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Caminho de Santiago: roteiro de 30 dias de peregrinação pelo caminho francês

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09/01/2018 às 9:58

Caminho de Santiago: roteiro de 30 dias de peregrinação pelo caminho francês

Todos os anos, milhares de pessoas de várias partes do mundo desembarcam na Europa com um objetivo: peregrinar pelo Caminho de Santiago. São vários os percursos possíveis, com níveis de dificuldade, paisagens e tempo de deslocamento diferentes. Em comum, todas as rotas têm o ponto final: Santiago de Compostela, na Espanha.

Independentemente do percurso escolhido, o Caminho de Santiago é “transformador”. É o que dizem todos os peregrinos que já se aventuraram nesta missão que traz, sobretudo, reflexão e, com ela, o autoconhecimento. E é também o que conta a leitora Luciana Azevedo, que em 30 dias (com uma pausa de 4 dias) percorreu o trajeto entre Saint-Jean-Pied-de-Port, na França, e Santiago de Compostela – o famoso trajeto francês.

Inspire-se no relato de Luciana, que está cheio de dicas sobre quando ir e o que levar, além de impressões pessoais sobre esta viagem, que ela define como “sem volta”. Confira!

Caminho de Santiago de Compostela

Por Luciana Azevedo, jornalista e viajante nas horas vagas

O Caminho de Santiago, sem dúvidas, é transformador. Se você vai encará-lo apenas como um desafio ou uma aventura, tenha certeza que não voltará o mesmo. O peregrino vive e ouve tantas histórias que é impossível ficar imune às reflexões que invadem a mente e o coração. Afinal de contas, após andar quilômetros, não falta tempo para pensar na vida e no outro. É quase uma terapia intensiva e dolorosa. É uma viagem só de ida. Acredite. O Caminho nunca mais sairá de dentro de você.

Cada Caminho é único e cada um faz o seu. Não há regras! O mais tradicional é o Francês que começa em Saint-Jean-Pied-de-Port, no sul da França, e vai até Santiago de Compostela. São cerca de 800 km que passam por castelos, histórias de cavaleiros templários, igrejas encantadoras, vilarejos, plantações de uvas, florestas, pastos, rios. Ainda não sei se o Caminho escolhe a gente ou se a gente escolhe o Caminho. O meu coração optou pelo Francês.

Mas há centenas de outros Caminhos, como o Português, o Primitivo, o Inglês, o Aragonês e o do Norte. Na verdade, dizem que o Caminho começa na casa do peregrino. Aposto nisso. Após minha decisão, mergulhei no universo das trilhas, fiz amizades, mudei minha relação com a natureza. Sem perceber, estava em um caminho “sem volta”.

A história

Seis anos após a crucificação de Cristo, Tiago, o Maior, viajou para pregar o
Cristianismo na Península Ibérica. O apóstolo chegou em Finisterre e propagou o Evangelho na Galícia. Ao voltar para a Palestina, foi decapitado por ordem do rei Herodes Agripa. O corpo do apóstolo foi roubado e transportado por seus discípulos Teodoro e Atanásio para ser enterrado em terras ocidentais conforme a sua vontade.

O Caminho surge com a descoberta do túmulo do apóstolo, no século 9, pelo camponês Pelayo, que viu um “caminho de estrelas” descendo sobre o campo. No século 12, Santiago de Compostela – derivação de “São Tiago dos Campos Estelares” – foi reconhecido pela igreja como um dos três grandes centros cristãos de peregrinação. As outras rotas levam até Roma e Jerusalém.

O sepulcro do apóstolo está exposto na Catedral de Santiago. As peregrinações perderam força por décadas e aumentaram após o Papa João Paulo II visitar Santiago de Compostela, em 1982, e a publicação do livro O Diário de um Mago, de Paulo Coelho, em 1988.

Preparação

Musculação é a melhor atividade para quem vai fazer o Caminho. O peregrino precisa fortalecer as pernas e as costas, uma vez que vai encarar centenas de quilômetros com a “casa” (mochila) nas costas. Para quem enfrentar problemas de saúde, há vários serviços de transporte de mochila para o andarilho aliviar as dores. O valor varia entre cinco e três euros. Não é vergonha nenhuma poupar o corpo e andar mais “leve”!

Credencial do Peregrino

A Credencial do Peregrino é praticamente o passaporte dos peregrinos. Você pode comprá-la na Associação Brasileira dos Amigos dos Caminhos de Santiago (AACS) ou no exterior. No Brasil, custa R$ 20 e ainda vem a vieira (concha), símbolo da peregrinação. Na Espanha, custa entre 2 a 4 euros. Em cada igreja, bar e albergue, você pode carimbar a credencial. Isso comprova que você fez o Caminho na hora de pegar a Compostela.

Compostela

A Compostela é o certificado que comprova a realização do Caminho. Para recebê-la, você precisa ter caminhado, no mínimo, 100 km até Santiago. Há outras duas formas de ganhá-la: a cavalo ou de bicicleta. Para ambas, é necessário percorrer 200 km até Santiago. O certificado é gratuito. Além da Compostela, o peregrino pode ter o Certificado de Distância Percorrida, um documento que diz a sua distância percorrida até Santiago. Esse serviço é pago e custa 3 euros. Tudo isso é solicitado na Oficina do Peregrino, que está localizada próxima à Catedral de Santiago.

Quando ir?

A melhor época para fazer o Caminho de Santigo é entre abril e outubro. No entanto, entre julho e a primeira quinzena de agosto, o peregrino enfrenta altas temperaturas e albergues lotados por ser o período de férias na Europa. Não é recomendável percorrer o Caminho no inverno. A neve bloqueia alguns trechos, principalmente, nas regiões de maior altitude, como Pirineus, Foncebadón e O Cebreiro. E, particularmente, Pirineus e O Cebreiro, as etapas mais difíceis do Caminho, são trajetos encantadores.

Como ir?

Para quem faz o trajeto Francês, dá para pegar o avião para Madri. De lá, pode-se ir de trem, avião ou ônibus até Pamplona. De Pamplona até SJPP, há táxi e ônibus. Conheci muitos peregrinos que fizeram o Caminho por etapas. Alguns ainda voltarão para andar outros trechos. Não há regras para escolher a cidade de partida. O peregrino escolhe o trecho que irá andar.

Mochila do peregrino

A mochila tem que ser leve! O aconselhável é carregar até 10% do seu peso. O item mais importante do peregrino é o calçado. Use aquele que melhor se adapta ao pé! Não importa se é tênis ou bota. Outra dica que não deve ser ignorada é o tamanho do calçado. Ele deve ser DOIS números a mais que o seu. Os pés incham e incham muito!

Além disso, o ideal é o calçado ser impermeável, porque você provavelmente pegará chuva por lá. Mochila, chapéu, saco de dormir e roupa são itens que, se você tiver tempo, pode comprar na Espanha. É muito mais barato!

Além da bota ou do tênis, leve uma boa papete ou sandália de trilha. Com certeza, você precisará dar um descanso para os pés e as papetes também são ótimas para andar. Não esqueça de passar vaselina nos pés para evitar bolhas e usar meias antibolhas, de trekking. Não se esqueça dos remédios de uso contínuo.

Entre os documentos, passaporte válido, seguro viagem Schengen, dinheiro, cartão de crédito e a Credencial do Peregrino. Também leve duas blusas de manga longa com proteção UV, uma blusa UV de manga curta, duas calças de trekking e uma calça leve para dormir, dois tops, quatro calcinhas ou cuecas, dois pares de meias de trekking, um anorak impermeável, um casaco fleece, um casaco térmico e um par de luvas (se não for verão), uma toalha de banho, um saco de dormir, chapéu, poncho, protetor solar, óculos escuros, itens de higiene (sabonete, creme dental, etc), bastão de caminhada e lanterna de cabeça (ou use a lanterna do celular).

O Caminho

O Caminho Francês é geralmente dividido em 33 etapas. A maioria dos guias e aplicativos também faz essa divisão. No entanto, você pode, por exemplo, fazer apenas o trecho de cerca de 100 km entre Sarria e Santiago para ganhar a Compostela. Tudo depende do tempo que o peregrino tem para a jornada e de quantos quilômetros o andarilho pretende realizar por dia. Portanto, a quantidade de dias depende do próprio “santiagueiro”. Por motivos de saúde e estratégicos, pulei o trecho das mesetas, que vai de Burgos até Léon. Meu Caminho foi realizado em 30 dias com quatro paradas para descanso e recuperação. Seguem abaixo as etapas:

Dia 1: Saint-Jean-Pied-de-Port – Roncesvalles (24,2 km)

É o dia mais difícil do Caminho Francês. O peregrino cruza os Pirineus, que fazem a divisa entre França e Espanha. Há a opção de ir pela rota de Napoleão (mais pesada) ou por Valcarlos. O trecho de Napoleão dura cerca de sete horas, mas fiz em onze. A variedade de paisagens encanta e só existe um albergue ao longo do trajeto, que é o de Orisson. De SJPP até o refúgio são três horas de caminhada íngreme. O vento e a chuva não deram trégua e dificultaram um pouco a minha jornada. A recompensa foi dormir em um lindo monastério em Roncesvalles.

Dia 2: Roncesvalles – Zubiri (21,4 km)

Roncesvalles

É um trecho com bastantes descidas e bosques. É encantador! Zubiri é uma cidade pequena, mas aconchegante.

 

 

Dia 3: Zubiri – Pamplona (20,4 km)

O caminho tem muitas pedras e as paisagens são bonitas. Há pastos e animais. A entrada em Pamplona é por uma muralha medieval. Vale a pena conhecer Pamplona. Conhecida pelas festas de São Firmino, que acontecem entre os dias 6 e 14 de julho, a cidade tem a praça de touros como uma de suas atrações principais. A Catedral de Pamplona também merece ser visitada. O local guarda o mausoléu dos reis de Navarra, Carlos III el Noble e Leonor de Trastámara.

Pamplona

Dia 4: Pamplona – Puente la Reina (23,9 km)

O principal atrativo do trajeto é o Alto do Perdão. Lá, tem uma escultura com todos os tipos de peregrinos para mostrar que o Caminho é de todos. A paisagem é incrível. Dá para ver Pamplona e os Pirineus.

Puente la Reina

A descida é um pouco pesada, mas chegar em Puente la Reina e andar até a Puente de los Peregrinos, que foi construída no século 11 e cruza o Rio Arga, é indescritível. Nessa ponte, o Caminho Francês e o Aragonês se encontram e os peregrinos seguem uma só rota. Na cidade, tem o Albergue Estrella Guia, da brasileira Nathy. Há alguns albergues brasileiros no Caminho e vale a pena se sentir um pouco “em casa” por lá.

Dia 5: Puente la Reina – Estella (21,6 km)

É uma etapa bonita da região de Navarra. Durante o caminho, há voluntários que montam um espaço e barraquinhas com frutas, pães, sucos e outros itens para os peregrinos descansarem e pagarem a comida com o donativo. Nesse trecho, o espanhol Ivan, de 28 anos, está construindo um espaço cultural e recuperando uma calçada romana.

Dia 6: Estella – Los Arcos (21,3 km)

O mais divertido nesse dia é beber vinho de graça na Bodegas Irache, que existe desde 1891! O andarilho pode encher a garrafinha de vinho ou de água nas torneiras do local. O peregrino também tem que ficar atento ao último trecho dessa etapa, porque são 12 km sem bar e fontes d’água.

Dia 7: Los Arcos – Logroño (27,6 km)

Logroño é a capital e a primeira cidade do Caminho da região de La Rioja. Essa área é a mais famosa produtora de vinhos da Espanha. Há muitas parreiras pelo Caminho. Uma das cidades charmosas desse trecho é Viana. Vale a pena dar uma voltinha por lá.

Dia 8: Logroño – Nájera (29 km)

Etapa com muito asfalto, sol e barulho de carros. Nessas horas, uma boa música salva o peregrino. Não se esqueça do fone de ouvido! No entanto, Nájera é encantadora e tem o imperdível Monastério de Santa María la Real. O local foi fundado em 1052 pelo rei Don García Sanchez III, após ele ter encontrado no terreno uma estátua da Virgem Maria.

Dia 9: Nájera – Santo Domingo de la Calzada (20,7 km)

O trecho é árido, mas Santo Domingo de la Calzada salva o dia! Lá aconteceu o milagre do galo e da galinha. Diz a lenda que o jovem peregrino Hugonell, no século 15, estava acompanhado dos pais e recusou o amor de uma moça. Por vingança, ela o acusou de roubo e ele foi condenado à forca. Entretanto, ele não morreu e os pais do jovem procuraram o juiz da cidade para que o rapaz fosse liberado. Incrédulo, ele disse “solto vosso filho quando este galo e esta galinha cantarem novamente!”. As aves saltaram do prato e começaram a cantar. Por conta dessa história, há uma galinha e um galo dentro da igreja de Santo Domingo de la Calzada. Quando eles cantam é sinal de sorte!

Dia 10: Santo Domingo de la Calzada – Belorado (22 km)

Mais um dia árido. O peregrino deixa La Rioja para entrar na comunidade autônoma de Castilla y León.

Dia 11: Belorado – Agés (27,5 km) 

Muitos peregrinos andam de Belorado até San Juan de Ortega. Mas só tem um monastério e um bar em San Juan de Ortega. Agés é um povoado depois de Ortega e tem um pouco mais de estrutura. Vale a pena andar mais 3,5 km.

Dia 12: Agés – Burgos (27 km)

A energia do Caminho parece vibrar ainda mais forte próximo a Burgos. Essa etapa tem uma grande variação de paisagens. Não vá pela estrada até Burgos. Ande um pouco mais e contemple um trecho com cenários bucólicos. A Catedral de Burgos é um show à parte. Com várias capelas, ela guarda relíquias dos séculos 14, 15 e 18. Burgos é uma cidade grande e tem outras atrações imperdíveis como o Castelo de Burgos, que foi construído no ano 884, e o Mosteiro de Las Huelgas, fundado em 1187 pelo rei Afonso VIII de Castela.

Dia 13: Burgos – León (178 km)

A etapa das mesetas começa a partir de Burgos e vai até León. O trecho passa por cidades como Castrojeriz e Carrión de los Condes. O trajeto é praticamente plano e a paisagem é quase a mesma. Fiz essa parte de trem por motivos de saúde.

Dia 14: León – Valverde de la Virgen (11 km)

É um pedaço chato por ser praticamente na beira do asfalto.

Dia 15: Valverde de la Virgen – Hospital de Órbigo (20 km)

O trecho volta a ficar interessante e bonito próximo a Hospital de Órbigo. O povoado tem uma das pontes medievais mais famosas do Caminho.

Hospital de Órbigo

Dia 16: Hospital de Órbigo – Astorga (16,5 km)

Nesse dia, pare na tenda do ex-empresário Davi, de 42 anos. Ele se tornou peregrino voluntário, vive no Caminho e dá conselhos sobre a vida e a peregrinação. A Catedral de Astorga e o Palácio Episcopal de Astorga, ou Palácio de Gaudí, são atrações imperdíveis. A obra do arquiteto espanhol é espetacular!

Dia 17: Astorga – Rabanal del Camino (20,2 km)

Trecho árido, mas bonito. Nessa rota existe o famoso Bar do Cowboy. O dono do estabelecimento é conhecido por ser mal-humorado. Já em Rabanal del Camino acontece uma missa especial de canto gregoriano.

Dia 18: Rabanal del Camino – El Acebo de San Miguel (16,8km)

Um dos marcos do Caminho se encontra nessa etapa. Lá, está a Cruz de Ferro, onde os peregrinos deixam suas pedras aos pés da cruz, o que também representa o peso do passado e do que ficou para trás. É o ponto mais alto de toda a rota. São 1.490 metros de altitude. É pura emoção!

Dia 19: El Acebo de San Miguel – Ponferrada (15,6 km)

Após um sobe e desce, chega-se a Ponferrada. A cidade tem um Castelo Medieval. Construído entre os séculos 12 e 15, é o castelo mais importante da Ordem dos Templários e o maior da Europa. O local tem biblioteca, museu e um visual incrível de toda cidade.

Dia 20: Ponferrada – Villafranca del Bierzo (24,2 km)

É um dos trechos cinematográficos do Caminho com caminhos em meio a floresta. Em Villafranca del Bierzo tem um Castelo e a famosa Porta do Perdão na igreja românica de Santiago. Antigamente, o peregrino, que por motivo de saúde não conseguisse ir até Santiago, podia passar por essa porta e receber os mesmos privilégios dos peregrinos que chegavam em Santiago de Compostela.

Dia 21: Villafranca del Bierzo – O Cebreiro (30 km)

Esse é o segundo dia mais difícil do Caminho Francês. Os últimos 12 km são
desafiadores. É uma subida forte e íngreme de tirar o fôlego! No entanto, é um caminho incrível e mágico. Foi em O Cebreiro que aconteceu o milagre do pão e do vinho no século 13. Durante um forte temporal, o sacerdote achava que ninguém iria à missa quando um camponês entrou na igreja. Ao vê-lo, o sacerdote disse: “Como vem este homem debaixo desta tempestade, cansado, apenas para ver um pouco de pão e vinho!”.

No momento da consagração, o pão e vinho converteram-se em carne e sangue. Ao saberem do milagre, os Reis Católicos da Espanha doaram o relicário que se encontra junto ao cálice na igreja de O Cebreiro. Lá, também estão os restos mortais do sacerdote e do camponês.

Dia 22: O Cebreiro – A Balsa (22,7 km)

O Cebreiro pertence à região da Galícia. A partir da aldeia, tudo fica mais verde. O Caminho se torna espetacular. É uma área com mais árvores e florestas.

Dia 23: A Balsa – Ferreiros (28,8 km)

A temperatura cai um pouco mais e os campos verdes se destacam.

Dia 24: Ferreiros – Palas de Rei (34,1 km)

Sarria está nesse trecho. Muitos peregrinos começam o Caminho nesta cidade. De lá até Santiago de Compostela dá pouco mais de 100 km. Também se destaca a cidade de Portomarín com sua Ponte Romana erguida em 1112.

Dia 25: Palas de Rei – Arzúa (28,5 km)

A parada de almoço obrigatória nesse dia é em Melide. Os espanhóis afirmam que é a cidade que tem o polvo mais gostoso do país. A iguaria é deliciosa!

Dia 26: Arzúa – Lavacolla (28,8 km)

O peregrino passa por muitos bosques. É uma etapa sensacional! O coração já começa a disparar porque a cidade está muito próxima de Santiago.

Dia 27: Lavacolla – Santiago de Compostela (12 km)

Não é um trecho bonito, mas a ansiedade da chegada a Santiago supera qualquer asfalto. Quando você entra na Praça do Obradoiro, a sensação é estranha. Quase todos os peregrinos se perguntam “e agora?”. No entanto, a emoção volta com tudo na hora da missa! Ver o botafumeiro (incensário tradicional durante a missa) e dar aquele abraço em Santiago, que zela por todos nós, é indescritível.

Finisterre (88,2 km de Santiago)
Alguns peregrinos não terminam o Caminho em Santiago e seguem até Finisterre, local de chegada do apóstolo Tiago na Península Ibérica. Lá, em frente ao Oceano Atlântico, alguns “santiagueiros” queimam suas roupas (o que não é permitido). O gesto simboliza a despedida dos antigos hábitos e o início de uma nova vida. Para quem não tem tempo, dá para ir até Finisterre de excursão, táxi ou ônibus.

Rotina e alimentação

Os albergues municipais e paroquiais fecham às 22h e, geralmente, apagam as luzes nesse horário. Se você não estiver dentro do albergue, corre o risco ficar do lado de fora. O peregrino tem que deixar o local entre 7h30 e 8h. O andarilho é literalmente expulso após esse horário. Muitos começam a caminhar entre 7h e 8h. Por mais que você durma em albergues privados ou hotéis, certamente não vai querer fritar no sol de meio dia. É duro!

A água é potável em praticamente todas as torneiras e você só fica com sede ou fome se não planejar as distâncias entre as cidades. Com exceção dos Pirineus, que só tem o albergue de Orisson e talvez um ou dois trailers, você sempre encontra um bar. Para comer, todos podem apreciar o menu do peregrino. Prepare o estômago! É muita comida! Por cerca de 10 euros, você come pãezinhos, prato de entrada, prato principal, sobremesa e escolhe vinho ou água para beber. E, pasme, tem lugares que colocam a garrafa de vinho inteira na mesa. É por isso que todo peregrino diz que o Caminho é feito de pão e vinho!

Fique atento para o horário da sesta, o tradicional sono durante o dia na Espanha. Tudo fecha entre 14h e 16h.  E não deixe de provar “bocadillos e tapas” (sanduíches) espanhóis. São deliciosos!

Quanto custa?

A média total é de 35 euros por dia, mas leve um dinheiro extra. É bem provável que você tenha gastos com farmácia ou albergue privado.

Onde ficar?

Ao longo do Caminho, você passa por muitos povoados, vilas e cidades. Há vários
aplicativos de celular que mostram os trechos onde há hospedagem, bares, restaurantes e pontos de ônibus. Isso mesmo! Cansou? Passou mal? Pegue um busão – ou faça a Angélica e vá de táxi!

Os albergues municipais e paroquiais estão em boa parte das cidades e são os locais mais baratos para passar a noite. O preço varia de 5 a 9 euros. Além de conhecer um monte de peregrino e até mesmo dividir o jantar, você economiza. Entretanto, o peregrino dorme em quartos com até cinquenta camas e o som dos roncos pode ser ensurdecedor. Em dia de cansaço extremo, há outras opções de estadias como albergues privados e hotéis.

Lembrancinhas

O peregrino encontra quase tudo em Santiago de Compostela. Não precisa carregar mochila pesada! Lá, por exemplo, é o lugar mais barato para comprar a concha (símbolo dos peregrinos). Elas são vendidas por 1 euro.

Segurança

O peregrino tem que ter cuidados com o passaporte e o dinheiro como em qualquer lugar do mundo.

Dicas

– Assista ao filme “The Way”, de Emilio Esteve, e leia mais sobre o Caminho.
– Respeite o espaço do outro;
– Lave e seque roupas com outros peregrinos. O serviço total custa em torno de 8 euros;
– Participe de jantares compartilhados;
– Às vezes, o Caminho mais longo é o mais bonito ou uma perda de tempo. Siga o coração!;
– Não planeje muito o dia. Tudo muda o tempo todo;
– Converse com o Caminho. Ele responde e é surpreendente;
– Faça paradas, alongamentos, coma, beba água;
– Vá devagar, sinta seu corpo e contemple a vida;
– Dance, chore, cante e sorria!;
– Pratique a “lei do retorno”. Ajude o outro;
– Aceite o novo e saiba dizer “adeus” ao velho;
– Se precisar, pare. O ritmo de cada um é diferente. Não tenha medo de “ficar
sozinho”. Você nunca estará só;
– Desacelere. Seja paciente com você e com o outro.

Caminho de “anjos”

Parece que o “universo” coloca as pessoas certas para falar o que você precisa durante o Caminho. Eu conheci muitos “anjos” durante a minha jornada. Alguns me deram dicas para as tendinites e dores nos joelhos. Outros recitaram poesias ou simplesmente alegraram meu dia com um sorriso. Tiveram até alguns que me fizeram mal. Mas tudo fez sentido no final. Boa parte desses “anjos” são brasileiros que se tornaram a minha família lá. Tenho a certeza que ninguém entra na vida do outro por acaso e esses “anjos” estarão para sempre no meu coração e no meu caminho.

Buen camino!

O Caminho é uma metáfora da vida. Para os olhares atentos, a jornada ensina o peregrino a ser mais humano. Lá, você cultiva o desapego, cuida mais da alma e do corpo, ajuda o outro, abre o coração. Todos usam duas palavras: “buen camino”. Até com dor, as pessoas sorriem e falam essa expressão mágica. Ninguém liga para sua profissão, roupa, mochila, calçado ou cabelo. O peregrino se preocupa com você e deseja que o seu Caminho realmente seja incrível. Seja um “buen camino”!

Para mais informações e fotos, dê uma olhadinha no meu Instagram ou acesse o meu canal no YouTube.

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Agradecemos à leitora Luciana Azevedo por esse inspirador relato de viagem, que com certeza vai ser muito útil para quem está planejando fazer o Caminho de Santiago! Quer mandar o roteiro de sua viagem para o MD? Entre em contato com a gente pelo e-mail convidado@melhoresdestinos.com.br

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