipamento para a jornada. Regular o veículo e colocar o mochilão na frente da bicicleta numa cesta deu mais trabalho do que eu pensava. De fato, nunca vi um cicloturista com a carga desse jeito improvisado. Só consegui sair depois das 14h30. Com isso, não tive tempo de aproveitar o festival do sol da meia-noite, que comemorava o solstício de verão (dia mais longo) com apresentações musicais gratuitas.

Até sair de Fairbanks, a cidade com pequena população, mas grande infraestrutura, levei bastante tempo, isso devido à quantidade de cruzamentos com semáforo.

A ciclovia deu lugar ao acostamento com trânsito moderado. Era notável a quantia de motorhomes, mas nenhuma bike passou por mim ao deixar a cidade. Fora da pista, floresta boreal com bétulas e abetos por todos os lados. De animais, só vi dois esquilos e alguns passarinhos.

O que eu não contava era com a quantidade de subidas que esse trecho teria. Como eu não tinha muito tempo a desperdiçar, deu pra cansar bastante. Ao menos as vistas dos vales de rio florestados abaixo eram bonitas.

Com uma média de 17 km/h, mais do que os 15 que eu previa, no final do dia cruzei a ponte e cheguei ao vilarejo histórico de Nenana, sob os pingos de um temporal que estava por vir. Fiquei no Nenana RV Park & Camping. Por 15 dólares, tive direito a um banho quente, um gramado pra minha barraca e até wi-fi!

A chuva passou, jantei um sandubão na mesa coberta enquanto admirava o céu roxo, onde o sol tentava se pôr, e fui dormir.

Total pedalado no dia: 91,5 km.

4º dia – De Nenana para Healy

Acordei algumas vezes devido aos ruídos externos – principalmente do trem, que fazia questão de apitar quando passava perto. Esse trem é parte da história do povoado. Na descoberta de ouro por volta de 1900, Nenana foi um importante entreposto, já que a ferrovia passa ao lado e também há um rio navegável, facilitando a troca de modal. Ainda nessa época surgiu um tipo diferente de loteria, o Ice Classic: ganha quem acerta a data em que o rio descongela no ano.

Hoje em dia o que resta são algumas quadras com casas, um número desproporcional de igrejas, comércio básico, centro de visitantes e um projeto de museu da ferrovia. Esse é apenas uma sala com antiguidades, mas não se paga para entrar. Fora isso, só a beira do rio, cheia de gaivotas e andorinhas.

Deixei Nenana no começo da tarde. Depois do primeiro trecho, estava descrente de que valeria a pena pedalar, mas a parte desse dia me surpreendeu. A vegetação é mais aberta, graças a banhados e pequenos lagos. Assim, é possível ver mais além a paisagem. Ainda, a inclinação é pouca, permitindo uma média de 18 km/h sem me esforçar tanto quanto o dia anterior.

Tá precisando de alguma coisa? A cada algumas dezenas de milhas há algum comércio, hospedagem ou banheiro ao longo da rodovia. De bicho, vi apenas​ duas aves de rapina não identificadas, poucos esquilos e umas tantas lebres.
Ao final da tarde, passei pelo cruzamento da famosa Stampede Road e cheguei a Healy.

Um pouco além, fica o camping que escolhi, atrás de um posto de gasolina com um caro mercado. Aqui tem quase tudo que você precisa comprar, incluindo cartucho de gás pra fogareiro. O nome do lugar é Miner’s Market – uma referência à única mina comercial de carvão ainda em operação no Alasca.

Não achei tão simpático quanto o anterior, mas deu pro gasto. Havia mais gente também, poucos em barraca, mas em seus trailers. De facilidades, quase os mesmos que do camping anterior, exceto que o chão é de terra e a mesa não é coberta. Isso foi um probleminha quando eu estava jantando meu chilli liofilizado e começou a chover. Me recolhi mais cedo, tentando dormir enquanto algum caçador fazia uma chacina pela área.

Total pedalado no dia: 92,5 km.

5º dia – Stampede Road

A chuva quase constante fez uma meleca danada no lado de fora da barraca. Já​ por dentro, nada. Está aprovada a Ascend Nine Mile One. Depois de limpar como pude, comi uns cookies e peguei a bike usada rumo a Stampede Road, eternizada no clássico filme “Na Natureza Selvagem” (Into the Wild). Achava que a estrada estava abandonada, mas o trecho inicial tinha várias construções e estava até mesmo sendo recapeado onde tinha asfalto e aplainado onde era terra ou cascalho. Não esperava também que os 13 km de estrada aberta fossem uma subida bem considerável.

Só foi terminar esse trecho acessível que tudo começou a complicar. Poças infinitas impediam acesso à trilha. Uma dupla que estava em quadriciclo já desistiu na primeira – foi a última vez que vi humanos.

Eu desviava como podia pela tundra alagada que cercava o caminho, junto com uma floresta de coníferas bem esparsa e de baixo porte provavelmente devido ao permafrost, que é o subsolo congelado que impede a profundidade das raízes das árvores.

Na hora das descidas, a bicicleta fazia valer a pena o esforço em empurrá-la. Porém, quando o solo começou a ser de seixos, essa vantagem deixou de existir – tanto porque os pneus podiam furar quanto pela dificuldade em manobrar a bike com a mochila no guidão. Quando, algumas horas depois, rompeu uma parte da cesta e as poças viraram riachos, amarrei o veículo num pinheiro e segui a pé.

Mosquito era o que mais tinha. Se aqui existissem nossas doenças tropicais, eu já teria pegado todas. Não estava mais nem me importando com o frio da água, já evitava os desvios, que eram muitos, e seguia pelos riachos mesmo. Havia marcas de pneus por diversas rotas diferentes, mas por onde eu passei acho difícil que mesmo um 4×4 conseguisse seguir. Além dessas marcas, vi várias vezes pegadas de animais: ursos, alces e lobos.

Quanto aos bichos de verdade, vi lebres logo no começo, uns patos num lago, um roedor cruzando a estrada, aves de pequeno porte diferentes dos outros dias, e por duas vezes uma que não é fácil de ver: tetraz é seu nome. Parecida com uma codorna, só bateu suas asas atrofiadas quando cheguei a uns 5 m dela.

Vinte e quatro quilômetros depois do início da Stampede Road, cheguei ao primeiro rio de verdade, o Savage. Não foi tão selvagem assim; consegui cruzá-lo sem muito esforço e com a água pelo joelho.

Mais 3 km e enfim dei de cara com o temível Rio Teklanika, onde ocorreu a morte de algumas pessoas, como uma suíça há alguns anos, e também responsável pelo impedimento do retorno de Christopher McCandless ao mundo real, que resultou também em seu falecimento. Alimentado pelas geleiras das montanhas mais altas dos EUA, no parque fronteiriço Denali, durante o verão ele fica profundo e com uma correnteza forte, apesar de no inverno ele chegar a congelar.

Usei uma estaca como terceiro apoio e tentei atravessar pelo ponto clássico. Quando estava na metade, com a água já na metade das minhas coxas, a força da correnteza começou a me desequilibrar. Fui sendo jogado passos à jusante. Nessa hora meu coração começou a bater forte. Virei metade do corpo na água, mas com um esforço tremendo, consegui me estabilizar e voltar lentamente à margem.

Meu estojo com câmera e celular tinham molhado, mas felizmente não deixaram de funcionar. Eu saí ensopado, mas ileso. Apesar do susto, continuei por mais alguns quilômetros pela margem do rio em direção à nascente, procurando um ponto mais fácil para a travessia. Eis que um porco-espinho surgiu a minha frente. Arrisquei ligar a câmera molhada e consegui uma foto.

Depois de mais duas tentativas cautelosas frustradas, e com o relógio batendo quase 19h, decidi acampar numa ilhota fluvial entre dois braços do rio e tentar novamente chegar ao Ônibus Mágico cedo da manhã seguinte, quando em teoria o nível estaria mais baixo. Só que fiquei perto demais da água.

Ao urinar, percebi que o líquido estava extremamente amarelo, como se tivessem posto um corante. Acredito que na ânsia de chegar logo eu não tenha bebido água o suficiente. Como isso é um sinal de desidratação, e eu já estava me sentindo um pouco alterado, enchi meu filtro com a água cheia de silte desse rio maldito e mandei ver.

Montei o acampamento com tudo que pude usar de proteção para o caso de um urso-pardo, o mais perigoso animal da região, vir xeretar minha barraca. Deixei toda a comida longe da barraca, fiz uma cerca de árvores caídas, lapidei uma lança e deixei o canivete e o spray de pimenta a pronto uso.

Com o sol baixo, deixei minha roupa a secar, vesti as demais para enfrentar o frio e jantei a comida liofilizada da AlpineAire, minha marca favorita pelo alto teor de proteína e calorias. E fui dormir, tentando não ter pesadelos.

Total caminhado e pedalado do dia: 34,5 km

6º dia – Nenana a Healy

Esse dia foi para esquecer, pois quase tudo deu errado. Dormi pouco, preocupado com ursos- pardos a cada barulho diferente que o vento fazia.

Tentei atravessar o Teklanika em outro trecho e não consegui. Não vi nenhum animal muito interessante pelo caminho. Me perdi e acabei afundando numa várzea do musgo Sphagnum e escalando uma colina inclinada pra voltar.

Passei horas arrumando a cesta da bike que havia quebrado na descida. Por fim, tive que subir um monte o caminho de volta pra Healy, já exausto, faminto e desidratado. Estava tão acabado que comprei minha janta no mercado, apesar de ser bem caro, e fiquei pelo mesmo camping de dois dias atrás.

Total caminhado e pedalado no dia: 35 km.

7º dia – Healy a Denali National Park

Fiz um brunch e segui em direção ao sul. No início há uma leve subida, mas depois quase todo trecho é plano ou de descida. Alguns quilômetros adiante, cheguei ao vale do Rio Nenana. Cruzando uma ponte com uma bela vista, dei uma parada​ no povoado turístico de Denali, que serve aos visitantes do parque. É charmoso e oferece os serviços essenciais, mas não possui mais que algumas quadras. Fui à Denali General Store, onde comprei alimentos bem mais baratos do que na vila anterior. Ali mesmo almocei um sanduíche com suco de laranja – esse originário do Brasil.

Logo mais fica a entrada do Denali National Park, o mais famoso do Alasca, pois é onde fica a maior montanha da América do Norte, com quase 6.200 m. No Wilderness Access Center obtive algumas informações, acessei a internet, paguei 10 dólares pela entrada no parque e mais 15 dólares para uma noite em um camping dentro dele.

Há um serviço de ônibus grátis quase toda hora até o primeiro acampamento interno, o Savage. Enquanto o último do dia não vinha, percorri a pé a trilha ao redor do lago Horseshoe. Nela, vi um picapau e alguns castores reparando suas represas.

Às 20h30, coloquei a bicicleta no ônibus em direção ao Savage. Chegando lá, tive que pedalar até o seguinte, o Sanctuary, o único por perto que ainda havia vagas. Nesse caminho, vi vales e montanhas belíssimas, além de pequenos animais como o lagópode-escocês (Lagopus lagopus), que é a ave símbolo do Alasca.

Esse acampamento, assim como os demais do parque, fica ao longo de um rio, e as únicas instalações são banheiros secos, área para refeições, lixeiras, containers para armazenar alimentos e muitos mosquitos.

Total caminhado e pedalado no dia: 34,5 km.

8º dia –  Denali National Park a Healy

Passei um pouco de frio pela maior altitude desse lugar. E quando estava pronto para sair, começou a chover. Não tive escolha, botei o traje impermeável e pedalei de volta até o centro de visitantes. O começo foi bem difícil, visto que a pista de terra estava ensopada. Mas quando cheguei ao asfalto e parou de chover, valeu o esforço. Primeiro vi um quadrúpede correndo de longe e depois outro comendo folhas de perto: eis o maior cervídeo do mundo, o impressionante alce do Alasca.

Ao chegar ao centro de visitantes, dei uma olhada, comi e decidi apressar o passo para chegar antes do previsto no destino final da viagem.

Para isso, pedalei mais algumas dezenas de milhas até Cantwell. O caminho, cercado de montanhas nevadas e rios, nem pôde ser aproveitado, pois a chuva não deu trégua e o acostamento todo remendado foi um martírio. Já era 21h30 quando cheguei a Cantwell, outro projeto de cidade. Parei na conveniência do posto da rodovia para jantar burritos mexicanos, uma das opções menos caras, e fui para o parque de trailers e camping (Cantwell RV Park), que já deveria estar fechado. Com insistência, consegui ainda por 19 dólares tomar um banho revigorante e passar a noite ali.

Total pedalado no dia: 81,5 km.

9º dia – Healy a Denali National Park

O caminho apresentou paisagens de montanhas muito bonitas, além de lagos. No meio desse cenário, uma das poucas construções, um tipo de iglu moderno abandonado, chamou a atenção.

Nessa hora, passei pela única cicloturista com quem cruzei seguindo também rumo ao sul. Na metade do trajeto do dia, entrei no Denali State Park, onde ficam as melhores vistas da cadeia das mais altas montanhas do país. A partir da rodovia, passei pela entrada de algumas trilhas e áreas de acampamento. Dei uma breve entrada no Beyer’s Lake State Recreation Area. Há informação de interesse para o público e algumas instalações básicas, mas não achei a lagoa tão interessante. Vi apenas alguns patos nela.

De volta à estrada, rodei mais um bocado até o Denali View South, o melhor mirante que encontrei. Infelizmente, o topo do McKinley estava coberto por nuvens, mas ainda assim a iluminação nesse fim de dia estava especial.

Para dormir, escolhi o K’esugi Ken Campground, que fica ali perto, mas subindo um morro. Tive que pagar 20 dólares para um gramado pra minha barraca. No entanto, assim como nos outros campings do parque, não há chuveiros – muito menos internet. Para resolver o problema do banho, aproveitei bem o gel higienizador do banheiro pelo meu corpo. Para acesso à água, há uma bomba manual, mas o poço é tão profundo que são necessárias umas 50 bombeadas pra
sair as primeiras gotas – melhor que nada, pois eu já não tinha mais nada para beber e cozinhar.

Como era sábado, bastante gente passava a noite ali, inclusive fui convidado por uns jovens a me unir em sua fogueira.

Total pedalado no dia: 125 km!

10º dia – Denali State Park a Willow

Ainda pela manhã, caminhei a pequena trilha do K’esugi. Vi uns passarinhos e nada de mais. E no céu ocorria o fenômeno do halo solar.

O percurso foi o mais sofrido da viagem. Acostamento remendado, bicicleta dando sinais de falha, costas, ombros e traseiro extremamente doloridos por causa do assento duro e da mochila, que teve que portar quase metade do peso desde o incidente com a cesta na Stampede Road. Indo ao sul, passei por Trapper Creek, vilarejo em cujas estradas há alta incidência de atropelamentos de alces. Por acaso, vi um desses bichos – felizmente vivo na mata.

O auge do dia foi quando parei num Subway na junção a Talkeetna, onde devorei um sanduíche de 30 cm por 8 dólares. Quando o sol foi pro horizonte, a temperatura caiu e os ventos aumentaram, deixando o trecho final em Willow ainda mais complicado.

Como já era 23h, parei um pouco antes do previsto, na primeira hospedagem ainda aberta, que foi a Pioneer Lodge. Doze dólares pelo espaço da barraca + 4 dólares pelo banho. E ainda tinha wi-fi.

Total pedalado no dia: 104 km.

11º dia – Willow a Anchorage

Para diminuir meu martírio, me desfiz de alguns itens que não poderia levar no avião, como o gás de cozinhar e o spray de pimenta pra urso. Antes de descartá-lo, porém, fui testar. Soltei um jato vermelho no sentido do vento, mas pouco depois senti meu olho arder como se enfiassem uma pimenta inteira das brabas dentro dele! Creio que algumas partículas tenham ficado no ambiente, mas só isso já foi o suficiente pra me deixar uns 10 minutos jogando água nos olhos até passar. Que anta!

Segui pela ciclovia de Willow, depois a vila de Houston, parei pra almoçar na cidade de Wasilla e para jantar na entrada de Anchorage, após passar uma baixada vegetada protegida em Palmer.

Esse dia teve os trechos mais urbanos da viagem. Ao menos isso significou caminhos melhores para a bicicleta. Mas nem por isso deixei de ver natureza. Ao sair do restaurante no fim do dia para a ciclovia de entrada em Anchorage, eis que surgiu à minha frente uma alce descornada e 2 filhotes! A mãe ficou só de olho, enquanto os pequenos saiam ao redor para comer o mato à beira da estrada. Até esqueci da hora tardia enquanto os fotografava bem de perto, preparado pra correr na mais leve ameaça, que não surgiu.

Entrei na cidade grande já à noite, passei por uns lugares não muito agradáveis e finalmente à 1 e meia da madruga, cheguei no hostel Base Camp Anchorage, onde pude enfim dormir em algo que não fosse inflável.

Total pedalado no dia: 127,5 km!

12º dia – Anchorage

Paguei 30 dólares por noite, com direito a um semi-café e um ambiente agradável e limpo – e comida grátis deixada pelos outros. Coincidentemente, reencontrei um ciclista espanhol que havia conhecido no meio do caminho. Peguei novamente na bike, agora sem carga, pra conhecer o centro da cidade e fazer umas compras, já que o Alasca é livre de impostos.

O centro é compacto, bonitinho, com construções quadradas coloridas e pontos históricos, como a ferrovia que deu início à cidade.

Procurei uma lanchonete para provar um prato típico do Alasca. Achei o Sandwich Deck, que tem um hambúrguer de halibute, um peixe dessas águas frias. Apesar do preço quase tão salgado quanto o peixe (12 dólares com acompanhamento), estava bem bom. O peixe em si não possui muito gosto.

Caminhei em sequência pelo Anchorage Museum (15 dólares). Numa construção
desproporcional ficam algumas galerias contendo fotografias, utensílios, história e vídeos dos povos nativos e atuais do Alasca. Essa dos utensílios é a mais legal, pois contém diversos artefatos de cada grupo étnico em exposição. Também há outras salas com assuntos não relacionados, como um centro de experimentação científica.

Também ao lado, fica o Anchorage 5th Avenue Mall. Com algumas lojas conhecidas, fiz umas compras. Depois pedalei o caminho de volta passando pela Westchester Lagoon, um parque com lagoa e muitas aves aquáticas. E antes de retornar ao albergue, comprei mais umas coisinhas no caminho.

13º dia – Anchorage

De manhã, perambulei pela Tony Knowles Coastal Trail, uma trilha que segue pelo litoral oeste de Anchorage, por detrás do aeroporto. É bem agradável para se passear e ter vista da enseada de Cook. Diversos parques estão nesse trajeto, como o que relata sobre o grande terremoto de 1964, com magnitude 9,2.

Mais ao sul, há muitos quarteirões com centro de compras. Usei o tempo que me restou para tanto. Ao voltar ao albergue, vendi a bicicleta para a recepcionista por 40 dólares e fui até o ponto de ônibus. Acontece que ele havia mudado temporariamente de lugar, e até eu chegar ao outro perdi o transporte. Droga. Tive que esperar uma hora até o seguinte, pra poder pagar só 2 dólares. À noite, comi um hambúrguer de salmão (não podia deixar o Alasca sem isso, né?) e voei de United Airlines até Guarulhos.

Total pedalado no dia: 41 km. Total aproximado pedalado no Alaska: 806 km!

14º dia – De volta ao Brasil

Apenas conexões, em Denver e Houston, ainda pela United. Os dois aeroportos possuem wi-fi liberado. Por fim, de Guarulhos a Floripa pela Azul (230 reais, onde encerrou-se minha aventura.

Conclusão

Conforme detalhado, são destinos caros, mas usando os meios que dispus, consegui passar esse tempo com um orçamento justo. O retorno veio na forma das paisagens e animais, além das experiências únicas que vivi durante minha jornada, compensando cada centavo e gota de suor.

Se eu pudesse voltar atrás, faria tudo quase da mesma forma. Apenas deixaria mais tempo para conhecer o Canadá e arranjaria um equipamento ciclístico melhor. No mais, sigo ligado no MD, em busca de novas promoções 😉

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Agradecemos ao leitor Matheus Sovernigo por esse super roteiro, muito útil para quem está planejando uma viagem de aventura – seja ela no Canadá, no Alasca ou em qualquer lugar do mundo! Quer mandar o roteiro de sua viagem para o MD? Entre em contato com a gente pelo e mail convidado@melhoresdestinos.com.br

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